Administração Pública

Área disponível é
grande vantagem

RICARDO DITCHUN - 05/05/1999

Cândido Malta Campos Filho é o único brasileiro que encabeça um dos quatro grupos formados para apresentar soluções para o Eixo Tamanduatehy. Seu estudo, que define como parâmetros básicos, é, de todos, o mais completo no que diz respeito ao casamento de propostas urbanísticas e arquitetônicas. Não poderia ser diferente, dado que Cândido Malta se dedica à questão dos corredores metropolitanos paulistas desde 1968. Por esse motivo, o vale do Rio Tamanduateí não lhe é estranho. Muito pelo contrário. Ele conhece profundamente não só a história do desenvolvimento social e econômico do corredor, mas também as peculiaridades de cada terreno, construção, viaduto, rua e, até mesmo, aspectos de barracos de favelas do entorno.

No entender do arquiteto e urbanista, o Eixo Tamanduatehy permite quatro divisões que obedecem, cada qual, a uma vocação específica. "A maior vantagem da região é o fato de dispor de grandes áreas. A fragmentação, nesse caso, estragaria um ambiente repleto de potencialidades para aparecer como alavanca de um planejamento estratégico para todo o Grande ABC" -- afirma.  

As zonas de vocação urbana detectadas por Cândido Malta são: Norte, nas imediações da Alcan e da Estação de Utinga, com o Porto Seco (entreposto aduaneiro reinaugurado em 1998) e o projeto dos parques temáticos; Craisa (Companhia Regional de Abastecimento Integrado de Santo André), centrada na Estação Prefeito Saladino e na Nova Rodoviária; Centro Histórico, englobando o Viaduto 18 do Forte, rodoviárias Leste e Oeste do trólebus e a estação ferroviária central; e Sul, ligada à futura Estação Pirelli, Global Shopping, Wall Mart e abrangendo os córregos Apiaí e Guarará.

Uma regra urbanística geral prevê para cada zona a existência de um ou dois prédios-ponte, o mesmo número de torres com até 100 andares (de 400 metros a 500 metros de altura), a longo prazo, e a ocupação de solo criado com o sistema de quadras amplas, tomando partido da dimensão das glebas existentes na região.  Pela ordem, portanto, o plano de Cândido Malta inclui um centro floral entre as estruturas de concreto que já abrigaram uma fábrica, logo no início do trecho do Grande ABC da Avenida dos Estados, e parques temáticos (aquáticos) no entorno do Porto Seco. Na segunda área, uma rua de festas, que é uma espécie de sambódromo com versatilidade de uso fora do período de Carnaval. Esse equipamento foi pensado para ocupar o terreno diante da Craisa, na margem do Tamanduateí, mas do lado oposto. Para o terreno da Craisa, equipamento público que ganha novas dimensões neste projeto, Cândido Malta pensou em um centro multimídia equipado com as novidades do setor de entretenimento sustentado pela informática. No entorno, prédios residenciais e, sobre a rua de festas, um prédio-ponte com três a quatro pavimentos e com múltiplas funções, inclusive a de ligar as duas margens do rio.

Praça cívico-cultural

O núcleo central do projeto é o lugar da grande praça cívico-cultural imaginada por Cândido Malta na área de entroncamento do Viaduto 18 do Forte com a Avenida dos Estados. Na área da Garagem Municipal foi concebido um centro de convenções e exposições, hotel, auditórios e teatro. A articulação com a margem oposta, na direção do centro histórico, também se dá com um prédio-ponte. Sobre o terminal rodoviário e o Viaduto 18 do Forte o projeto prevê um centro de memória andreense. "É uma forma de simbolizar a posição central que deve ter a memória de um povo" -- justifica o urbanista.

Uma série de outras intervenções urbanísticas e arquitetônicas e instalação de marcos referenciais completam a estruturação dessa zona também com a intenção de contaminar o centro histórico como prolongamento da Rua Coronel Oliveira Lima.  O último núcleo, ao Sul do eixo, no entorno da Choperia Chaplin, tem potencial para a instalação do Projeto Mesopotâmia, um conjunto de canais escavados a partir dos córregos Apiaí e Guarará. Nas ilhotas formadas ao redor, casario baixo para habitação e escritórios. O urbanista pensou ainda em uma série de piscinões abertos, desenhados de forma a servir também para lazer (pesqueiros, por exemplo). Outro prédio-ponte cumpre a ligação das duas margens neste ponto. 

Até praias artificiais

Água, arquitetura ousada e  transporte ferroviário são os elementos fundamentais do estudo de Cândido Malta para o Eixo Tamanduatehy. O papel do piscinão, coletando o excedente de águas pluviais em épocas de chuvas e ajudando a evitar enchentes, é reforçado pelas possibilidades de utilização em lazer: praias artificiais e lagos integrados ao desenho urbanístico. Outra finalidade, simbólica, seria funcionar como espécie de termômetro ecológico. Ou seja, seria uma amostra do grau de poluição das águas do Tamanduateí. "Cheirar mal, em um primeiro momento, não é problema, desde que isso motive a população a cobrar dos poderes públicos a despoluição e obras de macrodrenagem" -- ressalta o urbanista.

Um marco similar, segundo Cândido Malta, pode ser visto na raia olímpica da USP (Universidade de São Paulo): "A água de lá é independente da do Rio Pinheiros. Além de uso para lazer e esportes, a raia também surte o efeito simbólico em relação ao rio poluído".  A idéia dos prédios-ponte sobre o Tamanduateí não é novidade, mas surge devido à visibilidade e ao forte impacto que provoca na paisagem. Cândido Malta sugere, para Santo André, que essas construções (de 500 metros a 700 metros de comprimento e de 25 metros a 30 metros de largura) tenham de quatro a cinco pavimentos. No topo, terraço-jardim com lojas, bares, restaurantes e função de passagem. Dentro, escritórios, serviços e habitação.  Nem mesmo no Brasil a idéia é inédita e o shopping aéreo Serra Azul, na Rodovia dos Bandeirantes, em Vinhedo, dá uma idéia aproximada da funcionalidade e da beleza plástica dessa solução.

Por fim, o acesso sobre trilhos. Forte incentivador desse meio como ideal para transporte de passageiros e de carga, Cândido Malta concebeu linhas paralelas de metrô de superfície correndo ao lado do leito ferroviário do Eixo Tamanduatehy. Além disso, defende o projeto do anel ferroviário ligando Santo Amaro ao Grande ABC. "As duas soluções, metrô de superfície, integrado ao Metrô de São Paulo, e o anel ferroviário, são fundamentais para a estruturação desse eixo com a Região Metropolitana". Em curto prazo, também como condição de integração regional, está a instalação de metrô de superfície ligando São Bernardo a São Paulo e a Santo André. 



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