Política

PT avança mais em Santo
André e menos em Diadema

DANIEL LIMA - 01/11/2022

É melhor acreditar na manchetíssima que diz que o PT avançou mais em Santo André (onde Jair Bolsonaro ganhou de Lula da Silva)  e menos em Diadema (onde Lula da Silva ganhou com facilidade)  nas eleição presidencial recém-terminada. Parece uma besteira sem tamanho, não é verdade?  Nem sempre o que aparentemente é óbvio é óbvio de fato. Nesse caso específico, trato da destruição do óbvio.  

Se você ainda não acreditou e acha que estou maluco de pedra é melhor se aquietar. Não caiam na conversa fiada de alguns cafajestes juramentados que, à falta de argumentos, acham que estou flertando com a loucura desde aquele tiro boca adentro. Costumo brincar, em resposta, dizendo que estou anabolizado,  porque o projétil segue em meu corpo.   

Fugir do quadradismo do que parece tão certo como dois e dois são quatro é um dos segredos de colher os apressados em contrapasso.  

BURACO DA FECHADURA  

Quando se olha um quarto pelo buraco da fechadura achando que o quarto é só aquilo que aparece no buraco da fechadura, o risco de cair de quatro na ignorância simplificadora é enorme. É disso que se trata o desempenho eleitoral do PT na região nos últimos quatro anos.  

Diadema, a mais petista das cidades da região,  avançou menos na recuperação dos votos conquistados pelo PT nesta temporada em relação ao que foi registrado em 2018. 

Se isso não é suficiente, digo também que em Santo André,  onde o PT está desmilinguido nos últimos anos, o crescimento dos votos em Lula da Silva, confrontado com o antecessor nas urnas, Fernando Haddad, é maior relativamente ao que foi identificado nas urnas de São Bernardo, onde o PT é mais forte, até porque se trata do braço de origem lulista.  

REAÇÃO ESPERADA  

Como faço todos os dias, lanço primeiro na rede de leitores num aplicativo de smartfone o que será lido algumas horas depois. A reação à manchetíssima desta edição já era esperada.  

Quem acredita que o conceito de obviedade é propriedade dos simplificadores saiu da toca para contestar.  

É claro que não adiantei nada do que vou revelar agora. Sem deixar de repetir: a mais avermelhada cidadela do Grande ABC (Diadema) avançou proporcionalmente em termos regionais menos nos votos ao PT do que nas eleições que consagraram Jair Bolsonaro em 2018.  

E o raquitizado PT de Santo André, que virou puxadinho do tucano Paulinho Serra, ofereceu um prato contrário, ou seja, viu o PT avançar além dos números relativos da vizinha São Bernardo entre as duas disputas presidenciais. 

A interpretação de dados é uma arte que precisa ser permanentemente refletida. Geralmente o que parece evidente não passa de armadilha. O caso dos votos petistas nos sete municípios da região nesta temporada, quando contrapostos aos números de quatro anos atrás, é emblemático.  

COMPARAÇÕES INADEQUADAS  

Comparar o desempenho de quem quer que seja em determinado Município com outro Município da região para avaliar a qualidade da gestão pública quer em forma de aprovação quer em forma de votação é um erro crasso.  

O Grande ABC não é uniforme nos cromossomos sociais e econômicos, e também no campo político-partidário. Já escrevi sobre isso, mas não custa repetir. 

Administrar uma São Caetano amarelada é completamente diferente de comandar a avermelhada Diadema, ou uma Santo André com um amarelo menos intenso em relação a São Caetano, mas muito menos abrasiva que uma São Bernardo levemente avermelhada. São condicionantes que precisam ser levadas em conta. 

ESCLARECENDO 

Mas, no caso presente, nesse que estou abordando, vamos deixar de lado o cromatismo e nos concentraremos no pragmatismo.  

A base da interpretação de que o PT de Diadema recuperou menos participação no eleitorado do que Santo André e que Santo André recuperou menos que São Bernardo está nos números específicos. Não só específicos, mas insofismáveis.  

Ou seja: os apressados comeram cru quando, ao lerem a manchetíssima aí de cima, ficaram alarmados com o enunciado.  

Para eles, principalmente quando se colocam em confronto Santo André e São Bernardo, o prefeito Orlando Morando perdeu feio para Paulinho Serra porque, enquanto Lula da Silva ganhou lá, Jair Bolsonaro ganhou cá. No caso, lá é São Bernardo e cá é Santo André.  

NEM MELHOR, NEM PIOR  

O que dizer, então, se o confronto fosse entre São Bernardo e São Caetano, onde Jair Bolsonaro obteve proporcionalmente muito mais votos que em qualquer outro Município da região? 

O que quero dizer é o seguinte: da mesma forma que é uma impropriedade afirmar que prefeito tal é melhor que outro prefeito porque os números absolutos de votação do PT nos respectivos endereços foram melhores.  

CIDADA POR CIDADE  

Para tornar a leitura uma estrada à compreensão didática, vamos ao desempenho do PT na disputa presidencial desta temporada comparativamente ao que ocorreu há quatro anos, quando Jair Bolsonaro ganhou de lavada na região. 

1. Em Diadema, o avanço proporcional do PT entre as duas disputas foi de 12,02 pontos percentuais. Esse é o resultado quando se colhe a votação de 2018 (48,00%) e deste ano (60,02%), sempre considerando os votos válidos.  

2. Em Santo André, o avanço proporcional do PT entre as duas disputas foi de 14,71 pontos percentuais. Esse é o resultado quando se colhe a votação de 2018 (33,16%) e a deste ano (47,87%), sempre considerando os votos válidos.  

3. Em São Bernardo, o avanço proporcional do PT entre as duas disputas foi de 13,38 pontos percentuais. Esse é o resultado quando se colhe a votação de 2018 (40,43%) e as deste ano (53,81%), sempre considerando os votos válidos. 

4. Em São Caetano, o avanço proporcional do PT entre as duas disputas foi de 15,00 pontos percentuais. Esse é o resultado quando se colhe a votação de 2018 (24,89%) e a deste ano (39,89%), sempre considerando os votos válidos. 

5. Em Mauá, o avanço proporcional do PT entre as duas disputas foi de 15,28 pontos proporcionais. Esse é o resultado quando se colhe a votação de 2018 (37,93%) e a deste ano (53,21%), sempre considerando votos válidos.  

6. Em Ribeirão Pires, o avanço proporcional do PT entre as duas disputas foi de 15,96 pontos percentuais. Esse é o resultado quando se colhe a votação de 2018 (33,31%) e a deste ano 49,27%, sempre considerando os votos válidos. 

7. Em Rio Grande da Serra, o avanço proporcional do PT entre as duas disputas foi de 14,71 pontos percentuais. Esse é o resultado quando se colhe a votação de 2018 (40,84%) e a deste ano (55,55%), sempre considerando os votos válidos.   

AVANÇO PETISTA 

Quando se observa o quadro de votação nos sete municípios do Grande ABC e tendo o período de quatro anos como balizamento a avaliações, o que se nota é que o PT teve um avanço considerável de 14,09 pontos percentuais. Em 2018, perdeu feio para Jair Bolsonaro por 62,12% a 37,88%. Neste ano, passou à frente: 51,97% a 48,03%.  

Os números finais do Grande ABC no confronto de 2018 com 2022 registram variação favorável ao PT que, em linhas gerais, se assemelha bastante aos resultados de cada Município.  

Os 14,09 pontos percentuais reconquistados pelo PT no Grande ABC estão muito próximos dos registros individuais dos sete municípios, como se viu logo acima. 

O resumo da ópera eleitoral desta temporada é que o PT cresceu de forma razoavelmente consistente no conjunto dos municípios do Grande ABC quando se considera como base de comparação o arraso que sofreu em 2018.   

CAINDO NO SÉCULO  

Se esticar o tempo de confronto envolvendo os números finais por Município e também na região do desempenho eleitoral do PT, a situação é típica de perda do viço popular.   

Na primeira vitória petista para a presidência da República, em 2002, Lula da Silva obteve na região 61,27% dos votos válidos. Caiu para 37,88% com a vitória de Bolsonaro em 2018 e agora chega a 51,97%.  

Querem saber onde o PT mais se enfraqueceu no Grande ABC, quando se comparam os dados de 2002 e de 2022?  

Em Santo André caiu 15,95 pontos percentuais, em São Bernardo perdeu 22,41 pontos percentuais, em Diadema 10,28 pontos percentuais, em Mauá 17,09 pontos percentuais, em Ribeirão Pires 12,23 pontos percentuais e em Rio Grande da Serra 5,35 pontos percentuais.  O PT só avançou em São Caetano no período de 20 anos, com a conquista de 15,00 pontos percentuais do eleitorado local.  

Portanto, a mais amarela cidade do Grande ABC é a única que ganhou alguma coloração vermelha em 20 anos de disputas eleitorais para o comando do Palácio do Planalto. 

Viram que a obviedade aparente nem sempre se confirma na prática? Ou não seria um suposto louco que, antes da revelação desses dados,  dissesse que o PT só cresceu em São Caetano neste século. Ou que São Bernardo perdeu um quinto dos votos avermelhados em 20 anos?  



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