Política

Imponderável e sinceridade
colocam Morando no topo

DANIEL LIMA - 10/04/2020

Orlando Morando é, por enquanto, o prefeito mais vitorioso do Grande ABC na cadeia de horrores do vírus chinês. O imponderável e a sinceridade tornaram o tucano insuperável. Resta saber se terá fôlego e também sorte para seguir adiante. O adiante no caso é o horizonte mais próximo, as eleições municipais supostamente em outubro, mas também os desdobramentos econômicos, que podem minar a gestão pública no País, de arrecadação compulsória e escorchante.  A máquina da livre-iniciativa está parada. E Estado democrático sem livre-iniciativa não é nada.

Orlando Morando ganhou visibilidade externa que se esparrama internamente por todos os tecidos sociais de um território identificado por mim faz tempo como portador do Complexo de Gata Borralheira. Esse mal da alma regional, diferentemente do Coronavirus passageiro, está entranhado na estrutura social.

Orlando Morando fez do limão do imponderável, ao ser colhido pelo Coronavírus, a limonada de reconhecer os valores ainda muito contestados e também não cientificamente assegurados da cloroquina.

Remédio do Bolsonaro

O remédio, no caso, tem conotação estupidamente politica e ideológica. Pois Orlando Morando mandou às favas todos os pruridos de velhos amigos da política e também as diferenças em relação ao bolsonarismo: não se furtou a agradecer pelo tratamento com o produto vinculado ao discurso para muitos libertador e para outros liberticida do presidente Jair Bolsonaro.  

Orlando Morando saltou para a gloria pela simples razão de que não integro a torcida desorganizada que atribui versões diferentes do que entendem como farsa sobre a enfermidade que o levou a duas semanas de internação numa UTI do Hospital São Luiz, em São Caetano.

Pode ser uma glória efêmera, a glória de escapar da morte que ronda a todos que chegam ao estágio a que chegou, mas é uma glória consumada. O chamado remédio do Bolsonaro, do qual Orlando Morando fez uso e agradeceu publicamente, foi um peteleco em todos os radicais que desprezam a possibilidade de haver alguma luz de solução em algo tão economicamente barato.

E, mais que isso, muito mais que isso, uma cura que estaria alinhada à pregação simplista para muitos e pragmática para outros do discurso do presidente da República.

Enfrentando tucanos

Convenhamos que não é pouca coisa um prefeito tucano admitir publicamente que se curou entre outras razões medicamentosas graças ao remédio do presidente, do qual os tucanos liderados pelo governador João Doria discordam loucamente.

Orlando Morando poderia ter-se aquietado a respeito. Mas foi enfático. Algo que faltou e continua a faltar ao braço direito do governador para assuntos de Coronavírus, o médico David Uip, espécie de vaselina partidária como estratégia de não comprometimento politico. Houve repercussão imensa do depoimento do convalescente Orlando Morando.

Criou-se expectativa enorme sobre o destino que o vírus impunha a Orlando Morando. Desde que foi internado, a chamada Grande Mídia tornou a pauta da recuperação (ou de desenlace fatal) obrigatória. Já quanto aos agradecimentos ao remédio indicado por Bolsonaro, como era de se esperar houve censura ideológica descarada.  Quem acha que a Grande Mídia é democrática não entende o jogo de cartas de preferências regadas a dinheiro, dinheiro e muita ideologia socialista.   

E os desdobramentos

Estou me metendo a construir um juízo de valor envolvendo os sete prefeitos da região (é disso que trato ao eleger Morando o grande vencedor até agora) porque se trata de um fato, ou de fatos correlatos, que extrapolaram a dinâmica que chamaria de atendimento à sociedade. Ainda não tenho coragem nem dados para aferir com segurança o desempenho de cada chefe de Executivo da região durante essa etapa inicial de enfrentamento ao Coronavírus.

Há muita coisa acontecendo e outras tantas acontecerão também fora do espectro exclusivamente sanitário que recomendam cuidado à avaliação crítica. Outro dia escrevi que o hospital de campanha montado pelo prefeito Paulinho Serra é uma faca de dois legumes. Não usei essa expressão matheusiana, mas foi o que quis dizer.

Se a obra temporária der mesmo conta do recado de suplementação de atendimento às vítimas, Paulinho Serra unirá à plástica midiática daquele cilindro erguido no Estádio Bruno Daniel a utilidade indispensável. Já se a expectativa da demanda não caminhar no ritmo da oferta, ou seja, se a obra tornar-se elefante branco, mesmo que temporário, não faltará desgaste.

Aliás, não fosse o vírus chinês na vida de Orlando Morando e o consequente depoimento de quem para o gosto popular escapou da morte, juntando-se a isso a declaração pró-Cloroquina, Paulinho Serra teria tudo para liderar o que chamaria de visibilidade de combate à doença.

Nenhuma imagem parecia mais fadada à captura da memória. Talvez seja por isso e provavelmente por outras motivações que se coloca tanto em dúvida a internação do prefeito de São Bernardo, como se fosse possível acreditar em depoimentos até prova em contrário fraudulentos que trafegam nas redes sociais.

Uma outra guerra

Seria descuido fatal deixar de lembrar a todos que estamos apenas no começo de uma guerra no âmbito regional. Há muitas batalhas pela frente, a julgar pelas declarações de especialistas no campo da medicina.

Já os efeitos econômicos do Coronavírus nos cofres públicos municipais, que serão a prova de fogo dessa corrida de resistência, disso só o futuro vai tratar.

Por enquanto ninguém arrisca nada além de que o Estado em suas três esferas comunicantes vai sofrer um bocado. Os fazedores de marolas semânticas que colocam o Estado acima de tudo já estão descobrindo que não existe Estado Eficiente ou Estado Perdulário sem a livre-iniciativa.  É da correia da economia privada, ou seja, do regime capitalista, que sai o coro da estrutura estatal. O resto é papagaiada de ignorantes econômicos e sociais, além de prevaricadores éticos.

Desdobramentos fatais

Tenham certeza os leitores que muita coisa, mas muita coisa mesmo, vai acontecer. A derrocada econômica nesta temporada no Brasil e especialmente no Grande ABC da Doença Holandesa Automotiva será gigantesca. Haverá um buraco enorme que afetará duramente a arrecadação de impostos. Isso está garantido, embora falte precificar o rombo.

Acho que teremos uma sucessão de acontecimentos que mostrarão aos idiotas plasmados por um socialismo burro o quando faz falta a uma sociedade a liberdade da engrenagem econômica, abrupta e indispensavelmente interrompida nestes tempos de guerra.

Os prefeitos da região estão perdendo tempo ao não montarem de imediato outro comitê de emergência, além das mobilizações contra o vírus chinês. Já está passando da hora de começarem a projetar o tamanho do abismo arrecadatório e as medidas mais incisivas para evitar uma catástrofe. Essa é uma batalha que vai afetar o resultado final da guerra que supostamente glorificaria vencedor e demonizaria derrotados.



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