Com 50 mil habitantes, Vinhedo está se transformando em uma espinha entalada na garganta do Grande ABC. Depois de atrair o centro nacional de distribuição de peças da Volkswagen, cujo faturamento anual supera R$ 700 milhões, a cidade localizada na região de Campinas, há 76 quilômetros de São Paulo, se prepara para comemorar a instalação da sede da Iscar, multinacional israelense da área de ferramentaria que também está dando adeus a São Bernardo.
A transferência das duas companhias para o mesmo território interiorano pode ser apenas o prólogo de um roteiro muito mais dramático, porque a diferença de atratividade entre o Grande ABC e Vinhedo é acachapante: além de oferecer custos mais baixos, condição logística vantajosa e qualidade de vida superior, a cidade conhecida como Terra da Uva acena com incentivos fiscais praticamente irresistíveis para indústrias combalidas pela retração econômica e pela alta carga de impostos.
A Iscar chegou a São Bernardo essencialmente como importadora em 1995 e já tinha colocado um pé fora do Grande ABC há cerca de dois anos, quando se associou a uma empresa de Jundiaí para produzir pequena parcela das ferramentas especiais cuja maior parte é trazida da matriz israelense e das subsidiárias na Alemanha e nos Estados Unidos. Agora a deserção é completa porque a sede administrativa que emprega 60 funcionários entre os departamentos de vendas e suporte técnico também está de malas prontas para o Interior: a Iscar vai centralizar em Vinhedo a fábrica e o setor administrativo. A transferência só depende da conclusão das obras em curso e deve ser concluída no primeiro trimestre de 2004. "Concentrar os dois setores é fundamental para ganhar mais agilidade no atendimento às indústrias" -- explica o diretor-presidente Eran Marcus.
Por que Vinhedo foi escolhida para a fábrica, e não o Grande ABC? "Vinhedo é próxima de Jundiaí, de modo que é possível transferir a fabrica sem mexer no quadro de 25 profissionais altamente especializados. Além disso, o custo do terreno é muito mais barato do que em qualquer cidade do Grande ABC e Vinhedo oferece incentivos que a região não têm" -- aponta Eran Marcus, que prefere não entrar em detalhes sobre os incentivos fiscais que pesaram a favor do investimento de US$ 1 milhão entre obras físicas e novos equipamentos produtivos.
É notório que a administração de Vinhedo promove campanha ostensiva para atrair indústrias. No caso da Volks, o poder público se comprometeu a devolver 50% dos impostos gerados pelas atividades do centro de distribuição de peças e acessórios. Durante o lançamento da pedra fundamental, em maio último, o prefeito Milton Serafim se orgulhava ao informar que a devolução dos tributos permitiria à Volks custear praticamente a metade dos aluguéis para a construtora Walter Torre Jr, responsável pelo empreendimento que terá 132 mil metros quadrados.
Não há incentivos fiscais que atenuem deficiências estruturais de competitividade, por isso a atratividade de Vinhedo e outros municípios interioranos pródigos em atrair empresas precisam ser analisados de forma abrangente. Vinhedo dista 76 quilômetros da Capital e oferece acesso imediato às rodovias Anhanguera e Bandeirantes. Situação antagônica à do Grande ABC, cujos custos adicionais na vertente logística tornam-se muitas vezes incompatíveis com a sobrevivência na era pós-globalização. Portanto, seria simplismo insuportável atribuir as mazelas regionais exclusivamente à agressividade de regiões e municípios concorrentes. A administração de Vinhedo não monstra qualquer pudor em afirmar que pretende adensar o entorno do centro de distribuição da Volks com parque industrial formado por autopeças.
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15/10/2024 SÃO BERNARDO DÁ UMA SURRA EM SANTO ANDRÉ