Se você acha que dá para comparar a aprovação popular do prefeito de Guararapes com o prefeito de Araçatuba, do prefeito de Salto com o prefeito de São Bernardo, do prefeito de Santo André com o prefeito de São Caetano; se você acha que isso é possível, o melhor que posso dizer, com todo o respeito do mundo, é que você é ignorante em política, em sociologia, em ideologia, em tudo que se resuma a integralidade humana, por assim dizer.
Por essas e por outras que, quando se compara o desempenho entre os prefeitos do Grande ABC (como o Diário do Grande ABC faz mais uma vez hoje para encher a bola do prefeito de Santo André em detrimento dos demais prefeitos, numa operação mais que manjada), o mínimo que posso afirmar é que se trata de fake news.
Fake news tem múltiplas faces. Uma das quais é tratar coisas diferentes como se fossem coisas iguais.
GUARARAPES E ARAÇATUBA
Como fui por duas vezes o único ombudsman do Diário do Grande ABC ao longo da história (além de duas vezes comandante da Redação e muitos anos atuando em todas as funções possíveis de redação do jornal), fico à vontade para afirmar peremptoriamente que a manchetíssima de hoje do jornal dando conta que Paulinho Serra é o bambambã regional não passa de marketing.
Fiz referência a Guararapes e a Araçatuba no início desta análise porque a primeira é minha Terra Natal, onde vivi minha infância e parte da juventude, e a segunda onde completei o ciclo que antecede o que chamaríamos de início de maturidade.
Guararapes e Araçatuba fazem parte da minha história pessoal. E Araçatuba também de minha história profissional. Foi ali aos 16 anos de idade, na revista Cinelândia e na Rádio Luz, que iniciei essa profissão tão maltratada e tão vilipendiada.
MEDO DE ESTRADA
A referência a Salto, no Interior do Estado, se deve a um espaço para descansar mas ao qual pouco me desloco porque tenho pavor de estrada. Há quase três anos não vou a Salto. Em 2020 me instalei ali durante 40 dias para fugir do Coronavírus. Senti muita falta do Grande ABC. Como sinto de Guararapes e de Araçatuba. A diferença são 500 quilômetros de viagem de ida. E mais 500 quilômetros de volta. Sempre desisto de pegar a estrada.
Agora vamos ao que interessa. O Diário do Grande ABC publica hoje com base nos dados do Instituto Paraná que o prefeito Paulinho Serra ocupa o primeiro lugar em popularidade no ranking regional. A seguir veem o prefeito de São Bernardo Orlando Morando (o resultado fica praticamente na margem de erro) e outros três.
Tudo isso é bobagem. E explicou. Comparar um time de Série A do Campeonato Brasileiro com time da Série C do Campeonato Brasileiro é uma heresia. Pois é justamente isso que distancia Orlando Morando de Paulinho Serra. Ou São Bernardo de Santo André. Aproximá-los à revelia do bom-senso é dar um tiro no pé. Antes no pé do que no rosto.
Paulinho Serra e Orlando Morando e os demais prefeitos da região devem ser confrontados (e mesmo assim com série de restrições que podem anular o resultado final) com os antecessores dos mesmos municípios.
FECHANDO A PORTEIRA
Um dia desses vou produzir um texto mais bem elaborado do ponto de vista histórico-político-eleitoral para que os leitores entendam a diferença entre uma competição de primeira divisão e uma competição de segunda e de terceira divisão.
Mas há elementos que exigem citação. Por isso vejam o caso restrito a Santo André e a São Bernardo no que se relaciona ao ambiente político-eleitoral, que, a bem da verdade, deriva de histórico geopolítico, econômico, social e cultural.
Na última disputa eleitoral para a composição dos legislativos federais e estaduais, Santo André elegeu, com votos locais, apenas a deputada estadual Carolina Serra, mulher do prefeito Paulinho Serra. Como se sabe, toda a atenção e concentração de esforços eleitorais foram concentrados em Carolina. Santo André fechou as porteiras para eleger a mulher do prefeito numa operação estratégica fenomenal, instrumentalizada junto aos excluídos sociais. A máquina pública funcionou a todo pavor, como sempre funciona em situações análogas em todos os municípios do País.
JOGO PESADO
Em São Bernardo a história eleitoral em 2022 foi outra. Com votos fortemente locais foram eleitos três deputados estaduais (a mulher do prefeito tucano e os petistas Luiz Fernando Teixeira e o sindicalista Teonílio Barba) e três deputados federais (o ex-prefeito petista Luiz Marinho, o vice-prefeito situacionista Marcelo Lima e o também ex-sindicalista Vicentinho Paulo da Silva).
Se você começou a entender o que é uma competição de primeira divisão (no caso a abrasiva e fortemente petista São Bernardo) e uma competição de terceira divisão (no caso a morna Santo André de petismo esfacelado), você começou a compreender também que não existe argumento sustentável à tentativa de desclassificar ou jogar para o acostamento a conclusão desta análise.
Ou seja: é absolutamente incompatível com qualquer resquício de inteligência interpretativa e isenção profissional cair na rede de interesses que pretendem juntar o que é naturalmente diverso. Santo André é time eleitoral de terceira divisão enquanto São Bernardo é mesmo de primeira divisão.
MAIS CONCORRÊNCIA?
Não tenho a menor ideia do que se passa no eleitorado de minha Guararapes, cidade de 40 mil habitantes onde tenho um irmão curtindo a paz que falta por estas bandas. Certamente como homem de comunicação que sempre foi, além de especialista em música, caso seja instado ele me daria informações básicas sobre o andar da carruagem da política-eleitoral local.
Posso até estar enganado, mas provavelmente em Guararapes haja mais concorrência política do que em Santo André, onde na última disputa municipal o prefeito Paulinho Serra se reelegeu com quase 80% dos votos válidos e o PT, supostamente o maior adversário local, não chegou a 8%.
Esse resultado não se deve necessariamente a estrondosa gestão do vencedor. Longe disso. Paulinho Serra é mais um varejista na gestão pública. O que fez a diferença é que o PT desmilinguiu-se após os escândalos federais e fez acordos de sobrevivência da cúpula partidária em Santo André, juntando-se ao grupo de Paulinho Serra.
BICHO PEGA
Provavelmente e por outro lado, a minha Guararapes não reúna grau semelhante de belicismo político-eleitoral de São Bernardo, terra de Lula da Silva e de sindicalistas especialistas em garimpar votos nos estratos mais sofridos da população.
O bicho eleitoral pega tanto em São Berrando que não é possível definir uma marca cromática da cidade. Dizer que São Bernardo é vermelha é arriscado tanto quanto dizer que São Bernardo é amarelada (conservadora), depois de ser azulada (tucana) durante décadas. Há mescla a confundir definições.
Santo André foi razoavelmente avermelhada nos tempos de Celso Daniel porque Celso Daniel era tão competente que nem a direita e a centro-direita lhe negaram, a partir do segundo de três mandatos, reconhecimento do quanto se diferenciava dos prefeitos antecessores e também dos contemporâneos, por força da liderança política e exuberância técnica, não necessariamente por causa de popularidade.
TEMPO DEFINIDOR
Aliás, esse é o ponto. Independentemente de avaliações populares restritas aos respectivos municípios e, portanto, não extrapoladas a outros territórios da região, um prefeito bom de fato ou ruim de dar nó só se conhece ao longo do tempo.
Enquanto a popularidade sobretudo sem oposição significativa lustra o ego de um chefe de Executivo, tudo vai bem. Mas a história se faz ao longo do tempo, sobretudo quanto o tempo passa faz tempo e se chega a um futuro razoavelmente temperador de análises.
Comparar a gestão de terceira divisão de competitividade eleitoral de Paulinho Serra com a primeira divisão de competitividade eleitoral de Orlando Morando ou mesmo com a segundo divisão de competitividade eleitoral de José Auricchio, prefeito de São Caetano, tanto quanto a competitividade de segunda divisão de competitividade eleitoral de José de Filippi Júnior, de Diadema, e ainda a competitividade de primeira divisão do prefeito Marcelo Oliveira, de Mauá, é o cruzamento de insensatez, oportunismo, desconhecimento e tudo o mais.
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19/11/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (24)