Economia

Grande ABC vai mal
no Ranking Industrial

DANIEL LIMA - 09/09/2024

Decidi preparar um novo produto editorial para CapitalSocial, de olhos bem abertos na inoperância na área de Desenvolvimento Econômico das administrações municipais que se sucederam nos últimos 40 anos. Chamaria de ensaio a um plano econômico regional. Trata-se do Ranking de Competitividade Industrial, RCI. O Grande ABC vai mal. Temos uma primeira amostra hoje.

Quem acompanhar esse trabalho jornalístico vai se dar bem. Deixará de acreditar em falseadores da realidade, como se fosse possível falsear o que é evidente. Mas falseiam porque a ordem é falsear. A sociedade consome mentiras e meias-verdades sem desconfiar.

O que está evidente e todos sabem disso ou deveriam saber é que há empobrecimento inexorável mais que provado ao longo dos anos. Para os mandachuvas e mandachuvinhas, a conveniência de mentir para a sociedade é um bem valioso. Para os próprios bolsos e carreirismo político. E a maioria deles só pensa nisso. Quanto menos capital social, mais controle dos poderes. Uma sociedade com conhecimento é uma ameaça aos delinquentes públicos e privados.

FORMATO MÚLTIPLO 

O escopo do Ranking de Competitividade Industrial será apresentado neste texto, mas contará com complementaridades nas próximas edições. Não se trata, portanto, de uma porta fechada a conjecturas que se alargam na medida em que revelações se farão presentes. E só se farão presentes na medida em que os números revelarem segredos inicialmente indevassáveis.

O Ranking de Competividade Industrial não é uma conta simples. A complexidade autoimposta é um desafio. É preciso encontrar dimensões até mesmo insuspeitas sobre o que se passa no Grande ABC como um todo e com os principais municípios locais diante dos principais endereços do Estado.

Não será a primeira vez e provavelmente nem a última que vou meter a colher de dados nesse angu desafiador. E me vejo em condições de superar obstáculos anteriores vencidos.

Quando criei o Instituto de Estudos Metropolitanos, IEME, colecionamos dados impressionantes que abriram a estrada do conhecimento sistêmico neste século.

Também criei o G-22, um grupamento de municípios sobre os quais lancei valiosas incursões em variadas temáticas.

REGIONALIDADE AMPLIADA

Tudo isso com o objetivo central de retirar qualquer análise mais profunda sobre a econômica e o desenvolvimento social da bitola estreita da regionalidade interna, ou seja, envolvendo apenas os sete municípios. Pretendo mais uma estabelecer confrontos com os principais municípios do Estado.

Sempre disse que comparar os municípios do Grande ABC com os municípios do Grande ABC é uma estupidez, caso não faltem dados de outros municípios.

Afinal, quando se vive exclusivamente um ambiente interno de competição, o que se pretende mesmo é escamotear os problemas encontrados e glorificar supostos destaques locais. O Grande ABC dos últimos 40 anos é uma nau descontrolada rio abaixo, enquanto os principais competidores estaduais são uma embarcação dotada de tecnologia de ponta. Esconder esse confronto é autoengano imperdoável.

É fácil propagar que o Grande ABC é o terceiro PIB de Consumo do País ou mesmo o quarto PIB Tradicional do País. A iniciativa reiteradamente repetida proclama nuances desconsideradas pelo triunfalismo. Problemático mesmo é quando dados mais abrangentes batem à porta e escancaram dificuldades e perdas locais.

DUAS FORMAÇÕES

O Ranking de Competitividade Industrial ainda está sendo estruturado de maneira clássica,  em forma de vasos comunicantes. Isso quer dizer que os indicadores vão convergir para um mesmo destino: definir com clareza quais são os pontos fortes e pontos fracos da influência direta e indireta da indústria de transformação nos municípios analisados.

O Grande ABC competirá com duas formações distintas no Ranking de Competitividade Industrial.

A primeira envolverá individualmente os cinco maiores endereços locais no setor de transformação de produto.

A segunda reunirá os sete municípios, o conjunto dos sete municípios, com dados agregados. Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, que não representam sequer 2% do PIB Industrial da região, vão estar apenas no formato coletivo, juntamente com os demais vizinhos. Nesse desenho, teremos a lógica de regionalidade como força de medição estadual.

ENDEREÇOS SELECIONADOS

O Ranking de Competitividade Industrial contará com uma dezena e meia de competidores. O peso decisivo à escolha dos concorrentes é o valor do PIB Industrial de 2021, conforme dados atualizados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). A maioria desses endereços já consta do G-22 de CapitalSocial. Nada surpreendente, portanto.

Também não faltarão competições entre áreas regionais, sempre que for possível dispor de números oficiais. Isso significa que elaboraremos confrontos que levem em conta aglomerados de municípios próximos entre si.

O Grande ABC é um território que rompe fronteiras municipalistas não só pela proximidade entre município que o compõe como também pelo potencial efetivado ou não de desenvolvimento econômico complementar.

Da mesma forma, procuraremos formatar estatisticamente outras áreas geoeconômicas de valores clássicos de regionalidade econômica. A Região Oeste, a Região Leste, a Região Sul e a Região Norte da Grande São  Paulo contam com especificidades que comportam confrontos. Da mesma forma as áreas de Campinas, Sorocaba e São José dos Campos há muito tempo caçapas cantadas de CapitalSocial como endereços de deslocamento da geração de riqueza industrial no Estado de São Paulo.

A metodologia do Ranking de Competitividade Industrial seguirá trilha segura. Vai procurar aferir os resultados individuais e a grade de colocação sempre se levando em frente conceitos pré-estabelecidos. Os leitores vão constatar que nem tudo que parece ouro é ouro de fato quando os números são metabolizados de acordo com os princípios que regerão o RCI.

PRIMEIROS INDICADORES 

O Ranking de Competitividade Industrial, cujos resultados serão revelados a partir de próximas edições, trará resultados bastante insatisfatórios para a região como um todo e para os municipais locais especificamente. Os primeiros indicadores revelam dados nesse sentido.

O primeiro indicador será o resultado do cruzamento do crescimento nominal do PIB Industrial e o crescimento do PIB Municipal dos municípios selecionados.

O segundo revelará as diferentes participações quando se cruzam o PIB Industrial  e o PIB Municipal tendo como premissa o que eram os números em 1999 e o que passaram a ser em 2021, ou seja, na largada e na chegada estatística disponível. Aliás, o primeiro indicador também terá esse indexador temporal.

A inovação metodológica (e que não será inédita, porque já o fizemos em outros estudos transformados em insumos jornalísticos) não fixará balizas de desempenho sem as necessárias contrapartidas. Vamos explicar:

SEM RISCO

Observar um indicador do Ranking de  Competitividade Industrial exclusivamente com base na hierarquia de crescimento nominal do PIB Industrial e também do PIB Municipal encaminharia a conclusões inadequadas.

Quando se entrelaçam os dados das duas medições, obtém-se o que o RCI pretende: o equilíbrio entre  dados aparentemente distintos. Ou alguém tem dúvidas de que o PIB Municipal (impostos arrecadados) e o PIB Industrial (o que foi gerado de riqueza em produtos e serviços) não podem estar descolados, principalmente quando se sabe que neste século avançou por vários motivos a gulodice ou a tentativa de sustentabilidade das contas públicas municipais?

Vamos dar um exemplo que explica claramente a manchetíssima desta edição, embora seja um caso não necessariamente fiel à situação vivida neste século, já que há números ainda mais preocupantes.

Comparamos os dois indicadores mencionados – e, repetimos, outros serão incorporados ao RCI – e constatamos que os sete municípios da região perderam a corrida diante da média estadual.

No indicador de PIB Industrial  -- entre janeiro de 2000 e dezembro de 2021 o Grande ABC  --, o crescimento nominal dos sete municípios da região registrou 204,32%, enquanto a média estadual alcançou 310,32. O resultado do Grande ABC está abaixo da inflação do período, de 285,26%.  Desindustrialização evidente.

HORA DA VERDADE

Já no indicador de PIB Municipal, a carga de impostos representeou crescimento nominal no período de 381,29% na média regional e 439,52% na média estadual. Os dois espaços territoriais registraram avanço acima da inflação do período.

A pergunta básica é como se chegar à conclusão de que o indicador que coloca o crescimento do PIB Industrial e o crescimento do PIB Municipal  é mais favorável em termos de desenvolvimento econômico ao Estado de São Paulo do que ao Grande ABC.

Simples: a diferença em pontos percentuais entre uma atividade e outra no Grande ABC chega a 176,97%  pontos percentuais favorável ao PIB Municipal ( 204,32% a 381,29%), enquanto na média estadual a diferença chegou a 128,80 pontos percentuais (310,72% a 439,52%). Diferença de 48,17 pontos percentuais envolvendo as respectivas marcas percentuais.

É óbvio que a média estadual resultante dessa conta e desse confronto é mais saudável que a média do Grande ABC. Quanto menor a diferença entre um indicador e outro, mais equilíbrio se constata nas engrenagens econômicas ditadas pela bussola industrial. A queda industrial em contraponto ao crescimento de impostos municipais não é a saída rumo à recuperação.

VANTAGEM DO ESTADO

O segundo indicador confirma a vantagem da média do Estado de São Paulo sobre a média do Grande ABC. É só observar. A participação relativa do PIB Municipal, PIB de arrecadação de impostos, subiu 58,10% ou 11,76 pontos percentuais no Grande ABC. Eram 20,24% do PIB Industrial e passou para 32,00% no período de 22 anos. Já no caso da média estadual, houve avanço médio do PIB Municipal de 9,53 pontos percentuais, ou 31,36% no mesmo período. Uma diferença, portanto, de 26,74 pontos percentuais entre os dois territórios.

Tudo isso parece à primeira vista um empastelamento de dados, mas é isso mesmo que precisa ser devidamente respeitado. Não se trata de alquimia numérica. São dados reais.

Este século está sendo pior que as  duas últimas décadas do século passado para o Grande ABC. E os números que vamos revelar do Ranking de Competitividade Industrial, especialmente dos maiores municípios paulistas, serão piores ainda. São resultados mais qualificados que a média estadual. A combinação de desindustrialização com avanço municipal de impostos não é, definitivamente, a melhor saída. O Grande ABC está encalacrado. Mais pobre na produção e mais vulnerável à arrecadação municipal.



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