Há um Triângulo das Bermudas a atormentar o prefeito de São Caetano José Auricchio Júnior. O tucano precisa superar principalmente um dos obstáculos, porque esse obstáculo faz desaparecer todo o horizonte que pretende descortinar a partir de janeiro do ano que vem, quando iniciaria o quarto mandato à frente do Município de melhor qualidade de vida na Região Metropolitana de São Paulo. Auricchio seria o primeiro tetraprefeito da história regional. Todos os mandatos se dariam neste século, depois de suceder a Luiz Tortorello, do qual foi secretário de Saúde.
O Triângulo das Bermudas de José Auricchio Júnior tem efeitos imediatos, mas também no longo prazo. Dois são visíveis, claros, cristalinos. E não parecem encontrar resistência neste século que já devorou duas décadas. Qual é o Triangulo das Bermudas de Auricchio, cuja oposição política deverá explorar nas eleições de novembro?
A pendência no Tribunal Superior Eleitoral para se sustentar nos últimos meses como prefeito, mas, principalmente, reter a condição de elegibilidade a um novo mandato.
O pífio, frustrante e decepcionante comportamento da economia de São Caetano neste século, entre as piores da Região Metropolitana de São Paulo.
A disputa pau a pau da lanterninha nos resultados de casos letais do vírus chinês no Grande ABC, com indicadores que, para efeitos eleitorais, se configurariam antagônicos à imagem de que o território de 15 quilômetros quadrados seria o paraíso metropolitano.
Impedimento eleitoral
É claro que a situação mais grave do ponto de vista de renovação do mandato envolve o caso pendurado no Tribunal Superior Eleitoral. A oposição trabalha com a prioridade de que Auricchio estará impedido de competir em novembro.
Mais que isso: está certa de que o substituto já supostamente convocado, o ex-reitor da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul), Marcos Bassi, seria espécie de Fernando Haddad de Lula da Silva. Ou seja: já estaria se aquecendo para tomar o lugar que Auricchio perderia na terceira instância, justamente quando a fita de largada da disputa eleitoral for deflagrada. Auricchio só não teria perdido o mandato ainda porque a pandemia o teria salvado. Como a tantos outros prefeitos eleitos e denunciados por irregularidades.
Se fosse estabelecer grau de vulnerabilidade do prefeito de São Caetano nessa questão, seguiria o roteiro de especialistas de diversos calibres partidários. Eles comparam o caso ao daquele supostamente bom marido que chega em casa tarde da noite com a braguilha aberta e uma camisa de vênus a emoldurar o zíper.
Caciques políticos
Sabe-se que José Auricchio tem feito das tripas de aproximações com coturnos poderosos da política nacional coração de sustentação não só no cargo como de novo mandato. Move-se em direção a caciques partidários influentes em Brasília. Há especulações de todos os calibres. Minimizam-se, inclusive, os riscos de impedimento por conta de aproximações com alguns ministros do Supremo Tribunal Federal.
Tudo vai depender do ambiente de moralidade que a Grande Mídia imporá às disputas municipais em todo o País. Há sinais de intolerância a qualquer forma de mitigação aos infratores. Se colocarem Auricchio no mesmo saco de gatos de tantos outros casos, inclusive de alguns mais escandalosos, o que hoje é um potencialíssimo impedimento se tornaria irreversível.
Já os efeitos da pandemia do vírus chinês ainda não foram assimilados pela população conservadora de São Caetano. Há culturalmente um sentimento de municipalismo que se confunde com autoestima pessoal e familiar que coloca os 150 mil moradores de São Caetano em patamar de autoproteção. Somente evidências de consistência técnica provocariam um choque mesmo que temporário de inquietação com a realidade.
Liderança negativa
São Caetano lidera o ranking de mortes pelo Coronavírus no Grande ABC. Muito acima das demais cidades. Menos em relação a Diadema, com a qual disputa cabeça a cabeça o primeiro lugar. Que significa o último lugar em matéria de entreguismo ao vírus chinês.
O peso de São Caetano na equação, que a distingue dos demais municípios da região e em larga escala da maioria dos endereços do País, é a proporção gigantesca da população com mais de 60 anos, vítima preferencial da pandemia. São 23% dos moradores dessa faixa etária. Mais de 50% além da média regional e brasileira.
Em Diadema, rival em desgraça quando se colocam na mesa de avaliações a proporção de mortes em relação às respectivas populações, as condições de segurança sanitária são bem inferiores às de São Caetano. Embora com população em média mais jovem, Diadema também sofre com maior incidência de pobres e miseráveis entre as famílias. E menos ricos e classe média. Sempre em termos proporcionais, que é que vale.
Morre gente demais
Portanto, há pontos e contrapontos nos argumentos. Mas algo parece irrefutável: morre gente demais em São Caetano. Muito acima, relativamente, aos piores números de países mais vulneráveis no mundo. E não se deve, francamente, botar tudo isso na conta dos idosos.
Sem defesa econômica
É aí que entra o terceiro vértice do metafórico Triângulo das Bermudas. São Caetano empobreceu demais ao longo de décadas, mas, principalmente, neste século dirigido pelo atual prefeito.
Em doze anos, José Auricchio foi incapaz de reprogramar uma São Caetano que se exauriu na medida em que a industrialização refugou força. Nenhum projeto com tração tecnológica para valer foi planejado e implantado.
É impossível sair em defesa do prefeito quando o tema é Desenvolvimento Econômico. A fragilidade sistemática afeta o tecido social. Perderam-se milhares de famílias de classe rica e de classe média. Os excluídos são proporcionalmente menos expressivos que na vizinhança, mas já foram bem menos.
Trocando em miúdos: todos os vértices do Triângulo das Bermudas do prefeito José Auricchio são armadilhas que contam com grande influência dos mandatos do titular do Paço Municipal. Reproduzo alguns trechos de análises recentes que elaborei sobre São Caetano. E há muito mais disponível. A elegibilidade de José Auricchio é mesmo o ponto crucial no curto prazo em São Caetano. Mas a gravidade é sistêmica na Economia. Que desaba sem que se oponha um paradeiro. Ou um início de paradeiro.
Massa salarial industrial de
São Caetano cai R$ 1 bilhão
DANIEL LIMA - 15/07/2020
O setor de transformação industrial de São Caetano colapsou nos últimos quatro anos, entre janeiro de 2015 e dezembro de 2018. Os dados oficiais de 2019 ainda não são conhecidos integralmente, mas, pelas parciais, intensificarão a derrocada. E é melhor nem falar deste ano. A pandemia acentuará o desastre. Quando se compara a massa salarial de 2018 com a de 2014, a perda supera a R$ 1 bilhão. Uma calamidade que se elevará quando for apurado o resultado do ano passado. Em 48 meses São Caetano perdeu 41,46% do efetivo de trabalhadores industriais com carteira assinada e o assalariamento médio do setor caiu 41,28% em termos reais, descontada a inflação. Não há nada sequer semelhante no G-22, o grupo dos maiores municípios do Estado de São Paulo. Os dados são oficiais do Ministério do Trabalho e Emprego. Trata-se de coleção de estragos. São Caetano vem perdendo participação real e proporcional da indústria nas atividades econômicas desde o começo dos anos 1980. Mas os níveis que se imaginavam residuais a partir da potencial exaustão do processo são surpreendentes.
Consumo do G-22: São Caetano
é lanterninha na última década
DANIEL LIMA - 29/06/2020
Imagine uma competição com 20 participantes cujos resultados determinassem rebaixamento das quatro últimas colocadas. Isso já existe no futebol brasileiro, nas duas principais divisões. E também em competições estaduais, com menor número de participantes. Se a metodologia fosse transferida ao G-22, o grupo das 20 maiores economias do Estado de São Paulo (com a inclusão informal de Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra e a exclusão da Capital), São Bernardo e São Caetano seriam despachados para a Segunda Divisão. E Santo André estaria muito próximo disso. O resultado geral se refere ao PIB do Consumo per capita do G-22 da última década. Entre 2011-2020, tendo como base de dados 2010, o Grande ABC só se salvou de um vexame geral porque Mauá e Diadema avançaram consideravelmente na modalidade, ocupando a terceira e a quarta colocação na classificação geral. O Bolsa Família tem muito peso nesse resultado. São Caetano ficou na lanterninha na classificação geral da década. Correu muito abaixo da inflação do período, de 66,84%. Os estudos têm o suporte o banco de dados da Consultoria IPC, empresa especializada em potencial de consumo.
São Caetano é o caso mais grave
de desindustrialização pós-FHC
DANIEL LIMA - 20/12/2019
A desindustrialização do Grande ABC segue a se acentuar neste século. Com os novos números do PIB dos Municípios Brasileiros, relativos a 2017, consolida-se a liderança do ranking regional de perdas em São Caetano. Mas o conjunto dos sete municípios da região não encontra salvação: o que sofremos de prejuízo na geração de riqueza setorial nos últimos 15 anos, desde o final do mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso, representa a soma do PIB Industrial de Diadema e Rio Grande da Serra. Ou mais da metade de tudo que Santo André produz na indústria de transformação. Quando se coloca como base de comparação o último ano do segundo mandado de Fernando Henrique Cardoso, ou seja, 2002, e mesmo assim o comportamento da indústria do Grande ABC é negativo, sinaliza-se estado de atenção máxima. Os oito anos de FHC foram nefastos para a economia regional. Perdemos (revelamos seguidamente os resultados à frente da revista LivreMercado) nada menos que um terço do valor adicionado industrial. E agora, 15 anos depois, a média de perda da região registra 29,10% em termos de participação relativa e de 11,10% em participação absoluta. Participação relativa é quanto se compara o PIB Industrial com o PIB Geral do Grande ABC. Em 2002, o PIB Industrial do Grande ABC representava 32,55% do PIB Geral. Em 2017, caiu para 23,08%. Já participação absoluta é quando se deflacionam os números do PIB Industrial de 2002, comparando-os com o PIB Industrial de 2017. O PIB Industrial do Grande ABC em 2002 era de R$ 12.776.017 bilhões nominais, ou seja, sem inflação projetado a dezembro de 2017, quando registrou de fato R$ 27.373.619 bilhões. Aplicando-se a inflação do período, o PIB Industrial do Grande ABC deveria registrar R$ 30.794.033 bilhões. Ou seja, caiu 11, 10%.
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