Política

PESQUISAS ELEITORAIS
ALÉM DOS NÚMEROS (7)

DANIEL LIMA - 10/09/2024

Se você tem interesse verdadeiro em conhecer a política regional de sete pedaços disformes do que no passado era a integralidade territorial, econômica e social da Cidade de João Ramalho, então se dedique a esse novo capítulo da série que tem por objetivo mostrar que pesquisas eleitorais são um amontado de interesses prevalecentemente contraditórios e manipulados.

Decidi juntar cinco textos que publiquei na então newsletters CapitalSocial e na revista de papel LivreMercado, relativos às disputas municipais de 2012 na região.

Posso garantir que os textos, independentemente de juízo de valor estilístico, são imperdíveis. O ajuntamento em ordem cronológica do movimento das pedras eleitorais na região resulta em produto final inédito e imperdível mesmo.

Você não vai encontrar nada semelhante em qualquer mídia da região. Terá à disposição notícias, que, como se sabe, são espécie de pão puro no café com leite de manhã. O que você lerá em seguida é muito mais que isso. É um banquete de primeira classe como produto de interesse público.

São nada menos que 45 mil caracteres. Caracter é cada letrinha de uma frase. O computador contabiliza também os espaços que separam as palavras. O que são 45 mil caracteres que se seguem? Pegue uma página de jornal em formato padrão, um página inteira, uma página inteira sem anúncio e com apenas uma foto de tamanho igualmente padrão. O que você terá pela frente e que tem tudo a ver com o passado regional e com o futuro que vai chegar corresponde a cinco páginas cheias de informações e análises.

Esta série especial tem as pesquisas eleitorais como centro de atenção jornalística, mas, como se verá novamente adiante, é muito, mas muito mais que isso. Nem poderia ser diferente. Afinal, pesquisas eleitorais são uma combinação de pecados capitais na vida nacional. Pecados que não podem ser barrados de forma autoritária da farra eleitoral, claro. Mas exigem muita atenção dos consumidores de dados.

Divinizar pesquisas eleitorais é uma tremenda bobagem. Considerá-las terraplanismo desclassificatório sempre seletivo é ingenuidade ou idiotice. Afinal, pesquisas eleitorais integram o raio preferencial de quem mexe com  peças do poder.  É um  vale-tudo, portanto.

O passado que recupero nesta série e o presente que observamos nestes dias são a prova provada de que pesquisas eleitorais não são uma missa das nove. Parecem mesmo com zonas de meretrício. E quem paga a conta é a democracia violada. 

 

Aidan, Volpi e Reali estão no mesmo

saco de avaliação popular, diz Diário

 DANIEL LIMA - 27/08/2012

A ideia generalizada de que o prefeito de Santo André, Aidan Ravin, é folgadamente o menos eficiente e o mais suscetível a críticas entre os gestores públicos dos municípios da Província do Grande ABC está completamente deslocada da realidade. Para chegar a essa conclusão basta que a segunda rodada de pesquisas eleitorais do Diário do Grande ABC seja levada a sério. 

Sem adotar uma postura desclassificatória à conclusão do jornal, ouso afirmar, entretanto, que o trabalho do instituto que o Diário do Grande ABC diz ter criado é por demais reticente, para não dizer outra coisa. Acondicionar no mesmo saco avaliativo da população os prefeitos Aidan Ravin, Clóvis Volpi (Ribeirão Pires) e Mário Reali (Diadema) parece demais.  

Por essas e por outras repetiria praticamente tudo o que escrevi quando da primeira rodada, mês passado. Até então, o DGABC Instituto não havia sido anunciado. O foi agora, sem detalhamento algum que possa ser confiável. E pensar que quando estive ali, diretor de Redação, criei um Conselho Editorial com 101 representantes da sociedade exatamente para tratar tudo o que diz respeito à responsabilidade social explícita do jornalismo com absoluta transparência. Mas isso é outra história. 

Vamos ao que interessa (os números sobre as preferências eleitorais ficam para outro dia) de fato sobre o impacto da gestão Aidan Ravin junto ao eleitorado e os comparativos que saltam à inteligência nas pesquisas do Diário. 

Atribuindo-se credibilidade aos dados publicados na edição de ontem, domingo, o prefeito Oswaldo Dias (PT) de Mauá ultrapassa largamente os níveis de rejeição apontados a Aidan Ravin (PTB) em Santo André. E os prefeitos Mário Reali (Diadema) e Clóvis Volpi (Ribeirão Pires) estão tecnicamente empatados com aquele titular de Paço Municipal alvejado já há tempos por inúmeras denúncias de irregularidades (a Máfia do Semasa é a mais reluzente e também, até agora, de resultados mais que complacentes) e por metralhadoras de restrições no campo de gestão. Aidan Ravin, trocando em miúdos, é, sob o olhar jornalístico, espécie de Gení dos prefeitos. 

Considerando-se sempre que a margem de erro divulgada pelo Diário do Grande ABC é de três pontos percentuais (não confundir com três por cento), Aidan Ravin conta com reprovação de 36,5% do eleitorado de Santo André, ante 30,8% de Mário Reali e 37,7% de Clóvis Volpi. Oswaldo Dias atinge 42,8% à frente da Prefeitura de Mauá. 

Rigorosamente, há empate técnico entre Aidan Ravin, Clóvis Volpi e Mário Reali. Basta puxar o índice de Aidan Ravin (os tais três pontos percentuais de margem de erro, para baixo ou para cima) o índice de Mário Reali (ainda os tais três pontos percentuais de margem de erro) para se chegar à conclusão a que este jornalista chegou. 

Na verdade, detesto esse tipo de aplicação numérica, embora os chamados especialistas o defendam. Até o compreendo sob o ponto de vista metodológico, porque tem bases científicas. O problema é o que fazem desse mecanismo em proveito de malandragens analíticas, principalmente em manchetes de jornais. Margem de erro sob avaliação exclusivamente jornalística é uma massa disforme moldada à medida das necessidades e acordos nem sempre republicanos. 

PERSEGUIDO OU SUBESTIMADO? 

Ora, ora, ora, se Aidan Ravin, repito, está no mesmo nível de reprovação popular de Mário Reali e de Clóvis Volpi, das duas uma: ou a mídia move uma ação retaliatória insensata contra o prefeito de Santo André ao execrá-lo permanentemente, enquanto aqueles outros dois prefeitos são quase que olimpicamente esquecidos das mazelas que patrocinariam, ou a pesquisa do Diário do Grande ABC está furada, furadíssima, porque seria incontestável a liderança folgada do volume depreciativo à gestão de Aidan Ravin. 

O que poderia obscurecer a análise exposta seria a desconsideração ao outro lado da moeda da pesquisa, que trata da avaliação positiva, de aprovação, dos três gestores. Haveria diferenças significativas que poderiam amenizar o quadro de similaridade de reprovação apresentado. 

Nada, nadinha, disso ocorre: Aidan Ravin conta com aprovação administrativa de 27,9%, Mário Reali de 32,1% e Clóvis Volpi de 28,6%. Tudo, de novo, absolutamente dentro de margem de erro de três pontos percentuais para cima ou para baixo. Já o petista Oswaldo Dias, campeão de rejeição, é o lanterninha em aprovação, com apenas 18,8%. 

Talvez o critério que pudesse clarear um pouco o cenário de aprovação e de reprovação dos mandatos de Mário Reali, Clóvis Volpi e Aidan Ravin, de modo a retirá-los desse empate triplo, distinguindo-os, seja um dos buracos que o Diário do Grande ABC mantém na matriz da pesquisa: o que significa de fato a avaliação “regular” dos entrevistados? 

Quem está formulando a metodologia da pesquisa do jornal deveria se decidir sobre o desdobramento do conceito de “regular”. Se adotar “regular positivo” e “regular negativo”, definirá com maior exatidão o conceito de “aprovação” e de “reprovação”. Do jeito que está, é impossível sustentar que o trio de prefeitos mais reprovados pelos eleitores o é de fato. 

Enquanto o Diário do Grande ABC não solucionar esse empate (os institutos de pesquisa mais renomados já desdobram o “regular” porque entenderam que havia uma zona cinzenta a complicar as avaliações) qualquer tentativa de ir adiante em termos comparativos pode parecer chutometria. 

De qualquer modo, a rodada número dois da pesquisa do Diário do Grande ABC insiste em abrir um gigantesco buraco de desconfiança nos dois critérios-chave de avaliação dos prefeitos (aprovação e reprovação) que me levam a ficar com os dois pés atrás. Seriam os números de Mário Reali e Clóvis Volpi amplificados em função de alguma distorção ou teria sido beneficiado Aidan Ravin, notoriamente mais atingido por críticas, cujos números seriam então subestimados? 

OSWALDO TRAÍDO 

No caso da rejeição a Oswaldo Dias, talvez e provavelmente a pesquisa do Diário do Grande ABC tenha maior fundamentação. O que teria levado a população de Mauá, em larga escala, a execrar a gestão do petista? Há pontos cruciais que ajudariam a explicar a situação. 

Primeiro, as carências sociais locais e os transtornos orçamentários se entrecruzam como permanentes desafios a quem quer que seja o Administrador de plantão. Segundo, há uma multiplicação de agentes políticos de oposição em busca de espaço que torna Mauá uma selva de votos. Terceiro, a desmoralização da gestão de Oswaldo Dias pelos próprios petistas, candidato Donisete Braga à frente, ao retirá-lo da corrida à reeleição. 

A rejeição a Oswaldo Dias já era elevada (o que é natural naquela arena de múltiplos guerreiros) e se tornou maior ao ter as pernas cortadas pelos próprios companheiros de jornada. Se Donisete Braga imaginava dar um golpe de mestre, as pesquisas parecem não concordar, porque perde feio para a deputada Vanessa Damo, herdeira de ônus e bônus do pai, prefeito até outro dia. 

Escaparam da marcha crítica de reprovação dos eleitores apenas o prefeito de São Caetano, José Auricchio Júnior, e o prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho. Mas também nesse caso a inflexibilidade do conceito “regular” exige cuidados redobrados na formulação de sentenças definitivas. Considerando mais uma vez a margem de erro de três pontos percentuais, Marinho e Auricchio estão tecnicamente empatados no critério de aprovação (58,8% para o petista e 53,8% para o petebista) e também no critério de reprovação do governo (13,9% para Marinho e 15,3% para Auricchio). 

Estava esquecendo, sinceramente, do sétimo pedaço municipal da Província do Grande ABC, a pequenina Rio Grande da Serra, onde o prefeito Kiko Teixeira reina absoluto com 71,6% de aprovação da população, ante 7,3% de reprovação. Sabem o que significam esses números do prefeito tucano para a Economia e o Desenvolvimento Sustentável da Província regional? Nada, absolutamente nada.  Com todo o respeito, mas sem hipocrisia. 

 

Um elefante incomoda em Santo

André, outro incomoda em Diadema

 DANIEL LIMA - 01/10/2012

Li, reli, anotei, analisei e agora desabafo: um elefante passou por Santo André, outro elefante passou por Diadema e ninguém se deu conta. Embora relativize os resultados do instituto que o Diário do Grande ABC diz ter criado e também desconfie da metodologia porque nem mesmo o profissional responsável pelo trabalho é identificado pelo jornal, o que saltou das pesquisas eleitorais divulgadas na última quarta-feira foi um estrondo. 

Mais abaixo, também fico com um pé atrás com os resultados de pesquisas anunciadas ontem pelo jornal ABCD Maior, de vertente assumidamente esquerdista e que circula na região em letras impressas e digitais. 

Sobre as pesquisas do Diário do Grande ABC, a menos de três semanas da disputa eleitoral (as entrevistas foram realizadas, segundo o jornal, a partir do dia 21), nada menos de 47,5% dos eleitores de Santo André e de Diadema não sabiam em quem votar, votariam em branco ou nulo para prefeito. Esses resultados permeiam o critério de voto espontâneo, aquele em que o entrevistador chega para o eleitor e faz a clássica pergunta: em quem pretende votar para prefeito na próxima eleição? 

Apenas nesses dois municípios da Província do Grande ABC deram-se esses apagões. Sabem lá o que é praticamente metade do eleitorado às escuras, sem ter o que responder? E só reagir ante a exibição de um cartão esférico com os nomes de todos os candidatos? E mesmo assim praticamente um terço do eleitorado (27,1%) insistir em dizer que não saberia em quem votar, ou votaria em branco ou nulo, no caso de Santo André e de algo um pouco menos escandaloso que isso, em Diadema?   

O QUE SE PASSA?  

O que se passa com Santo André e com Diadema? A certeza no caso de Santo André é que se trata de um Município em hibernação institucional, vocacionado à vagabundagem geral e irrestrita quando o interesse da sociedade está em jogo. Tudo isso está sendo amplamente exacerbado pelos números ou a pesquisa do Diário do Grande ABC desandou de vez? Acho que a pesquisa, nesse caso, está certa. 

Já quanto a Diadema, os resultados são de assustar, porque se há algo de que aqueles moradores podem se orgulhar é do engajamento político-ideológico, cevado ao longo de mais de duas décadas pelo Partido dos Trabalhadores. 

Será que estaremos vivendo em Diadema algo como a fadiga de material do petismo ou os eleitores estão tão desconfiados que preferiram se omitir ante um intruso pesquisador? Diadema estaria numa fase de desencanto político? 

Quando se contrapõem os números de Santo André e de Diadema aos dos demais da região, sempre no quesito de voto espontâneo, votos nulos e votos em branco, segundo a disposição dos entrevistados, a diferença é expressiva: São Bernardo chegou a 35,3% (26% abaixo da dupla congelada), São Caetano a 24,8% (quase a metade), Mauá a 36%, Ribeirão Pires a 34,8% e Rio Grande da Serra a 25%. 

Talvez tenha sido esse o ponto mais intrigante da pesquisa do Diário, mas há outros que merecem análises. Mas vale a pena insistir na apatia que o trabalho dos entrevistadores detectou. 

A Província do Grande ABC vive mesmo um blecaute de cidadania porque, pode-se falar o que bem entenderem de política, até porque nada provavelmente será exagerado, mas um contingente tão elevado de eleitores à parte do processo eleitoral, mesmo os percentuais mais baixos, é de lascar. Voto espontâneo é voto cristalizado. Voto estimulado sempre está sujeito à chuva e à tempestade.   

PLANTIO GENEROSO 

Quero dizer com isso que, se a pesquisa do Diário do Grande ABC não pisou no tomate metodológico e aplicativo, teremos nesta última semana de ações operacionais um período de extraordinário plantio e portentosa colheita. Os eventuais fluxos e contrafluxos dos números, que apareceriam nas urnas não podem ser tão descartados assim, não é verdade? 

Tudo bem que o sistema de voto estimulado, mesmo sem o grau de fidelidade do voto espontâneo, reúne embocadura à confirmação das manifestações dos eleitores, mas especialistas garantem que fatores que fujam à normalidade podem modificar muita coisa. Entenda-se por fatores que fujam à normalidade a sensibilidade mais aflorada dos eleitores indecisos à assimilação de táticas dos candidatos em busca de confirmações ou reviravoltas. 

Há muitas verdades e muitas bobagens que passam longe da mídia mas chegam aos eleitores em forma de panfletos, publicações apócrifas e outros balangandãs eleitorais. Ainda não apareceu quem seja capaz de medir o impacto de tudo isso, sobretudo em áreas inóspitas à apuração de tendências, como parece o caso da Província nesta temporada. Quem garantiria que em se plantando informações verdadeiras ou falsas numa parte considerável de eleitorado indeciso ou desiludido não seria possível fazer uma boa colheita?   

Aliás, é por essas e outras que as noites e as madrugadas não têm apenas os galos a cantar. Nesse período preparam-se ataques que invadirão as ruas nos dias seguintes. Verdades inconvenientes, mesmo que exageradas, mesmo que anabolizadas por interesses específicos, chegam aos eleitores. Os jornais, principalmente os jornais, não sabem e não divulgam quase nada do que se passa nos bastidores. Mas os eleitores sabem o que se passa nos bastidores.   

MARGEMS MILAGROSAS 

Os institutos de pesquisa, independentemente da seriedade no trato dessa bola de antecipação de resultados, socorrem-se com a esperteza de sempre da chamada margem de erro. Um milagre em matéria de elasticidade, ou seja, de preservação dos interesses em jogo, porque três pontos percentuais para cima e para baixo significam na prática empate técnico, porque quem tem 30% contra 24% pode ter 27% contra 27%, ou também uma diferença de 12 pontos percentuais, porque quem tem 30% pode muito bem ter 33% e quem tem 24% pode na verdade ter apenas 21%. 

Estendi-me tanto nesse assunto que já não tenho mais tempo para escrever sobre outros aspectos da pesquisa do Diário do Grande ABC. Aliás, uma pesquisa que, ao ser publicada, já estava desatualizada. Alguns números, caso de Santo André, estavam mais que derretidos porque saíram das planilhas dos coordenadores do trabalho e saltaram para as páginas do jornal com defasagem de mais de semana. 

Mesmo numa Província sob as trevas de meios de comunicação de massa, tanto tempo assim é condicionante de respeito à interpretação dos dados com a certeza de que já estariam defasados em algum grau. Ou seja, o rango já estava praticamente frio e a publicação apenas o requentou sem avisar o distinto público consumidor. 

PESQUISAS DO ABCD MAIOR 

Já tinha finalizado este texto na noite de domingo em meu escritório residencial quando consulto o site do jornal ABCD Maior e me deparo com duas manchetes. A primeira: "Santo André terá segundo turno entre Aidan e Carlos Grana". A segunda: "Pesquisa aponta vitória de Paulo Pinheiros em S. Caetano". Não vou reproduzir os principais parágrafos porque seria alongar demais o noticiário. Prendo-me aos resultados das duas pesquisas e, principalmente a margem de erro. 

Em Santo André, segundo o jornal, que coloca o resultado como empate técnico, Aidan Ravin vence Carlos Grana por 35,06% a 30,48%. Num hipotético segundo turno, um empate técnico de 44% a 43% para Aidan Ravin. Não apareceu a votação de Raimundo Salles, exceto na pesquisa espontânea, com 5,5% dos votos, ante 26,09% de Aidan Ravin e 19,32% de Carlos Grana. 

O Instituto Opinião assina a pesquisa juntamente com o ABCD Major. Foram entrevistados 502 eleitores. Em São Caetano, com 400 entrevistas, a vantagem de Paulo Pinheiro seria de 46,75% a 33,50% frente a Regina Maura Zetone. 

Tanto num caso quanto no outro, se for levado a ferro e fogo o conceito de margem de erro para cima e para baixo, está tudo devidamente protegido em caso de alguma surpresa, que consistiria na vitória de Aidan Ravin no primeiro turno e na virada de Regina Maura Zetone. 

Simples, simples, porque Aidan Ravin pode ter 39,10% e Carlos Grana apenas 26,44%, ou seja, urna diferença de 12,66 pontos percentuais. O ABCD Maior preferiu a outra versão da margem de erro para decretar que há empate técnico entre os dois principais concorrentes em Santo André: retirou 4,4 pontos percentuais de Aidan Ravin (que cairia para 30,66%) e adicionou 4,4 pontos percentuais aos números de Carlos Grana (que subiria para 34,88%).  

Já em São Caetano, com margem de erro 4,9 pontos percentuais, Paulo Pinheiro cairia para 41,85% e Regina Maura subiria para 38,40%, praticamente empatada ou, em última instância, a uma diferença muito menor do que se apresentam nas manchetes. 

E por essas (pesquisas do Instituto Opinião) e por aquelas (pesquisas do Instituto DGABC) que fico mesmo com os dois pés atrás quando me lanço em busca de resultados junto ao eleitorado. Embora cientificamente haja embasamento à cautela contida na margem de erro, a tropicalização do conceito nos obriga a extremos cuidados. 

 

Diário do Grande ABC erra demais

nas pesquisas eleitorais na Província

 DANIEL LIMA - 09/10/2012

Se o instituto que o Diário do Grande ABC diz ter montado para produzir pesquisas eleitorais nesta temporada fosse uma competição de tiro ao pombo, praticamente todos os pombos estariam leves e soltos, a comemorar a liberdade, a festejar a vida. Numa empreitada voluntarista, que a bem da informação não pode passar em branco, o DGABC Instituto fracassou bombasticamente. Nem mesmo a elasticidade do conceito de margem de erro para cima e para baixo que institutos mais tradicionais e preparados utilizam para evitar vexames públicos salvaria os dados do Diário do Grande ABC.  

Não duvido que o jornal faça uma apologia dos resultados que supostamente previu, porque a mídia, de maneira geral, não necessariamente a mídia provinciana, como é o caso do Diário do Grande ABC e da quase totalidade das publicações regionais, adora levar no bico o público consumidor de informação. Mas nada, convenhamos, resiste à análise fria e isenta dos números. 

Com muito boa vontade, os resultados publicados pelo Diário do Grande ABC na véspera da votação – edição de sábado –apontavam que apenas cinco dos 14 números individuais dos candidatos mais competitivos registraram desvios que não ultrapassaram a margem de erro simples de três pontos percentuais. Outros três concorrentes superaram moderadamente a previsão do Diário enquanto os demais, seis no total, ou seja, quase a metade dos candidatos para valer, registraram nas urnas reais números muito diferentes dos antecipados pelo jornal. 

Quando se passa a outro componente de análise, dos resultados propriamente ditos entre os principais competidores em cada um dos municípios da Província do Grande ABC, apenas São Bernardo e Rio Grande da Serra não superaram a margem de erro. Nos demais, houve discrepâncias impressionantes. 

A conclusão a que chego e pela qual deveria ser remunerado pelo jornal porque estou a fazer o papel de ombudsman sem ter acertado os ponteiros financeiros é que o Diário do Grande ABC precisa repensar a estrutura do instituto que criou, se instituto houver de fato porque o suposto departamento de estudos e análises é tão secreto que o próprio jornal jamais e em tempo algum ousou produzir uma mísera matéria sequer para explicar quem é responsável pelo trabalho, quantos profissionais atuam na retaguarda e no campo de trabalho externo, entre outras informações relevantes porque lida com um bem precioso. 

Ou as pesquisas de opinião viraram uma terra de ninguém, como muitos estão a desconfiar, a industrializar institutos em períodos eleitorais como pães quentes no final da tarde? 

EMBARAÇOS INDIVIDUAIS   

Vamos então aos números individuais, sempre tratando os candidatos sob o conceito de voto válido, ou seja, desconsiderando os votos nulos, os votos em branco e também as abstenções. 

Quem ficou individualmente dentro de um enquadramento de semelhança entre as pesquisas publicadas pelo Diário do Grande ABC e a realidade das urnas foram Aidan Ravin, Luiz Marinho, Alex Manente, Gabriel Maranhão e Claudinho da Geladeira. Nenhum deles superou a três pontos percentuais da banda de margem de erro simples, para cima ou para baixo. 

No caso de Aidan Ravin, prefeito de Santo André, a pesquisa publicada pelo Diário do Grande ABC na edição de sábado, véspera da eleição, apontava para 40,13% dos votos válidos, 2,90 ponto percentual acima dos 37,23% das urnas. 

Já quanto a Luiz Marinho, prefeito reeleito em São Bernardo, a diferença foi de exato um ponto percentual: na pesquisa do Diário o petista apareceu com 64,79% e no dia seguinte, nas urnas, deu 65,79%. Alex Manente, derrotado por Marinho, ficou 1,57 ponto percentual acima das urnas: o Diário lhe atribuiu 32,51% dos votos e o jovem deputado alcançou 30,94%. 

Gabriel Maranhão, eleito prefeito de Rio Grande da Serra com 60,60% dos votos válidos, alcançou na pesquisa do Diário 58,90%; portanto, 1,70 ponto percentual acima do captado pelos pesquisadores. 

Completando o quadro de acertos do DGABC Instituto, Claudinho da Geladeira, petista que perdeu a disputa em Rio Grande da Serra, registrou 37,04% dos votos nas urnas, ante 37, 60% do Diário. Uma diferença pífia de menos 0,56 ponto percentual nas urnas. 

Dois dos três casos de resultados individuais de números levemente fora da margem de erro envolvem os candidatos finalistas do segundo turno em Diadema. O prefeito Mário Reali contava com 50,31% dos votos nas pesquisas do Diário do Grande ABC (o que o colocava, portanto, com um pé na reeleição) mas nas urnas reais caiu para 46,75%. Uma diferença, para menos, de 3,56 pontos percentuais. O adversário do petista, Lauro Michels, chegou a 38,45% na pesquisa do Diário, ante 41,92% nas urnas. Diferença de 3.47 pontos percentuais pró-realidade. 

O terceiro caso é do petista Carlos Grana, em Santo André: mais bem votado ao Paço Municipal, Grana receberia, segundo o Diário, 39,60% dos votos, mas as urnas lhe deram 42,85%. Diferença de 3,25 pontos percentuais. 

Agora vejam os casos de discrepâncias numéricas individuais relativamente acentuadas e bastante acentuadas. 

O candidato eleito em São Caetano, Paulo Pinheiro, obteve nas urnas 6,00 pontos percentuais a mais de votos indicados pela pesquisa do Diário do Grande ABC às vésperas da disputa: ele teria 57,35% dos votos, mas chegou a 63,35%. Adversária de Paulo Pinheiro, Regina Maura Zetone obteve nas urnas menos votos do que nas pesquisas do Diário: o jornal anunciou que ela teria 40,69%, mas houve queda para 34,81%. Diferença de 5,88 pontos percentuais. 

Três casos individuais se situam em algo que poderia ser rotulado de desvios impressionantes dos números do Diário do Grande ABC em relação à verdade das urnas. 

Vanessa Damo obteve 11,22 pontos percentuais de votos a menos do que o traçado pelo Diário: de 45,12% das planilhas dos entrevistadores do jornal, caiu para 33,90% nas urnas. Com o adversário de Vanessa, Donisete Braga, emergiram números graves em termos de distorção, porque foram para menos: enquanto o Diário lhe dava no sábado 31,71% dos votos válidos, no domingo os eleitores o colocaram em primeiro lugar com 38,34%. Diferença de 6,63 pontos percentuais. 

Um pouco mais que isso são os números de Maria Inês Soares, candidata petista derrotada em Ribeirão Pires: ela registrou 27,61% dos votos válidos na pesquisa do Diário do Grande ABC e chegou a 36,85% no dia de votação. Diferença de 9,24 pontos percentuais. 

Completando o circo de horrores individuais, o caso mais grave no enfrentamento entre as pesquisas do Diário do Grande ABC e o comportamento do eleitorado, Saulo Benevides, eleito prefeito em Ribeirão Pires, obteve nas urnas 14,55 pontos percentuais acima do apontado nas pesquisas: de 43,76% previstos pelo jornal, alcançou 58,31% junto ao eleitorado. 

COMPLICAÇÕES AGREGADAS 

Dos sete embates municipais, de números agregados, apenas em duas localidades as pesquisas do Diário do Grande ABC não escorregaram na casca de banana da imprecisão fora da margem de erro suportável. 

O primeiro caso envolve Luiz Marinho e Alex Manente, em São Bernardo. A pesquisa do jornal indicava vitória de Marinho por 64,79% a 32,51%, ou seja, uma diferença de 32,28 pontos percentuais. As urnas ficaram próximas: diferença de 33,28 pontos percentuais, resultado da superioridade de Luiz Marinho por 65,79% a 32,51%. 

Em Rio Grande da Serra deu-se algo semelhante: o Diário apontou vitória de Gabriel Maranhão por 20,70 pontos percentuais de vantagem (57,22% a 36,52%), enquanto as urnas concluíram por 23,58 pontos percentuais (60,60% a 37,04%). 

Nas outras cinco praças regionais o Diário do Grande ABC entrou em conflito com o eleitorado. 

Em Santo André, apontou o jornal que Aidan Ravin contava com vantagem de 0,53 ponto percentual dos votos válidos, diferença entre 40,13% a 39,60% ante Carlos Grana. Como o petista chegou à frente com 5,62 pontos percentuais de vantagem, a diferença foi esticada para 6,15 pontos percentuais (os 5,62 pontos percentuais das urnas mais os 0,53 da pesquisa do Diário). Grana alcançou nas urnas 42,85% dos votos, ante 37,23% de Aidan Ravin. 

Em Diadema, a pesquisa do Diário do Grande ABC apontou que Mário Reali obteria 50,31% dos votos válidos, contra 38,45% de Lauro Michels. Diferença de 11,86 pontos percentuais que caiu, na materialidade das urnas, para 4,83 pontos percentuais, ou seja, 7,03 pontos percentuais de baixa. O resultado real em Diadema foi 46,75% a 41,92% para Mário Reali. 

Em Mauá, os números foram mais robustos, porque a pesquisa do Diário do Grande ABC apontou que Vanessa Damo teria 45,11% dos votos válidos ante 31,39% de Donisete Braga. Um dia depois, urnas abertas, urnas fechadas, Donisete Braga liderou a eleição com 38,34% ante 33,90% da peemedebista. Uma diferença de 17.47 pontos – os 13,72 pontos percentuais favoráveis à Vanessa na pesquisa do Diário mais os 4,44 pontos percentuais favoráveis a Donisete Braga na vida real. 

Completando os votos agregados, em Ribeirão Pires apontava a pesquisa do Diário do Grande ABC que Saulo Benevides ganharia a disputa por 16,15 pontos percentuais de vantagem, fruto de 43,76% dos votos válidos ante 27,61% de Maria Inês Soares. Nas urnas, a diferença subiu para 21,46 pontos percentuais, já que Saulo Benevides carimbou 58,31% ante 36,85% de Maria Inês. Uma diferença de 5,31 pontos percentuais entre a pesquisa e as urnas.  

Quase tudo que produzimos neste texto poderá ser contraditado pela estupidez de quem coloca a margem de erro de três pontos para cima ou para baixo como dispositivo de segurança a contrariedades nas urnas. 

Como já expliquei em outros trabalhos, essa tal margem malandra permite e incentiva que até 12 pontos percentuais de diferença sejam manipulados dentro da argumentação de que os resultados estavam previstos. Uma grande besteira, feita sob medida para quem faz de pesquisas eleitorais um instrumento de marketing de resultados mais que manjados. 

Convém ressaltar, apenas a título explicativo, porque até gente graduadíssima em matemática faz confusão: pontos percentuais são uma coisa, percentagem é outra coisa. Exemplo: a diferença entre a pesquisa do Diário do Grande ABC e as urnas reais em Santo André apontou um fosso de 6,15 pontos percentuais favorável a Carlos Grana, do PT. Percentualmente, a diferença entre o que foi projetado pelo Diário (0,13% pró Aidan) e o que responderam as urnas (13,11% pró- Grana) significa que o candidato petista superou o petebista em 13,24% em relação à pesquisa do Diário. Ou seja: nesse caso, 6,2 pontos percentuais são 13,24%. 

No caso de Mauá, Donisete Braga eliminou uma diferença da pesquisa do jornal de 29,72% favorável a Vanessa Damo e estabeleceu uma vantagem real de 11,58%. Somando-se a desvantagem estatística à vantagem real, chega-se a uma diferença de 41,30%. Que vem a ser, no caso, os tais 17,47 pontos percentuais a separar os dois finalistas da corrida ao Paço Municipal, sempre tendo como suporte a contabilidade do Diário frente às urnas. É um buraco profundo demais. Haja margem de erro de paciência. 

GATO POR LEBRE 

Este texto já havia sido redigido quando recebo o exemplar desta terça-feira do Diário do Grande ABC que, sem surpreender quem conhece o provincianismo regional, estampa em manchete principal de uma das páginas da Editoria de Política: “DGABC Pesquisas perto do TSE”. 

O material é revestido de ampla embromação e meias verdades, quando não de mentiras inteiras, a culminar com declaração patética do diretor de Redação do jornal, Sérgio Vieira. “Demos importante passo ao criar instituto de pesquisa, que já no primeiro teste acertou a grande maioria dos resultados. Isso reforça a credibilidade do Diário e nos dá força para realizarmos o mesmo trabalho no segundo turno”. 

É muito provável que o jovem jornalista não entenda bulhufas de pesquisa eleitoral e pratique em relação à presidência daquele veículo de comunicação um ritual ao qual jamais me submeti naquele cargo durante período suficiente para manter o compromisso de honrar a confiança do distinto público consumidor de informação. 

Não foi, aliás, por outra razão, que criamos e deixamos de legado, entre tantos trabalhos, um Conselho Editorial com 101 representantes da chamada sociedade civil, colocando-os para nos fiscalizar em reuniões de pauta. Tudo não passou de grande desperdício: a instância de representatividade social foi desativada logo após trocarem minha cabeça por favores judiciais.  

 

Instituto Opinião/ABCD Maior

erra mais que Diário em pesquisas

 DANIEL LIMA - 16/10/2012

A parceria entre o Instituto Opinião e o jornal ABCD Maior errou mais que o DGABC Instituto nas pesquisas eleitorais de primeiro turno na Província do Grande ABC. O que parecia impossível, ou seja, superar a baixíssima qualidade investigativa do eleitorado regional do Diário do Grande ABC, acabou por se efetivar. 

O ABCD Maior chegou a levar à manchete de primeira página da edição impressa que Marinho e Reali liquidaram o jogo no primeiro turno em São Bernardo e em Diadema. Mário Reali não chegou lá e vai ter de suar a camisa para vencer o verde Lauro Michels. 

Os erros estatísticos divulgados pelo ABCD Maior com suporte técnico do Instituto Opinião foram gravíssimos. Apenas as disputas em Rio Grande da Serra fugiriam à constatação de que se as premissas valessem como diagnóstico de saúde, muitos pacientes tratados como em plena forma física já estariam mortos e enterrados, enquanto outros descobririam que em vez de bronquite eram portadores de osteoporose. 

A situação mais extraordinariamente fora do esquadrinhamento estatístico traçado pelo Instituto Opinião se deu em Diadema. 

ERROS CRASSOS 

O ABCD Maior publicou que o primeiro turno terminaria com Mário Reali 26,18 pontos percentuais à frente de Lauro Michels. No final, urnas contabilizadas, Reali teve menos 10,66 pontos percentuais dos votos válidos previstos, enquanto Lauro Michels caminhou em sentido contrário, com 10,69 pontos percentuais acima do previsto. Resultado: a diferença real se estreitou a 4,83 pontos percentuais. 

Em segundo lugar no ranking de erros do Instituto Opinião/ABCD Maior ficou a disputa em São Bernardo, entre o petista Luiz Marinho e o jovem Alex Manente. O jornal publicou que a diferença seria de 48,40 pontos percentuais a favor de Marinho, mas as urnas apontaram 34,85. Uma diferença de 13,55 pontos percentuais, ou de 28%. 

Também na disputa em São Caetano o ABCD Maior e o Instituto Opinião se deram mal. De projetados 16,51 pontos percentuais de diferença a favor do peemedebista-petista Paulo Pinheiro, as urnas apontaram distância de 28,54 pontos percentuais. Um crescimento de 12,032 pontos percentuais. 

EM SANTO ANDRÉ 

Em Santo André também se perdeu a dupla formada para antecipar os resultados eleitorais. O petista Carlos Grana ficou 5,90 pontos percentuais atrás do prefeito Aidan Ravin nos números da pesquisa, mas na vida real das urnas venceu por 5,62 pontos percentuais. Uma diferença de 11,52 pontos percentuais. 

Ainda na escala decrescente de quantificação de erros, em Mauá se deu algo semelhante a Santo André: o candidato petista Donisete Braga chegou atrás 4,70 pontos percentuais na pesquisa realizada pelo Instituto Opinião mas ganhou nas urnas com vantagem de 4,44 pontos percentuais. Uma diferença de 9,14. 

ASSIMETRIA MENOR 

Em Ribeirão Pires a assimetria foi menor, de 2,31 pontos percentuais. O vencedor peemedebista teve 21,46 pontos percentuais de vantagem nas urnas ante 19,15 pontos percentuais apontados pela pesquisa. 

Completando o quadro regional, apenas 4,08 pontos percentuais separaram a pesquisa envolvendo os candidatos Gabriel Maranho (tucano) e Claudinho da Geladeira (petista): a pesquisa apontou vantagem de 19,50, mas a distância chegou a 23,58. 

Há um ponto importante para amenizar a intensidade dos equívocos da pesquisa do Instituto Opinião divulgado pelo ABCD Maior, mas que em nenhuma matéria foi ressalvado: foi longo demais o período que separou os trabalhos de campo e as datas da publicação dos resultados nas páginas digitais e depois nas páginas impressas da publicação. Para ser mais preciso, mais de 10 dias de diferença entre os questionamentos aos eleitores e a publicação dos dados. 

LAPSO DE TEMPO 

A pergunta que se faz é simples e direta, até porque esse procedimento é comum na maioria dos acordos entre publicações e institutos de pesquisa: até que ponto interessa ignorar o lapso de tempo para dar eventual sustentação a determinados resultados? 

No caso do ABCD Maior, publicação de centro-esquerda, duas candidaturas de suposta proteção da publicação foram subestimadas, casos de Donisete Braga e de Carlos Grana, enquanto outras duas, de Mário Reali e de Luiz Marinho foram beneficiadas pela fermentação do eleitorado. Em Rio Grande da Serra e em Ribeirão Pires não houve discrepância. Já em São Caetano, território sobre o qual o PT tutelou a candidatura vencedora de Paulo Pinheiro, os números da pesquisa do Instituto Opinião foram subestimados, ou seja, a diferença foi maior do que apontou previamente o ABCD Maior. 

OBSERVAR AS TENDÊNCIAS 

Parece evidente que qualquer desconforto sobre eventual direcionamento dos dados estatísticos coletados pelo Instituto Opinião e publicados pelo ABCD Maior não passaria de especulação. Agora, quanto à qualidade do trabalho está mais que evidenciado a fragilidade investigativa, independentemente até de possível atenuante do lapso de tempo entre prospecção e publicação. 

Afinal, não houve em nenhum Município da Província do Grande ABC qualquer acontecimento extraordinário que alterasse o ritmo de definição de votos para, em uma semana ou pouco mais, instalarem-se tamanhos buracos entre a informalidade das pesquisas e a formalidade das urnas. 

Como as barbeiragens cometidas pelo Instituto Opinião não divergem fortemente das constatadas no trabalho do DGABC Pesquisas, é mais que provável que haja deficiências estruturais, metodológicas e operacionais a trançar as pernas da credibilidade dos dados. Sem contar deficiência adicional de interpretação dos números, à parte as obrigações legais ditadas pela legislação eleitoral. 

RITMO DOS NÚMEROS 

O que exatamente? Está na hora de os institutos de pesquisas (e isso vale para todos, inclusive para os grandões, que andaram errando feio em várias capitais) começarem a analisar a possibilidade de calcular possíveis tendências do eleitorado na reta de chegada das urnas reais levando-se em conta o ritmo do movimento do eleitorado entre a penúltima e a última pesquisa. 

A derrota de Celso Russomanno em São Paulo, por exemplo, se deu exatamente por conta disso, mas os institutos de pesquisa, Datafolha e Ibope, prenderam-se apenas aos números finais da última pesquisa, a algumas horas da votação de verdade. 

 

PT sai vitorioso na Província, mas

alerta em Diadema é inquietante  

 DANIEL LIMA - 29/10/2012

O PT saiu das eleições municipais na Província do Grande ABC com um saldo mais positivo do que em 2008, quando ficou com três das sete prefeituras. Desta vez, além de retomar Santo André e de manter São Bernardo e Mauá, o partido do ex-presidente Lula da Silva contabilizou o sucesso em São Caetano, travestido de PMDB do vereador Paulo Pinheiro. 

Entretanto, o domínio político não foi tão expressivo nas urnas como parece, porque o PT ficou com 51,29% dos votos válidos ante 48,71% dos azulados e assemelhados. 

Já o maior contratempo está localizado em Diadema, onde o controle de 30 anos de uma Prefeitura trocou de lado com a vitória do verde Lauro Michels. Estaria em Diadema o ovo da serpente do esgotamento de políticas públicas do partido voltadas às classes sociais menos favorecidas? 

GRANDE INTERROGAÇÃO 

As vitórias de Carlos Grana em Santo André e de Donisete Braga em Mauá poderiam servir de argumento para a força de lideranças petistas mais estreladas junto ao eleitorado. Além do presidente Lula da Silva, ministros de Estado, como Gilberto Carvalho, Miriam Belchior e Alexandre Padilha, reforçaram as campanhas nas ruas para contrabalançar os estragos do julgamento do mensalão. 

Se for verdade que tudo isso tem peso, a derrota massacrante em Diadema ganha contornos mais dramáticos, porque Lula da Silva também foi às ruas para pedir voto ao derrotado Mário Reali. 

Passadas as comemorações, o melhor a fazer é pensar com seriedade o futuro da Província a partir do domínio político do PT. 

CLUBE AVERMELHADO 

Agora o Clube dos Prefeitos conta com maioria avermelhada, já que além de Luiz Marinho, Carlos Grana e Donisete Braga, a agremiação ganhou o reforço de Paulo Pinheiro, de São Caetano. Com 83% do PIB (Produto Interno Bruto) da região, esses administradores têm tudo para dar dinamismo a uma instituição que raramente saiu da inércia, embora não tenha faltado marketing para vender ilusões. 

Diadema de Lauro Michels, Ribeirão Pires de Saulo Benevides e Rio Grande da Serra de Gabriel Maranhão compõem oposição interna praticamente sem força a eventuais enfrentamentos no Clube dos Prefeitos. 

Resta saber se o PT repetirá os tempos de Celso Daniel, criador e maior incentivador dessa instância de integração regional. Nos primeiros quatro anos de mandato, a maior estrela regional petista, Luiz Marinho, praticamente ignorou o Clube dos Prefeitos. 

APENAS A MINORIA 

Não se pode desconsiderar também no balanço das urnas eletrônicas que a vitória de Carlos Grana não é necessariamente a vitória da maioria em Santo André. Tampouco o seria se o vencedor fosse o prefeito Aidan Ravin. O petista ganhou as eleições, mas apenas uma minoria de eleitores de Santo André o consagrou. De cada 100 votos disponíveis, apenas 36,95 foram endereçados ao PT. O restante votou em Aidan Ravin (31,57) e nada menos que 31,47% optaram por votos em branco, votos nulos ou simplesmente não compareceram aos locais de votação. 

Essa crise de representatividade não tem as digitais exclusivas de Santo André, mas na cidade que ainda lamenta a morte de Celso Daniel os números estão bem acima da média regional e nacional. 

APENAS UM 

Na Província do Grande ABC apenas um prefeito eleito contou com menor contingente de votos relativos que Carlos Grana, sempre considerando o total de eleitores habilitados a votar. Saulo Benevides ganhou em primeiro turno em Ribeirão Pires com 28,17%. 

Bem menos que Luiz Marinho, também vencedor em primeiro turno, em São Bernardo, com 45,50%. Um pouco mais que os 46,23% de Gabriel Maranhão em Rio Grande da Serra, também em primeiro turno. Paulo Pinheiro, em São Caetano, foi o único a superar a barreira de 50% dos votos totais ao chegar à vitória: foram apertados 51,20% em primeiro turno. Lauro Michels ganhou em Diadema com 45,28% do total de votos disponíveis. Um pouco acima dos 40,97% de Donizete Braga em Mauá. 

Os três resultados do segundo turno não podem ser catalogados como surpreendentes. Pesquisas eleitorais indicavam os vencedores, exceto em Mauá, onde o instituto criado pelo Diário do Grande ABC apontava empate técnico a dois dias da disputa. Uma barrigada e tanto, porque o petista ganhou com folga – 57,14% a 42,86% --, resultado de 120.115 votos a 90.098. A diferença de 14,28 pontos percentuais foi extravagante perto do que o jornal projetou – vantagem de Donisete Braga por 50,5% a 49,5%, ou seja, de apenas um ponto percentual. 

ASCENSÃO INTERROMPIDA 

Mesmo acertando a projeção de votos em Santo André, a pesquisa do Instituto Diário não foi precisa ao encaminhar o resultado para possível aperto na contagem final. A diferença de 6,8 pontos percentuais (53,4% a 46,6% para Carlos Grana) apontada nas intenções de votos do Diário do Grande ABC foi praticamente reproduzida na prática das urnas (53,92% a 46,08%), mas a publicação sugeriu no texto e nos gráficos da edição de sábado que o petebista Aidan Ravin estava em processo ascendente, enquanto Carlos Grana estaria em declínio, supostamente por conta da possível participação de Klinger Sousa na campanha de Carlos Grana. 

O petista acumulou 204.594 votos ante 174.815 de Aidan Ravin. Os 15% iniciais de apuração de votos nas zonas eleitorais do centro expandido apontavam vitória esmagadora de Aidan Ravin. Quando as urnas da periferia começaram a ser apuradas, a reviravolta foi inevitável. 

A classe média tradicional de Santo André é antipetista como quase toda São Caetano e como a parte mais nobre da Capital. Isso significa que as medidas estratégicas da cúpula petista da campanha de Carlos Grana não atingiram o volume de votos imaginado nessas áreas. A simplificação de iniciativas que pretendem aproximar o PT dos mais aquinhoados em escolaridade e renda é um obstáculo a ser superado nas eleições ao governo do Estado, por exemplo. Daí o ex-presidente Lula da Silva lançar candidatos com o perfil de Fernando Haddad, novo prefeito de São Paulo, também derrotado de forma contundente em áreas mais conservadoras. 

Em Diadema, onde desmoronou o edifício esquerdista de 30 anos, cujas fundações se iniciaram em 1982 com a vitória do sindicalista Gilson Menezes, a diferença imposta pelo verde Lauro Michels sobre o prefeito Mário Reali foi avassaladora. O placar final de 60,44% (145.084 votos) a 39,56% (94.963 votos) é um enorme ponto de interrogação para os petistas. 

A diferença de 20,88 pontos percentuais foi diagnosticada pela pesquisa do Diário do Grande ABC, que apontava a vitória de Lauro Michels por 59,8% a 40,2% dos votos válidos. A questão que se coloca à mesa política é simples: o modelo petista de administrar um Município com fundas exigências sociais está esgotado ou a derrota se deve a debilidades circunstanciais de um administrador público específico? 

NO BALANÇO DOS VOTOS 

O balanço de votos petistas e antipetistas na região repete o enredo de 2008, com divisão praticamente meio a meio entre os concorrentes nos sete municípios da Província do Grande ABC. Os candidatos petistas obtiveram 706.010 votos ante 670.365 votos dos azulados e assemelhados. Entenda-se azulados e assemelhados tanto os eleitores tucanos quanto os que se aproximam politicamente deles. Foram somados os votos de cada agremiação nos municípios que tiveram apenas o primeiro turno (São Bernardo, São Caetano, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra) e os votos do segundo turno em Santo André, Mauá e Diadema. Em 2008 o PT superou os azulados e assemelhados por apenas 865 votos. 

Os votos destinados a Paulo Pinheiro, em São Caetano, foram remetidos aos azulados e assemelhados por uma razão simples: fosse anunciado como candidato apoiado pelo PT, saindo portanto do armário, provavelmente Paulo Pinheiro teria sido derrotado pela candidata Regina Maura Zetone. 

O resultado deste ano poderia ser mais apertado e aproximar-se do de quatro anos atrás porque os prováveis mais de 20 mil votos de Ednaldo Dedé de Menezes, em Ribeirão Pires, foram considerados inválidos pela Justiça Eleitoral. O candidato foi colhido em delito pela Lei da Ficha Limpa, mas seu nome foi mantido na urna eletrônica. 

O contingente de votos em branco, votos nulos e de eleitores que não compareceram às urnas atingiu 29,72% na Província do Grande ABC, repetindo com números médios acima da média nacional um fenômeno que preocupa quem entende que a representação política expressa nas urnas pode estar em processo de enfraquecimento. 

Em Santo André o desperdício de voto foi mais elevado do que a média regional. Nada menos que 31,47% do eleitorado não votaram em nenhum dos dois finalistas. Quase o mesmo percentual de votos do vencedor Carlos Grana, quando considerado o total de eleitores habilitados no Município.



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