Política

Celso reformista supera
fácil Paulinho populista

DANIEL LIMA - 19/07/2024

Não há termos de comparação. Mais que isso: comparar talvez seja uma heresia. Mas os números e os contextos de dois mandatos incompletos de Celso Daniel, e dois mandatos praticamente inteiros de Paulinho Serra, podem levar a conclusões tão precipitadas quanto enganosas. Os aventureiros estão sempre dispostos a tudo.  

Celso Daniel em cinco anos de dois mandados seguidos foi Melhor de Voto e Melhor de Governo que Paulinho Serra de oito anos de dois mandatos. Melhor não seria exatamente a conclusão mais apropriada. Celso Daniel foi muito melhor.

E para deixar tudo cristalinamente claro ao que vem em seguida, numa escala de zero a 10 pontos, Paulinho Serra não passaria de nota três. Celso Daniel receberia nota nove. Essa é a diferença entre quem faz política no sentido mais imediatista e carreirista e quem faz política reformadora. Celso Daniel foi um prefeito municipal atento e um prefeito regional inigualável. Paulinho Serra é um prefeito dentro dos padrões da velha política.  

MENOS É MAIS

O que você está lendo é apenas um voo panorâmico envolvendo os dois prefeitos. Já escrevi dezenas e dezenas de análises que vão mais à fundo, em várias modalidades temáticas e que, mesmo sem focalizar confrontos diretos entre Celso Daniel e Paulinho Serra, explicam o quanto são diferentes se o futuro de Santo André for observado sem manipulação.  

Celso Daniel e Paulinho Serra, nas últimas sete eleições municipais, foram os únicos a se reelegerem. Mais que isso: ganharam com folga no primeiro turno. Paulinho Serra somou mais votos válidos que Celso Daniel nas respectivas reeleições. Somou mesmo? Não somou. Vou explicar. 

Vejamos o que temos para o almoço de explicações e análises e para o jantar de definições que fogem de qualquer maliciosidade, fake news e tudo o mais que redes sociais e o jornalismo dito profissional costumam praticar em defesa de causas às quais dão a alma, para não dizer outra coisa. São conluios ditados por interesses diversos, menos o comprometimento com a verdade dos fatos.

BALANÇO GERAL

Alguns aspectos que precisam entrar no balanço geral da constatação de que Celso Daniel, além de disparadamente muito mais preparado e qualificado que Paulinho Serra, porque reformista e não assistencialista, porque regionalista, não paroquial, porque estruturante, não epidérmico, também conta com o reconhecimento dos eleitores. Basta não surrar os dados, como alguns o fazem com a maior cara de pau da história.

Relaciono alguns pontos essenciais para que os leitores compreendam o que separa Celso Daniel de Paulinho Serra de modo que, na história da política de Santo André, não se compre gato por lebre:

1. MAIOR VOTAÇÃO.

2. CONTEXTO ECONOMICO.

3. CONTEXTO SOCIAL.

4. POLÍTICA MUNICIPAL.

5. POLÍTICA NACIONAL.

6. CONTEXTO MIDIÁTICO.

7. REALIDADE SOCIOLÓGICA.

8. GESTÃO POLÍTICA.

9. GOVERNANÇA.

10. GOVERNABILIDADE 

Com esse mapeamento temático acho que tudo estaria pronto para o confronto dos dois prefeitos. Mas insisto em reafirmar que não existe a mínima possibilidade de que essa disputa tenha o objetivo básico de estabelecer alguma tipo de similaridade entre os dois prefeitos. Trata-se apenas e exclusivamente de evitar que os números mais palpáveis sejam instrumentalizados exatamente para correlacionarem um e outro sobre o aspecto de qualificação para o cargo.

SEM CONCORRENTE

Não faço essa disputa com o intuito de eventualmente ser traduzido pelos maledicentes como adversário de Paulinho Serra. O confronto com Celso Daniel é aterrorizador a todos que ocuparam o principal gabinete do Paço Municipal desde a redemocratização do País. Principalmente aos que o sucederam. Os antecessores viveram épocas muito especificas, de cofres municipais abarrotados pela industrialização.

Sei que um ou outro fanático e repetitivo vai procurar desclassificar Celso Daniel pela herança de precatórios. É muito pouco. Não faltam prefeitos, governadores e presidentes da República que também colecionaram déficit nessa rubrica ou semelhantes. Os indicadores fiscais após cinco anos de mandatos de Celso Daniel e nos anos seguintes do PT com João Avamileno eram melhores que os atuais. A debacle fiscal de Santo André é uma corrida sem direito a congelamento.

Os sucessores de Celso Daniel não deram conta da conta que ficou pendurada. Paulinho Serra entregou o Semasa sem transparência alguma para a Sabesp para reduzir o custo anual no orçamento. E mesmo assim faltam informações mais esclarecedoras. Mas vamos ao que interessa:

1. MAIOR VOTAÇÃO

É sobre esse indicador que girariam argumentações dogmáticas. Por isso o relacionei como carro-chefe. Paulinho Serra obteve vitória no primeiro turno de 2020 com 76,88% dos votos válidos. Celso Daniel obteve em 2000 com 70,12% dos votos válidos. Então, deu Paulinho Serra e o restante dessa agenda não vale mais nada, por que essa é a questão? Nada disso. A contagem é outra.

Paulinho Serra obteve 46,87% dos votos disponíveis, enquanto Celso Daniel chegou a 51,31%. Um teve mais da metade dos eleitores habilitados, o outro, quase seis pontos percentuais abaixo.

Voto disponível é o total de eleitores aptos a votar. Na reeleição de Paulinho Serra, Santo André disponibilizou 568.505 votos, ante 488.202 em 2000, com Celso Daniel. Uma diferença de 16,50%. Ou seja: havia quase 20% mais  eleitores habilitados a votar em Santo André. Paulinho Serra não chegou à metade do eleitorado total. Celso Daniel ultrapassou essa barreira 20 anos antes.

Entre votos brancos, nulos e abstenções, a disputa de 2020 pela Prefeitura de Santo André somou 221.984 eleitores, num total de 39,03% do eleitorado inscrito. Na vitória de Celso Daniel em 2000 foram 26,83%. Mais de 13 pontos percentuais de diferença. Traduzindo: a disputa do ano 2000 foi mais atrativa aos eleitores. Os votos desperdiçados -- em brancos, nulos e abstenções--  foram proporcionalmente bastante inferiores ante 2020.

Quem pretende contradizer o exposto precisa atentar à patetice a que estará sujeito. A proporção de votos obtidos comparativamente ao total de eleitores inscritos é a base de qualquer cálculo. Nem sempre o numericamente maior é o melhor. O contexto faz a diferença. Sem contar o bom-senso.

Recorra o leitor, por exemplo, às estatísticas criminais. Números absolutos não querem dizer tudo. O Estado de São Paulo sempre terá maior casos de homicídios e de tantos crimes que a maioria ou a totalidade de entes federativos. Afinal, concentra a maior população do País. A conta certa é dividir o total dos casos pelo total de habitantes. São  Paulo só perde para Santa Catarina como destaque no ranking de homicídios.

Mais um exemplo, entre milhares sob o conceito de proporcionalidade: o Cruzeiro é o maior campeão brasileiro em número de pontos ganhos, em 2002, quando totalizou 100. O Flamengo vem a seguir no ranking  com 90 pontos.

Mas no ranking sem teimosia o Flamengo é o maior campeão da história, porque disputou uma competição com 20 equipes  e um total de 38 jogos na era dos pontos corridos, enquanto Cruzeiro jogou 46 vezes uma competição com 24 concorrentes. O Cruzeiro ganhou 72,46% dos pontos disputados. O Flamengo teve aproveitamento de 78,9%. 

2. CONTEXTO ECONÔMICO

A realidade econômica naquele primeiro ano do século convergia para a reeleição de Celso Daniel porque se vivia o então pior momento da região. O governo Fernando Henrique Cardoso impingia crise econômica no coração regional, o setor automotivo abalado pelo tratamento desigual às autopeças e proteção às montadoras.

Quase 100 mil empregos industriais desapareceram da região na década de 1990. Celso Daniel era prefeito da cidade, mas visto como oposição pelos eleitores. Oposição ao governo Fernando Henrique Cardoso.

No caso de Paulinho Serra e a vitória em 2020, à reeleição, pesou fortemente a pandemia do Coronavírus, de fechamento das portas do comércio e de serviços. O PIB desabou. As campanhas eleitorais foram prejudicadas. Os prefeitos mandantes foram reeleitos em quase todos os municípios brasileiros. Não faltaram recursos do governo federal. O aumento do desperdício  entre inscrição de eleitores e eleitores nas urnas foi consequência disso.

Proporcionalmente, mais gente se absteve de votar, mais gente votou em branco, mais gente votou nulo. Por isso, também, o percentual de votos disponíveis e votos consumados nas urnas favoreceu Celso Daniel.

3. CONTEXTO SOCIAL

Santo André e o Grande ABC do ano 2000, quando Celso Daniel venceu no primeiro turno, eram um barril de pólvora, com elevados índices de criminalidade. O desemprego industrial provocou estragos que se estenderam por muito tempo. Havia campo fértil ao discurso petista. Tanto que dois anos depois da reeleição, em 2002, Lula da Silva chegou à presidência. Celso Daniel morreu no começo de 2002.

4. POLÍTICA MUNICIPAL

Em 2000, com oposição da principal mídia regional, o Diário do Grande ABC, Celso Daniel enfrentou um adversário midiático, rebocado da Capital pelos conservadores. A ordem era retirar Celso Daniel do Paço Municipal. O apresentador Celso Russomanno deu um drible nos potenciais impedimentos legais, principalmente de domicílio eleitoral, e foi à luta. Não resistiu à avalanche petista. Somou menos de 90 mil votos. Uma surra histórica num estranho no ninho tratado com desvelo e salvador da pátria por conservadores sem lustro.

Diferentemente de Celso Daniel, a quem os opositores impuseram um nome midiaticamente forte, Paulinho Serra se reelegeu em 2020, ano da pandemia, sem maior resistência. O PT ainda se recuperava do escândalo da Lava Jato e lançou a candidatura de Bete Siraque, que não registrou sequer 8% dos votos válidos. Os demais adversários foram arrasados. O eleitorado de esquerda nunca foi tão desprestigiado.

5. POLÍTICA NACIONAL

O ciclo do PSDB no governo federal esgotava-se com o segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso. Havia ambiente de mudança. A oposição jamais se apresentou com tantas possibilidades de vencer. Lula da Silva chegava à quarta disputa consecutiva pela presidência.  A economia desabava. O Plano Real exigia reconfiguração para não perder sustentabilidade. Esse quadro favorecia a reeleição de Celso Daniel.      

Em 2020, quando Paulinho Serra foi reeleito, o Coronavírus dava as cartas na política nacional. O presidente Jair Bolsonaro era massacrado pela grande mídia por conta de declarações desastrosas. A concentração em torno das disputas eleitorais desestimulava mudanças. O PT jamais teve tão poucos votos em Santo André e na maioria dos municípios brasileiros.   

6. CONTEXTO MIDIÁTICO

A candidatura de Celso Russomano foi patrocinada nos bastidores pelo Diário do Grande ABC e as forças conservadoras com as quais se identificava. Fez-me uma frente ampla de direita e de centro para derrotar Celso Daniel. Nada que tenha prosperado.

Já no caso de Paulinho Serra, em 2020, praticamente toda a mídia, impressa e digital, tradicional ou não, marchou de braços dados. O ambiente de medo provocado pelo Coronavírus, auge da letalidade, tornou tudo mais fácil. 

7. REALIDADE SOCIOLÒGICA

O PT do ano 2000 e o PT do ano 2020 são completamente diferentes em Santo André. Celso Daniel contava com o engajamento do partido que tinha como meta chegar à presidência da República. Mais que isso: não havia ambiente de polaridade ideológica explicita. Celso Daniel avançava em direção à aprovação da classe média dos bairros mais conservadores.

Vinte anos depois, Lava Jato, o dilúvio de Dilma Rousseff,  Coronavírus e perdas econômicas deixavam passivos imensos. Santo  André perdeu a musculatura política que a movia entre situação e oposição do momento. Virou uma terra de partido único que, somente agora, poderia dar algumas redirecionada ao passado mais vigoroso da esquerda. Algo que a votação de Lula da Silva para a presidência em 2022, quatro pontos percentuais abaixo de Jair Bolsonaro, sugeriria.

8. GESTÃO POLÍTICA

Não há termos de comparação entre a gestão de Celso Daniel e de Paulinho Serra. Reformismo, visão integrada da região, criação de instanciais regionais que poderiam ter alterado o roteiro econômico dos municípios, inovação e tantos outros predicados tornam Celso Daniel muito mais efetivo. Celso Daniel deixou um farol de projetos e ações a iluminar o futuro. O Eixo Tamanduatehy desapareceu. A Cidade Pirelli foi  metamorfoseada e desfigurada.

Paulinho Serra viu Santo André despencar ainda mais no ranking paulista de PIB per capita e trocou medidas reestruturantes por marketing assistencialista. Santo André cultuou com Paulinho Serra uma paixão descalibrada e inócua por prêmios nacionais e até mesmo alguma incursão internacional. Tudo de encomenda ou de coletivização de vencedores igualmente duvidosos no mérito. Fez da Secretaria de Efeitos Especiais, em todas as áreas, engabelação permanente diante de uma sociedade desatenta, quando não omissa, para não dizer negligente.

Para se ter ideia do quanto seria a distância quilométrica entre Celso Daniel e Paulinho Serra, basta levar Paulinho Serra à disputa da reeleição em 2000, no lugar de Celso Daniel, contando entre outros pontos com a adversidade midiática, e conduzir Celso Daniel a 2020, contando com todo o apoio da mídia. Bastaria esse indicador para retratar o desnível de capacidade gerencial política.

9. GOVERNANÇA 

Celso Daniel tinha controle da Prefeitura de Santo André. Contava com secretariado sintonizado com o plano de governo. Eram peças de uma engrenagem que acabou utilizada durante muito tempo durante a gestão presidencial de Lula da Silva. O projeto Santo André Cidade Futuro, com projeção até o ano 2020, não era um artifício de marketing eleitoral, mas a garantia de que alicerces de recuperação de Santo André estabeleceriam diálogos com anseios e carências econômicas e sociais.

Paulinho Serra conta com gestão multifacetada de interesses muitas vezes conflitivos. Prova disso é a própria sucessão eleitoral, espécie de desdobramento de planos executados. Contrariamente a Celso Daniel, que já contava com um candidato encaminhado, no caso o multisecretário Klinger de Oliveira Souza, Paulinho Serra desistiu do vice-prefeito Luiz Zacarias, companheiro de chapa vencedora nas duas eleições e natural indicado, por um jovem, Gilvan Júnior, longe da experiência necessária, embora tenha participado de várias secretarias.

A gestão de Paulinho Serra é um saco de gatos de direitos adquiridos informalmente por parceiros de jornada. A necessidade de contemplar a todos o levou a apresentar nove candidatos à sucessão do mandato. Virou um fuzuê terrível, que culminou em três candidaturas autônomas, de Zacarias, Eduardo Leite, vereador, e o Coronel Sardano. Os dois primeiros viraram adversários eleitorais.

10. GOVERNANABILIDADE

Diferentemente de Celso Daniel, que estabeleceu relações com instituições de Santo André, formando um cinturão de legitimidade de mandato, Paulinho Serra promoveu encontros oficiais sempre de cunho prevalecentemente políticos. Santo André contava com mais aproximação entre dirigentes empresariais, principalmente. Celso Daniel governava para a cidade.

Paulinho Serra segue figurino  surrado. Estabelece referenciais mais político-partidários do que administrativos. O tempo diário consumido por Paulinho Serra com agentes de governança municipal está muito abaixo da agenda política.. Paulinho Serra foi catapultado à presidência do PSDB Paulista num processo de extinção prática da agremiação.

Celso Daniel fez do Clube dos Prefeitos e da Agência de Desenvolvimento Econômico, além da Câmara Regional, exemplos de desprendimento e comprometimento regional. Na medida em que afrouxou o ritmo, porque não contava com dedicação semelhante dos demais prefeitos, acabou se voltando exclusivamente a  Santo André. Com Paulinho Serra o Clube dos Prefeitos virou um centro de negociações partidárias, um toma-lá-dá-cá desviante das finalidades, entre diferentes  vácuos e omissões.

A gestão da pandemia do Coronavírus foi um desastre protegido pela mídia. Os números do Grande ABC foram semelhantes aos do distrito carente de Sapopemba, na Capital. Ou seja: a letalidade por grupo de 100 mil habitantes foi praticamente igual.



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