Administração Pública

Criatividade de Salles pode esconder
mediocridade da Administração Grana

DANIEL LIMA - 08/01/2013

O advogado Raimundo Salles, secretário de Cultura, Esporte e Turismo de Santo André, é tão criativo, trabalhador e intenso que poderá servir de biombo à mediocridade da Administração Carlos Grana que se delineia. Mediocridade no sentido exato do termo, mas que também, como no caso da Administração Aidan Ravin que se foi, no sentido pejorativo, ou realístico de desempenho conjunto. Nada que a composição de um secretariado que soma incompetentes, omissos e despreparados aos bons e comprovados técnicos de algumas áreas, não me dê sustentação.


 


Raimundo Salles anuncia nos jornais um começo de revolução na área para a qual, convenhamos, não seria a mais recomendável à atuação de quem tem inspiração para coisas, digamos, socialmente mais representativas. Quem sabe não faça especialmente da Cultura algo propositivo para aliviar as dores de um pedaço bastante provinciano da Província do Grande ABC?


 


Diz o noticiário que Raimundo Salles assinou termo de cooperação para garantir a manutenção e recuperação permanente de 18 monumentos históricos selecionados em Santo André. O projeto Preservando a Memória já foi lançado e contará com apoio financeiro de um grupo formado por contabilistas da cidade, oferecendo-se a contrapartida de exposição de banners e outros materiais publicitários junto aos bens patrimoniais. É o marketing cultural em sua forma mais prosaica, mas nem por isso menos importante.


 


Pelo andar da carruagem da investida, a Santo André que mais perdeu musculatura econômica nos últimos 40 anos no ranking nacional, despencando no recebimento de repasses de impostos, vai conseguir salvar algumas das figuras e símbolos históricos por obra da dedicação de Raimundo Salles. O politico Senador Flaquer, o artista plástico Luiz Sacilotto, o ex-presidente Kennedy, o desbravador João Ramalho e outros mais estarão a salvo da intempérie ambiental e dos desmazelos públicos. Não serão convertidos em cacos e pó, como a arquibancada do Estádio Bruno Daniel, abandonado seguidamente por administradores públicos descuidados, quando não omissos.


 


Mais investidas


 


Raimundo Salles não para por aí, ou seja, não está preocupado apenas com os mortos imortalizados em pedra, em bronze ou em materiais diversos. Salvá-los da destruição é um ato providencial, tanto quanto deveria ser a atuação de um grupo de especialistas que, na Secretaria de Desenvolvimento Econômico, entregue à ignorância técnica de Oswana Fameli, poderia começar a resgatar a potencialidade produtiva do Município -- tarefa, reconhecemos, estruturalmente das mais espinhosas, quando não desafiadoras.


 


Raimundo Salles vai mais longe e anuncia também a criação de um balé da cidade, grupo formado por 20 artistas e uma primeira bailarina, que daria visibilidade poética de uma Santo André embrutecida pelo tempo e pelos desmandos, quando não pela roubalheira que parece não incomodar o prefeito Carlos Grana, a ponto de omitir-se completamente quanto à herança de desvios do antecessor imediato, além de aliar-se ao anterior, João Avamileno, e o escandaloso caso da Cidade Pirelli, entre outros. Entre esses outros está o empreendimento que Sérgio De Nadai e a Cirella lançaram no antigo terreno de uma indústria altamente contaminadora do meio ambiente, hoje ocupado por torres residenciais de incautos compradores das unidades, a quem os vendedores não forneceram informações eticamente responsáveis porque inviabilizariam o negócio. 


 


A indômita atuação de Raimundo Salles (indômita saiu quase por acaso de minhas digitais, mas expressa bem a volúpia com que o secretário municipal costuma lidar com a vida) pode significar muito mais que um raio de sol na escuridão intelectual e cidadã de uma Santo André que insiste em perder as melhores cabeças para outros municípios, em forma de evasão de mão de obra qualificada.


 


Seguidores à vista


 


Quem sabe com Raimundo Salles leve, livre e solto o noticiário político saia do marasmo em que se meteu há tanto tempo, como provam meus arquivos, e faça seguidores em outras unidades da Província do Grande ABC. Afinal, assim como os legisladores se repetem a cada eventual iniciativa de projetos de lei que adotem posturas que fujam da rotina, outros secretários municipais mirem o exemplo de Salles e saiam à cata de soluções simples, baratas mas restauradoras de parte da autoestima de uma região periférica e gataborralheiresca como a nossa.


 


Mas tudo isso poderá ter um custo elevadíssimo, caso o tratamento dispensado à luminosidade de Raimundo Salles ganhe o palco como a principal atração da companhia, no caso a Administração Carlos Grana. Os grandes problemas econômicos e sociais de Santo André, principalmente os grandes problemas econômicos que aprofundam uma crise sistêmica de financiamento orçamentário, não podem ser subestimados pelas eventuais magnitudes do secretário. Muito pelo contrário: que o empenho e a dedicação de Raimundo Salles sirvam de lição a outros secretários municipais e os coloquem em posição prospectiva em seus respectivos territórios gerenciais, eliminando ou reduzindo a pequenez tradicional da efetividade técnica desses cargos.


 


Se conseguir desempenhar na desprezada Secretaria de Cultura de Santo André algo que poderia apresentar de forma mais consistente e sistêmica em termos de ganhos sociais e econômicos na Secretaria destinada à Acisa (Associação Comercial de Santo André), no caso com a nomeação da vice-prefeita Oswana Fameli, Raimundo Salles correrá um sério risco: obscureceria a atuação do próprio prefeito Carlos Grana, muito mal assessorado politicamente a ponto de perder a eleição para o comando do Legislativo. Ou quem sabe, em contraposição, tornar o prefeito mais cuidadoso e efetivo nas políticas públicas às quais estará diretamente relacionado como principal liderança de Santo André.


 


De qualquer modo, de Raimundo Salles espera-se qualquer consequência, menos o desfilar de monotonia, desinteresse, descaso e inaptidão para o cargo ao longo dos próximos quatro anos. Já é alguma ou muita coisa nessa Província regional tão carente de fatos e tão esbanjadora de ilusões.


 


Por essas e por outras assumi publicamente uma avaliação da qual não me arrependo, formulada antes das eleições em Santo André: para quem vê a vida como uma sucessão de atrações, entendendo-se atrações como algo imensamente versátil, uma espécie de Big Brother disfarçado ou não, Raimundo Salles teria de ter saltado das urnas como vencedor em Santo André. Se deixarem, mesmo como secretário de uma pasta menos importante no contexto de uma Santo André doentiamente empobrecida, ele garantirá uma audiência bastante expressiva.


 


Leiam também:


 


Meus votos: Salles, Marinho, Reali, Regina, Vanessa, Saulo e Maranhão


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