Política

Tudo pelo poder

DANIEL LIMA - 05/09/2004

Não é simples jogo de palavras afirmar que disputa eleitoral é uma guerra. O vale-tudo nos bastidores fere de morte a ética e a moral. Intrigas permeiam aliados e adversários. A luta pelo poder entranha-se em candidaturas embaladas ou abaladas por pesquisas. Há casos crônicos de egocentrismos e divisionismos que retaliam reputações. Muitas vezes se chega às vias de fato.


A eficiência de comando pode explicar a diferença entre vitória e fracasso quando as urnas são abertas e apuradas. Modelos de chefias eleitorais tendem a reproduzir-se em eventuais mandatos conquistados. A metodologia é transposta na plenitude da carga de periculosidade ou responsabilidade que a caracteriza. O risco de desequilíbrios nas relações entre poder executivo e a comunidade como um todo pode ser detectado em detalhes dos bastidores eleitorais. Rompantes de autoritarismo em grupos eleitorais podem se cristalizar como rotina em situações de mando. Principalmente se a sociedade acovardar-se.


Disputa eleitoral não é como futebol em que geralmente um mau treino durante a semana é sucedido por um bom jogo no domingo — fenômeno consagrado pelo antigo craque Didi na máxima de que treino é treino, jogo é jogo. Na política, não existe tempo para a preparação. A partir do início da campanha, o jogo está jogado. A vitória estende a competição para a área político-administrativa. Durante a campanha normalmente não há favorito inquestionável, porque cabeça de juiz e vontade de eleitor não recomendam certezas. Quando se conquista um mandato, o jogo passa a ser outro. Quem ganha tem obrigação de imprimir ritmo de acordo com as demandas sociais e econômicas, menos nos casos de autocratismo explícito.


Compete aos eleitores distinguir entre os competidores quem é capaz de, com equilíbrio e juízo, oferecer as respostas que o mandato eleitoral impõe. A individualidade e o brilho do candidato cedem espaço ao coletivo. A prova dos nove é saber reconhecer se o candidato escolhido consegue opor-se à sanha do séquito de oportunistas. A sintomatologia da fase eleitoral define a prescrição administrativa. Dissociar o perfil de uma ação de outra é subestimar a gênese comportamental dos envolvidos.


A guerra de nervos entre competidores eleitorais embrenha-se na arte de negar todos os eventuais problemas próprios e artificializar ou ampliar os deslizes dos oponentes. É uma torrente de informações e contra-informações. Em muitos casos, essa torrente tenta ultrapassar providenciais barreiras de esterilização informativa erguidas por veículos de comunicação influentes. Quando a onda manipuladora de informações é disseminada por publicações menos nobres, a credibilidade dos autores é incapaz de dobrar a próxima esquina.


O grande risco de uma campanha eleitoral são as defecções internas. Se mantidas sob cuidados especiais, longe da curiosidade da Imprensa, podem ser perfeitamente superadas. Entretanto, vencem as fronteiras, fornecem munição geralmente implacável aos adversários. Se a mídia cumpre a função de divulgá-las, tudo pode piorar. O usual é se pretender quebrar o termômetro de quem deu a notícia, em vez de atacar a temperatura de quem se envolveu nos entreveros. 


Há situações específicas de territorialidade eleitoral que fogem à regra da imprevisibilidade do resultado final. Nesses endereços, por mais que determinados concorrentes acertem todos os passos e aparem todas as arestas, a disputa é desigual. Mesmo que o favorito cometa equívocos, erre os passes, perca pênaltis. São casos excepcionais que confirmam a regra geral de que ganhar eleição é uma guerra de muitas batalhas.


A maioria dos candidatos leva ao pé da letra essa imagem. Alguns chegam a exageros provocativos contra todos que não se alinham a seus desejos.  Fabricam bodes expiatórios e satanizam críticos. Fazem tudo pelo poder. A eles o que interessa de fato é tumultuar, multiplicar versões, desmoralizar todos que se interpõem em seus caminhos.


É por essas e outras que democracia, para eles, é o pior dos regimes — exceto todos os demais.


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