Política

Manente vai ser cavalo
paraguaio outra vez?

DANIEL LIMA - 01/08/2024

A pesquisa do Instituto Paraná publicada na edição de ontem do Diário do Grande ABC estaria indicando ao deputado federal Alex Manente que a eleição de outubro em São Bernardo teria para ele o mesmo destino dos cavalos paraguaios. Manente  largaria mais uma vez na dianteira e em seguida perderia fôlego, velocidade e seria atropelado.

Os números do Instituto Paraná insinuam exatamente isso – e fora da margem de erro ou margem de manobra, ao gosto do freguês.

A edição de primeira página do Diário do Grande ABC enfocou a manutenção da liderança de Alex Manente enquanto na página interna, ao reiterar a liderança, lembrou que Marcelo Lima, Flávia Morando e Luiz Fernando Teixeira dividem o segundo lugar dentro da margem de erro. Na primeira página, apenas Marcelo Lima goza do privilégio editorial do segundo lugar, aparentemente sem adversário.

É verdade que Alex Manente supera os demais concorrentes, considerando-se o espaço estatístico enfatizado pelo instituto de pesquisa. Entretanto, porém e todavia, e confirmando amplas possibilidades da metáfora ou da realidade dos cavalos paraguaios, Alex Manente não suportaria os dois meses que restam até a chegada do primeiro turno.

LARGADA E CHEGADA

Manente bom de largada mas ruim de chegada seria ultrapassado por pelo menos dois dos três concorrentes para valer que tornam a eleição em São Bernardo provavelmente a mais dramática deste século – pelo menos no primeiro turno.

Para começar a entender a situação de tendência historicamente decrescente dos números de Alex Manente basta comparar os dois principais cenários de resultados do Instituto Paraná, em 27 de maio e agora, em 31 de julho.

Quem tem intimidade com pesquisas eleitorais sabe que a linha do tempo é a linha do bom juízo, quando não a linha do juízo final. Dados isolados do tempo pesquisado estão sujeitos a interpretações muitas vezes insustentáveis, porque a numeralha seguinte de dados geralmente cristaliza o processo de avanço, não de estancamento do calendário.          

QUEDA DUPLA

Nesses praticamente 60 dias que separam as duas rodadas de pesquisas do Instituto Paraná, Alex Manente perdeu tanto individualmente quanto no coletivo ante adversários  na participação relativa no gosto do eleitorado.

Pessoalmente, caiu de 34,0% em maio para 28,9% agora. Uma diferença de 5,1 pontos percentuais. O limite de margem de erro é de 3,7 pontos.

Já na soma dos números atribuídos aos demais concorrentes Marcelo Lima, Flávia Morando e  Fernando Teixeira, passou-se de 50,0% para 55,0% -- também fora da margem de erro.

Trocando em miúdos: entre o fim de maio e o fim de julho, o deputado federal viu a liderança estreitar-se em relação a todos os demais fortes competidores. Marcelo Lima, Flávia Morando e Luiz Fernando Teixeira estão tecnicamente empatados com 20,3%, 18,6% e 16,1% – na ordem nomeada.

Temos, portanto, um forrobodó numérico que provavelmente levará os adversários de Alex Manente a apertarem o cinto da competitividade. E todos jogam em casa, enquanto Alex Manente é mais ou menos o que se passa com o Grêmio de Porto Alegre no Campeonato Brasileiro, depois dos estragos climáticos no Rio Grande do Sul – joga fora de casa já faz muito tempo. Vou explicar mais abaixo porque Alex Manente é um Grêmio no mando de jogos.

MARCHA DOS NÚMEROS

A desconfiança de que Alex Manente seria mesmo um cavalo paraguaio não pode ser minimizada, embora possivelmente venha a utilizar para o cargo de companheiro de chapa um símbolo extraterritorial do bolsonarismo, no caso Paulo Chuchu, na tentativa de conquistar a classe média. Manente possivelmente não resistiria se os indicadores detectados não forem um sopro que se dissipe tanto quanto chegou.

Entre a pesquisa de maio e a de julho, quem mais evoluiu foi Marcelo Lima, mas mesmo assim dentro da margem de erro. Ex-vice-prefeito e ex-deputado federal que teve a eleição estrangulada pela Justiça Eleitoral por causa de troca supostamente ilegal de partido, Marcelo Lima passou no período de 18,10% para 20,3%. Flávia Morando saiu de 18,5% para 18,6% e Luiz Fernando Teixeira de 13,4% para 16,1%.

O possível fenômeno de Alex Manente fixar a imagem de cavalo paraguaio tem fundamentação estatística e também fática. A memória eleitoral o auxilia na disputa nas primeiras rodadas de pesquisas, porque o cargo de deputado federal e o apoio da mídia durante todo o tempo reforçam a imagem na região, especialmente em São Bernardo.

BAIXA REGIONALIDADE

Mas Manente é um deputado alheio à situação econômica da região. Faz, como a maioria dos deputados, constantes incursões assistencialistas. Como a maioria ou quase totalidade dos deputados. Não conta com estrutura técnica que o torne intimamente preocupado com o futuro regional. Com isso, torna-se vulnerável na hora da corrida final para o cargo de prefeito. Os competidores locais, com atuações locais, têm mais presença na sociedade. Mesmo que também desprezem ou não priorizem pautas econômicas.

Entenderam por que Manente é um Grêmio de Porto Alegre permanente? Ele tem domicilio eleitoral em São Bernardo, tem apoiadores em São Bernardo, tem a mídia toda a seu lado na região mas, entretanto e todavia, não vive para valer a vida econômica e social da região. Portanto, com tudo o que tem como deputado, não tem a força executiva e a influência de quem manda jogos em casa.

No caso desta temporada, o que pode de novo cortar as pernas do deputado filho de um ex-secretário de Obras de São Bernardo é a dureza da disputa. Flávia Morando tem o apoio do tio Orlando Morando e de uma máquina de votos que reflete a melhor Administração entre os três prefeitos eleitos na região em 2016. Paulinho Serra é bom de voto e ruim de reformismo e José Auricchio  é bom de voto mas sem efetividade na Economia.            

MAIS COMPLICAÇÕES

Para complicar a sorte de Alex Manente, a disputa em São Bernardo conta com a ainda vacilante campanha do deputado estadual petista Luiz Fernando Teixeira. A máquina federal e os nomes mais reconhecidos do petismo em São Bernardo, como o presidente Lula da Silva e o ministro Luiz Marinho, além dos metalúrgicos, devem empurrar Luiz Fernando a uma evolução mais acelerada. É candidato forte ao segundo turno. Só não o seria se a imagem desgastada nacionalmente do PT pró-Maduro contaminar a disputa municipal.

E para completar, com uma força que vem da periferia, a mesma periferia que tem o PT como forte sedução de eleitores, Marcelo Lima parece apetrechado para continuar a avançar.

Marcelo Lima é persistente, parece organizado como estrutura partidária e flutua entre crítico suave da gestão de Orlando Morando, da qual foi participante até determinada etapa, e uma abertura de janela estratégica para não se indispor com os demais concorrentes a ponto de queimar o mato de apoios numa eventual rodada final.

ESPAÇO INVADIDO

O eleitorado de Alex Manente na classe média de São Bernardo, que é uma classe média de perfil menos conservador que a de Santo André, encontrará não só a barreira de contenção de Flavia Morando como também do concorrente a vice-prefeito de Luiz Fernando Teixeira, o ex-prefeito William Dib.

Como se observa, é possível que a queda numérica, apesar da manutenção de uma liderança longe de consolidada, já teria acionado o botão de alerta mais que conhecido e letal.  

Alex Manente,  nesse caso, como sempre no passado, terá de -- num eventual segundo turno em que seria barrado do baile -- escolher  quem apoiar para garantir sustentação a nova empreitada como deputado. Não bastasse contar, como todos os deputados federais, com generosos recursos do Fundo Partidário e do Fundo Eleitoral regiamente bancados pelos contribuintes.

Provavelmente para inquietar ainda mais o estafe de Alex Manente, sempre considerando que o nível de competição vai apertar nas próximas semanas e quem tem mais garrafa local para vender tende a avançar no eleitorado, ainda há muitos eleitores sem convicção  consolidada de escolha de candidato.

VOTO VULNERÁVEL

Os números indicaram que nada menos que 66,6% dos eleitores não souberam responder em quem votariam antes da apresentação de um disco com os nomes de todos os candidatos. Ou seja: na pesquisa espontânea, caminhão carregado de convicção, dois terços dos eleitores não souberam responder.

Somente houve avanço nas escolhas com o sistema de voto estimulado. E ainda assim, 15,5% dos entrevistados não souberam, não responderam,  não votariam em nenhum ou prefeririam votar em branco ou nulo. Esse naco pode ser chamado de votos desperdiçados.

Entre votos desperdiçados e votos vulneráveis, ou seja, votos estimulados, tudo indica que muita água de escolhas passará sob a ponte do despertar dos eleitores. E nesse caso, quem joga em casa parece levar vantagem. No caso de São Bernardo, três dos quatro competidores jogam em casa, como foi explicitado.

PROCESSO DISTRIBUTIVO

Como na pesquisa anterior, de maio, o contingente de eleitores que, diante da pergunta típica de voto espontâneo, formavam um batalhão levemente inferior, com 72,8%, talvez já se tenha registrado, agora, em 31 de julho, um processo de distribuição de votos mais volumoso em direção aos outros três concorrentes, justificando-se, portanto, a queda de 5,0 pontos percentuais de Manente diante do próprio Manente e de também 5,0 pontos percentuais de Manente ante os demais competidores.

E olhem que ainda não se tem definição clara do destino dos votos dissidentes do Partido Novo, do candidato Rafael Demarchi. O Partido Novo saiu do controle potencial da candidatura de Alex Manente e migrou para Flávia Morando. Nas eleições de 2020, Rafael Demarchi somou 5,1% dos votos. É pouco, mas numa disputa que passa pela perspectiva de estreitamento, pode ser que faça a diferença entre quem chegaria ou não ao segundo turno.



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