Política

Seis armas de Zacarias
que tiram sono do Paço

DANIEL LIMA - 20/08/2024

O Paço de André perde o sono a cada dia que passa com a possibilidade de Luiz Zacarias se tornar candidato suficientemente competitivo a ponto de ir para o segundo turno com Gilvan Júnior. Essa seria uma finalíssima do barulho de uma botafogada já consumada.

Que Gilvan vai para o segundo turno não há dúvida que vai, porque a maquinaria e a vizinhança do Paço apuram a artilharia. O problema do Paço é ter a companhia indesejável de Zacarias no segundo turno.

Zacarias no segundo turno seria um desastre. Contrariaria a expectativa de confirmar uma vitória que é dada como certa se o adversário for qualquer outro, a petista Bete Siraque ou o alckmista Eduardo Leite. A centro-esquerda e a esquerda de Santo André seriam supostamente escanteadas pelo eleitorado num processo que acrescentaria porções estadualizadas e federalizadas à disputa final.

Vou relacionar os seis fatores que tiram o sono para valer do candidato do Paço de Santo André e que são os motivos centrais para barrar Zacarias do baile, seja por qualquer método se aplique. E qualquer método tem nome e sobrenome de uma barbeiragem de campanha de Luiz Zacarias: Cine Lyra, em Paranapiacaba.

TRIBUNAL ELEITORAL

Como se sabe, aquele episódio não reúne gravidade alguma sob o ponto de vista estritamente técnico, de conteúdo jurídico, mas abre a porta e a janela a especulações que desgastam a imagem de Zacarias e pode levar a tentativa de eliminação do candidato à vertente de interpretação política.

Como se sabe, os tribunais eleitorais não são uma ciência exata. Estão mais para alguma coisa que, se fizer uma analogia,  é possível que tenha de prestar contas a justiceiros. Neste País de democracia exemplar tudo pode acontecer.

Veja os seis pontos observados, monitorados e sob a mira do grupo do prefeito Paulinho Serra,  que poderão decidir a sorte de Zacarias no primeiro turno e, mais ainda, em caso de ultrapassagem da barreira que reúne quatro candidatos competitivos, levá-lo a um segundo turno turbinadíssimo. 

1. FATOR VICE-PREFEITO.

2. FATOR DESCARTE.

3. FATOR TUCANATO.

4. FATOR NÚMERO 22.

5. FATOR VERDE-AMARELO.

6. FATOR POLARIZAÇÃO. 

Agora que o leitor que também é eleitor quando não torcedor tem a curiosidade contemplada nos enunciados, vamos passar a breves explicações.

1.FATOR VICE-PREFEITO

Não é pouca coisa ser vice-prefeito durante oito anos de um prefeito bem avaliado. A população adora varejismo e a proteção midiática é provavelmente a mais vigorosa na história de Santo André. A canonização de Paulinho Serra é fato ultrajante na praça de um território em chamas econômicas e sociais.

Zacarias, para desgosto do Paço Municipal, capitalizou e usufrui de parte da popularidade de Paulinho Serra. Não se tem ideia do peso desse benefício, mas seria tolice descartar o ganho. Tanto é que, entre as premissas de Gilvan Júnior, candidato excessivamente tutelado, está a explicitação massiva do “meu prefeito” como principal cabo eleitoral. Zacarias não usa a mesma frase. Usa jeitinho próprio, com fraseologia própria. Mais criativa que a utilizada à exaustação por Gilvan Júnior. 

2. FATOR DESCARTE 

Ao ser barrado do baile da indicação para concorrer pela situação, porque, segundo o prefeito Paulinho Serra,  é um teco-teco não um avião de verdade, Luiz Zacarias ganhou musculatura no eleitorado que despreza humilhação pública.

Não se trata de coitadismo, mas do inverso disso. Ou alguém tem dúvidas de que não pode ser considerado um inútil, ou quase isso, quem sempre esteve ao lado do prefeito tão bem avaliado?

Será que Zacarias não teria méritos suficientes para, mesmo descartado pelo Paço da contenda de outubro, ser respeitado como gente num contexto de parceria até então? O Paço atropelou Luiz Zacarias sem dó nem piedade. Tudo publicamente. Há certos limites de relacionamentos tanto públicos quanto privados que não podem prescindir de humanismo. A mercantilização da política assusta o eleitorado mais sensível depois do choque anafilático-social da Covid. 

3. FATOR TUCANATO

O candidato do Paço é tucano e tucano em Santo André, como na maioria dos municípios brasileiros, é material pouco utilizado nas eleições que se aproximam, como o foi na disputa pela presidência da República e para o governo do Estado em 2022.

A polarização entre direita e esquerda acabou com a política consagrada do “em cima do muro” dos tucanos. O ex-governador João Doria foi companhia do prefeito Paulinho Serra durante muito tempo, até que caiu em desgraça.

Paulinho Serra também é tucano e carrega a fama mais que justa de encantar-se com o PT a partir das eleições de 2016. Caciques locais  do partido traíram o então prefeito candidato à reeleição, Carlos Grana, e reforçaram a campanha do, durante vários meses, secretário da gestão petista na área de mobilidade urbana.  

A imagem de Paulinho Serra e de Gilvan Júnior como tucanos também tem peso negativo na disputa de outubro. Desde que explorada. E é isso que teme o Paço Municipal.

4. FATOR NÚMERO 22

O número identificador do partido do até outro dia presidente da República e que segue sendo o político mais presencialmente popular do País turbina as urnas eleitorais de Luiz Zacarias no campo da direita, roubando potencialmente o estoque de votos do candidato da situação, como se a propagação do tucanato não fosse suficiente.

Por enquanto, Zacarias tem utilizado pouco o número 22 como sinônimo visual de candidatura, mas já se fazem projeções de que a massificação permitiria ganho em escala ainda a ser mensurado. Certo mesmo é que o 22 de Jair Bolsonaro colocaria Zacarias mais próximo do eleitorado conservador de Santo André. 

5. FATOR VERDE-AMARELO

Embora tenha parentesco direto com o fator número-22, as cores verde e amarela do partido de Luiz Zacarias identificam ou fortalecem a aproximação do candidato na reta de chegada das urnas eletrônicas. O número 22 identifica Zacarias com o ex-presidente Jair Bolsonaro. O verde-amarelo é mais amplo, porque abarca a direita mais ao centro e, portanto, menos radicalizada. Convém lembrar que o eleitorado conservador de Santo André é historicamente maior que o eleitorado avermelhado.

Só houve uma quebra dessa tradição durante o período em que Celso Daniel, depois de muita desconfiança, conquistou a classe média convencional, e mesmo assim com reservas de parte desse eleitorado.

Verde-amarelo reforça a candidatura de Zacarias como herdeiro natural do potencial de votos do eleitorado conservador.

Quem acha que é pouco, imagine se com a máquina na mão e a proteção midiática Gilvan Júnior contasse também com o verde-amarelo como indução ao voto? Se para Gilvan seria um estrondo ao desequilíbrio com possibilidades de matar o jogo no primeiro turno, com Zacarias é um empurrão e tanto rumo à competitividade eleitoral. Gilvan Júnior sonha com Zacarias fora do segundo turno porque não restaria aos conservadores  alternativa senão o voto descartável ou embarcar na canoa do indicado do grupo de Paulinho Serra.

6. FATOR POLARIZAÇÃO

Gilvan Júnior disse na sabatina do UOL que Santo André não terá espaço à polarização entre direita e esquerda. Eu faria o mesmo se fosse o candidato do Paço. Gilvan Júnior sabe que haverá sim ingredientes de polarização ainda pouco mensuráveis entre conservadores de direita e esquerdistas avermelhados em Santo André.

Gilvan Júnior e seus marqueteiros sabem que existe pouco espaço a quem estiver ocupando a zona intermediária, por melhor que aparentemente seja a imagem no caso do vereador Eduardo Leite.

A polarização que influenciará o voto no segundo turno, não se sabendo, repito, até que ponto de sensibilização, só se tornaria preocupação inquietante ao Paço no caso de Zacarias estar na disputa. Qualquer outro candidato proporcionaria uma polarização menos complicada para o candidato do Paço. Polarização é a estadualização e a federalização eleitoral. Sem Zacarias, o governador Tarcísio de Freitas poderia ser um reforço considerável a Gilvan Júnior. Nesse caso, o candidato do Paço ficaria feliz com a polarização negada agora. O que só  confirmaria o risco do fator Zacarias na disputa.



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