Política

Terceiro turno revela força
abrangente do tarcisismo

DANIEL LIMA - 31/05/2023

Dando continuidade ao que analisei ontem, ou seja, que o tarcisismo é uma nova força política paulista com amplas possibilidades de expandir-se nacionalmente por conta do perfil da liderança diferenciada do disseminador, vou revelar hoje os resultados dos três turnos das eleições do ano passado. Três turnos eleitorais? 

Exatamente isso: três turnos eleitorais. Os dois primeiros são de conhecimento geral e consagrado, com dados públicos fartamente divulgados.  

O terceiro turno foi desprezado, mas revela exatamente o que serve como combustível ao convencimento ou à constatação de que o governador Tarcísio de Freitas flutua numa esfera eleitoral além do presidente Lula da Silva e do ex- presidente Jair Bolsonaro.  

TERCEIRO TURNO 

Nada surpreendente, convenhamos, para quem tem um capital eleitoral extra, medido de forma reversa, ou seja, o nível de rejeição do eleitorado que é elevado nos casos de Lula da Silva e de Jair Bolsonaro.  

O terceiro turno não é um conceito abstrato, essas coisas que jornalistas ou alquimistas, quando não políticos de carreira esgrimem para driblar o distinto público. 

Aliás, pensando bem, assim como tarcisismo é um verbete inexplorável na política partidária porque ninguém se deu conta de que existe no território paulista, terceiro turno, para valer mesmo, provavelmente jamais foi observado após o termino de uma disputa eleitoral. O imediatismo analítico impera. 

CONTRATO PROVISÓRIO  

Terceiro turno é um contrato provisório ou não com o futuro mais próximo. O capital eleitoral de um finalista não é descartável. Muito menos deixa de ser um ativo mensurável e um ativo também potencial. 

É isso: o terceiro turno apurado nas urnas é uma extensa avenida de observações que precisam ser feitas por quem tem interesse em tentar desvendar o futuro imediato das próximas urnas. E as próximas urnas estão chegando.  

A data marcada é outubro do ano que vem, quando a disputa pelas prefeituras vai adubar o terreno do que vem dois anos depois -- uma nova disputa presidencial e também ao governo de Estado.  

Para facilitar o entendimento, vou aos resultados dos três turnos da disputa pelo governo do Estado no ano passado no Grande ABC.  

VOTO ENTRE OS DOIS   

No primeiro turno, com todos os concorrentes, inclusive a terceira via do governador de então, Rodrigo Garcia, o petista Fernando Haddad, hoje ministro da Fazenda do governo Lula da Silva, venceu com o total de 55,76% dos votos válidos ante 44,24% de Tarcísio de Freitas.  

Esse placar precisa de ajuste explicativo: os percentuais de votos válidos que diferenciam Haddad de Tarcísio estão circunscritos ao total dos votos que ambos receberam. Os votos dos demais concorrentes foram descartados.  

No segundo turno, quando apenas os dois finalistas se enfrentaram, Haddad chegou na dianteira com 52,21% ante 47,79% de Tarcísio de Freitas. Nota-se, portanto, que houve recuo percentual do petista e avanço do representante do Republicanos.  

Afinal, o que vem a ser o terceiro turno como prova da elasticidade de votos materializados e também potenciais ao futuro do tarcisismo? 

MEDINDO AS DIFERENÇAS  

O terceiro turno é a diferença numérica (e percentual) de votos entre os dois finalistas quando se tem como base de comparação única e exclusivamente a votação registrada no primeiro turno. 

Se você ainda não entendeu, vou tentar simplificar. Pegue o total de votos (e o percentual de votos) de Fernando Haddad no primeiro turno e no segundo turno e faça o mesmo com Tarcísio de Freitas. Esqueça os demais candidatos do primeiro turno para que a comparação seja ajustável à premissa exposta. 

Vou dar um exemplo considerando o caso do eleitorado de Santo André. No primeiro turno, em termos de votos válidos, Fernando Haddad chegou levemente à frente de Tarcísio de Freitas. Foram 155.087 votos (38,90% do eleitorado), enquanto Tarcísio de Freitas registrou 149.338 (37,46%).  

Somando-se os percentuais dos dois concorrentes, eles totalizaram 76,36% dos votos válidos em Santo André. Ou seja: 23,64% dos eleitores decidiram-se por outros concorrentes. Especialmente por Rodrigo Garcia. Em termos de votos válidos apenas entre os dois finalistas, o primeiro turno apontou 304.425 votos. Haddad ficou com 50,94% e Tarcísio de Freitas com 49,06%. Esses, portanto, são os dados do primeiro turno.  

MUDANÇA DE TURNOS  

No segundo turno, quando evidentemente apenas competiram os dois finalistas, Tarcísio de Freitas virou o jogo com o total de 212.854 votos (51,59%) ante 199.768 (48,41%) de Haddad.  

Agora vamos chegar ao terceiro turno, que é nada mais nada menos que o excedente de votos registrado pelos dois candidatos finalistas no segundo turno em relação ao que obtiveram no primeiro turno, quando, repito, havia caudaloso número de disputantes.  

Esse excedente de votos em favor de Fernando Haddad chegou a 44.681 eleitores, enquanto adicionais 63.516 vestiram a camisa de Tarcísio de Freitas. Uma diferença favorável ao governador vencedor de 18.835 votos.  

O placar em Santo André do terceiro turno foi percentualmente muito favorável a Tarcísio de Freitas no estrito território do terceiro turno: do total de 108.197 votos excedentes, Tarcísio de Freitas ficou com 58,70%, ante 41,30% destinados a Haddad. 

Perceberam o quanto significou o peso da disputa frente a frente do segundo turno entre os dois concorrentes quando, portanto, foram excluídos os demais das urnas eleitorais?  

MANO A MANO  

Com a disputa mano a mano foi possível e sempre é possível medir com mais precisão o direcionamento de última ordem dos eleitores que em princípio, como foi o caso da disputa ao governo do Estado (aliás, também para a presidência da República) refletiram a polarização em que vivemos.  

No caso do Grande ABC, o fenômeno do tarcisismo dominador no terceiro turno foi geral e irrestrito. Nenhum dos sete municípios da região colecionou dados acentuadamente diferentes de Santo André.  

Todos os terceiros turnos na região foram vencidos por Tarcísio de Freitas. Inclusive nos municípios nos quais o agora governador perdeu no segundo turno, casos de Rio Grande da Serra, Mauá, São Bernardo e Diadema.   

PLACAR MUNICIPAL  

No caso de São Caetano, o placar do primeiro turno registrou vitória de Tarcísio de Freitas por 44,27% a 28,43%, no segundo turno por 60,11% a 39,89% e no terceiro turno por 58,16% a 41,84%.  

No caso de São Bernardo, o placar do primeiro turno registrou vitória de Fernando Haddad por 44,82% a 32,14%, o segundo turno registrou 53,81% a 46,19% também para o petista e o terceiro turno marcou vitória de Tarcísio de Freitas por 58,83% a 41,17%.  

Até em Diadema, o Município mais avermelhado do Grande ABC, o terceiro turno foi dominado por Tarcísio de Freitas. No primeiro turno, Fernando Haddad venceu por 54,05% a 28,47%, no segundo turno venceu por 60,56% a 39,44% e no terceiro turno deu Rodrigo Garcia por 57,25% a 42,75%.  

MAIS PLACAR 

Em Mauá, também avermelhada, mas nem tanto, no primeiro turno Fernando Haddad derrotou Tarcísio de Freitas por 45,82% a 34,53% dos votos. No segundo, o petista manteve a dianteira com 53,35% a 46,65%. Mas no terceiro turno, deu Tarcísio de Freitas: 57,60% a 42,40%. Um resultado praticamente igual ao de Diadema. 

Em Ribeirão Pires, Tarcísio de Freitas foi derrotado no primeiro turno por 38,46% a 36,21%, virou o jogo no segundo turno por 50,73% a 49,27% e foi muito melhor no terceiro turno com 57,22% a 42,78%. 

Completando o universo dos três turnos do Grande ABC, em Rio Grande da Serra o petista Fernando Haddad ganhou os dois primeiros turnos: impôs o placar de 44,96% a 29,52% no primeiro turno e, no segundo,  venceu por 55,96% a 44,04%. E perdeu no terceiro por 54,77% a 45,23%.  

Ainda tenho muito o que escrever sobre o tarcisismo. Há um desafio a desvendar: ele teria obtido a vitória eleitoral por estar atrelado ao então presidente Jair Bolsonaro ou apesar de estar atrelado ao então presidente Jair Bolsonaro?



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