Pesquisas informais para consumo próprio e que a mídia não vai divulgar (a maioria das pesquisas midiáticas é malabarista em nome da Ciência) garantem neste momento que o Tarcisismo é maior que o Bolsonarismo e o Lulismo como fonte de inspiração a votos nas eleições do ano que vem na região.
O que separa o Tarcisismo maior que o Bolsonarismo e o Lulismo é que o Tarcisismo se alimenta tanto dos ativos como dos passivos do Bolsonarismo e, suplementarmente, também dos passivos, só dos passivos, do Lulismo.
Isso quer dizer que os ativos do Bolsonarismo são ativos em larga escala do Tarcisismo enquanto os passivos do Bolsonarismo entre conservadores mais comedidos também seriam mais aderentes ao Tarcisismo. Já os passivos do Lulismo que estão na centro-esquerda, são potenciais ativos do Tarcisismo. Sei que dei um nó cognitivo no leitor, mas é preciso que dê mesmo por duas razões.
TERCEIRO TURNO
Preste atenção no serviço (de leitura) e entenda que em política, tudo é possível. Não seria eu a simplificar o complexo.
Essa análise vale para os sete municípios do ABC Paulista e está condicionada temporalmente à lógica de que política e nuvens são espécies de irmãos siameses, sempre com possibilidades de mudança de rumo ante uma lufada inesperada.
Em maio deste ano escrevi uma análise sobre os ganhos eleitorais do governador Tarcísio de Freitas nas disputas do ano passado, quando concorreu com o petista Fernando Haddad.
Provei com dados irrefutáveis, porque egressos das urnas (ou as urnas não são irrefutáveis?) que Tarcísio de Freitas funciona como espécie de linha auxiliar de Jair Bolsonaro. Além disso, é um aspirador de esperança entre os que rejeitam Jair Bolsonaro e Lula da Silva.
Esse contingente significou importantíssimo naco de votos do eleitorado que foi às urnas no segundo turno em relação ao que cravou Tarcísio de Freitas no primeiro turno.
MAIS VOTOS
Mostrei naquela oportunidade que Tarcísio de Freitas ganhou muito mais votos relativos na disputa do segundo turno do que Fernando Haddad quando se eliminavam os votos dos demais candidatos no primeiro turno e se contabilizam os votos adicionais que obtiveram no segundo turno. Chamei os votos excedentes de terceiro turno informal.
No primeiro turno no ABC Paulista Fernando Haddad superou Tarcísio de Freitas por 55,76% a 44,24%. Nessa conta, eliminam-se os votos dos demais concorrentes ao governo do Estado, inclusive o então governador Rodrigo Garcia.
No segundo turno, com os dois finalistas, o placar foi favorável ao petista por margem inferior à do primeiro turno – 52,11% a 47,79%.
O placar do terceiro turno, exclusivo com os votos adicionais dos dois concorrentes, já que os demais foram eliminados do segundo turno, Tarcísio de Freitas superou Haddad em todos os municípios, inclusive na vermelhíssima Diadema. Na contagem final desses votos excedentes, Tarcísio de Freitas ficou com 58,32% dos votos válidos, enquanto Fernando Haddad registrou 41,68%.
Vou explicar o critério de votação do terceiro turno. Tanto Tarcísio de Freitas quanto Fernando Haddad foram para o segundo turno e obtiveram mais votos do que no primeiro por conta de que os demais concorrentes comeram poeira. Tarcísio herdou mais votos de terceiros do que Fernando Haddad. Mas não foi suficiente para vencer o segundo turno na região, embora o vencesse no Estado.
DADOS SEMELHANTES
Pela ordem alfabética, em Santo André, o placar do terceiro turno foi favorável a Tarcísio de Freitas por 58,70% a 41,30%. Insisto na atenção dos leitores: esse resultado se prende exclusivamente às votações excedentes (do primeiro e do segundo turnos) dos dois candidatos, não o placar final em cada Município.
No primeiro turno, sempre em votos válidos, Haddad chegou na frente com 38,90% a 37,46% dos votos. Os demais votos válidos foram para terceiros. No segundo turno deu Haddad por 50,94% a 49,06%. Margem escassíssima.
O resultado do terceiro turno para o governo do Estado em São Bernardo foi semelhante ao de Santo André – Tarcísio de Freitas venceu por 58,83% a 41,17%. No primeiro turno deu Haddad por 44,82% a 32,13% e no segundo turno por 53,81% a 46,1%.
Em São Caetano, o placar do terceiro turno foi de 58,16% a 41,84% para Tarcísio de Freitas. No primeiro turno foi 44,27% a 28,43% para Tarcísio e no segundo turno foi 60,11% a 39,89% também para o governador eleito.
MAIS DADOS
Em Diadema, o placar do terceiro turno registrou 57,25% a 42,75% favorável a Tarcísio, que perdeu no primeiro turno por 54,05% a 28,47% e no segundo turno por 60,56% a 39,44%.
Em Mauá, mais Tarcísio de Freitas no terceiro turno: 57,60% a 42,40%. Fernando Haddad ganhou no primeiro turno por 45,82% a 34,53% e no segundo por 53,35% a 46,65%.
Em Ribeirão Pires, Tarcísio de Freitas ganhou no terceiro turno por 57,22% a 42,78%, depois de perder por 38,46% a 36,21% no primeiro turno e virar o jogo no segundo turno por 50,73% a 49,27%.
Completando o bicho-de-sete-cabeças regional, Tarcísio de Freitas venceu no terceiro turno em Rio Grande da Serra por 54,77% a 45,23%, mas perdeu os dois primeiros turnos (que valem de fato) por 44,96% a 29,52% e 55,96% a 44,04%.
Observa-se, portanto pouca variação nos percentuais nos sete municípios quando entra em campo apenas o terceiro turno.
Isso significa dizer com clareza que o potencial de votos de Tarcísio de Freitas expresso naquelas urnas seguiu trajetória de ascensão que, até prova em contrário, continua a ganhar tração agora eleito governador.
PRESTÍGIO TURBINADO
E por que Tarcísio de Freitas tem mais votos e prestígio hoje que o ex-presidente Jair Bolsonaro e o presidente Lula da Silva? Porque a visibilidade crítica do cargo presidencial é muito mais suscetível a idiossincrasias do que para governador e muito além do cargo de prefeito.
Por conta disso e também daquilo, nessa toada, Tarcísio de Freitas vai se revestir como o melhor cabo eleitoral da temporada de votos do ano que vem na região. Indistintamente em termos de endereço municipal.
Isso quer dizer também que na hora da votação (e sempre ressalto que tudo pode mudar na política, o que não me impede de tentar apontar caminhos eleitorais) o prestígio de Tarcísio de Freitas estará turbinado.
É evidente que para isso não poderá perder a base eleitoral mais incisiva de Jair Bolsonaro (e não faltarão especulações e mesmo tropeços nesse sentido), algo que deve ser colocado na última fila de possibilidades.
E na primeira fila de probabilidades deve estar preservado o eleitorado que escolheu Tarcísio de Freitas nas eleições do ano passado no primeiro turno (apesar da companhia de Bolsonaro para uma faixa estreita, mas perceptível) e a maioria dos eleitores de terceiros eliminados no segundo turno.
TERCEIRA VIA
A maioria dos eleitores que não queriam nem um candidato ungido pelo lulismo (Haddad) nem pelo bolsonarismo (Tarcísio), portanto, deu em outubro do ano passado um recado explícito – existe sim uma terceira via no eleitorado regional (e também no eleitorado nacional, que, em média, se comportou semelhantemente ao ocorrido na região na disputa presidencial, com crescimento relativo maior de Jair Bolsonaro no segundo e no terceiro turnos).
Essa terceira via não tem ligação alguma com os ainda hoje adormecidos analistas políticos e seus respectivos caudais de conexão nas prefeituras, nos governos de Estado e no Governo Federal.
Essa turma de sonâmbulos acredita que uma linguagem radicalmente contrária aos conservadores bolsonaristas e aos supostamente progressistas lulistas (regressistas, porque idolatram o Estado-gigolô) será decifrada pelo eleitorado supostamente mais civilizado.
Bobagem. Essa terceira via um dia virá mas como metamorfose ambulante de mudanças vagarosas e que não desembocarão necessariamente no patamar do receituário de coluna do meio que, todos sabem, não passa de adestramento à hipocrisia que petistas e tucanos cultivaram durante décadas. Até que o fenômeno Bolsonaro aparecesse no radar de transformações incômodas.
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19/11/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (24)