Carolina casada, Carolina caçada e Carolina cassada? Carolina é casada, é caçada mas não foi cassada. Carolina é casada com o prefeito de Santo André, Paulinho Serra. É caçada por adversários políticos que a veem como beneficiária da máquina pública e do Diário do Grande ABC na contenda eleitoral que a levou à Assembleia Legislativa. E passou sem riscos pela tentativa de cassação de mandato requerida pelo vereador oposicionista Ricardo Alvarez, do PSOL.
O Tribunal Regional Eleitoral não deu a acolhida pretendida, embora o relator do caso seja, como a quase totalidade dos integrantes dessa instância, e também do Supremo Tribunal Federal, analfabeto em jornalismo. O relator do Caso Carolina deveria se abster de comentários que remetem ao campo da comunicação social.
Carolina Serra não tem culpa por ser casada com o prefeito de Santo André entre outras razões porque, salvo engano, casou-se com o prefeito de Santo André antes de o prefeito de Santo André ser prefeito de Santo André. E mesmo que Paulinho Serra já fosse prefeito de Santo André, o ritmo da chuva de contestações improcedentes não sofreria mudança alguma.
PLACAR SURRADO
Carolina Serra também não tem culpa por ser caçada por adversários do marido Paulinho Serra e também por conta da própria vitória eleitoral. Ela cumpriu o papel de concorrente que as circunstâncias favoreceram. Terceiros que reclamam provavelmente não abririam mão de ser a Carolina de Paulinho Serra.
A responsabilidade pelos quase 200 mil votos obtidos, a quase totalidade em Santo André, é conjunta para o bem e para o mal. Carolina Serra não inaugurou o placar de privilégios às primeiras-damas. Faz parte do jogo eleitoral. Soube, como poucas primeiras-damas, juntar parentesco e estratégia.
Carolina Serra pretendidamente cassada por infringir a legislação eleitoral, conforme solicitou o vereador Alvarez, seria mais um exemplo de autoritarismo da Justiça Eleitoral, jabuticaba de prestígio contestado no organograma da Justiça do País. Carolina Serra nem precisaria da defesa de um especialista da área, Leandro Petrin, para fugir de degola insustentável.
TRIPLICE ETIMOLOGIA
O fato é que tivemos no caso de Carolina, casada, caçada e não cassada a tridimensionalidade etimológica que ganha individualidade própria sem que uma coisa tenha a ver com a outra no sentido de confluírem rumo à perda de mandato mal iniciado.
A etimologia distingue sem subterfúgios o sentido específico de casada, caçada e cassada que abrange a demanda do psolista Ricardo Alvarez, solidário contestador da Administração Paulinho Serra.
Ricardo Alvarez é ideologicamente tudo aquilo que não sou, mas lamento que não tenha réplicas em Santo André. O imperialismo do grupo de Paulinho Serra não seria tão arrasador e nefasto.
Não teria cometido o erro que Alvarez cometeu. A demanda desse caso de Carolina é por natureza um blefe que afeta a credibilidade do parlamentar em questões mais graves e juridicamente contestáveis.
Carolina Serra tirou vantagem sim na disputa eleitoral pelo fato de ser casada com o prefeito Paulinho Serra, condição que a alçou inclusive a uma secretaria de linha de frente. Também não pode reclamar da sorte de ser caçada eticamente, por assim dizer, pelos adversários.
Só não pode ser levada à vala comum de irregularidades porque contou com o suporte logístico não só da maquinaria pública como também do jornal Diário do Grande ABC, como ressaltou o vereador Alvarez.
VIVEIRO ASSISTENCIAL
O fato de ser mulher do prefeito concedeu a Carolina Serra a distinção de organizar uma campanha eleitoral vitoriosa entre outras razões porque aplicou extraordinário senso de observação e atuação. Falar de uma Santo André Viveiro Industrial como o marido ainda tenta vender a cidade seria estupidez ressonante e comprometedora. Já com o Viveiro Assistencial, Carolina Serra atingiu o fulcro de Santo André.
Carolina Serra transformou as 120 entidades assistenciais de Santo André em ramais eleitorais num trabalho de fôlego. Plásticos descartáveis viraram ativos financeiros e ambientais que redundaram em alimentação. Ou seja: Carolina Serra jogou no lixo da realidade o Viveiro Industrial que consta do Hino Oficial de Santo André. Preferiu adotar o pragmatismo de Santo André Viveiro Assistencial.
Só faltaria a Carolina Serra, agora, propor mudança no próprio hino, que não tem mais sentido de ser quando se olha para o passado e se projeta o futuro.
CAMPANHA DEMOLIDADORA
Sem perder o fio da meada, me senti incomodado durante a entrega do título de Cidadão Andreense ao desembargador federal Antonio Carlos Cedenho na noite de terça-feira. Ao ouvir a execução do Hino de Santo André, o trecho que faz referência ao Viveiro Industrial me pareceu despropositado. Não vou dizer que o hino se tornou, nesse ponto, uma fraude, porque seria pesado demais. Mas é constrangedor.
O fato também inquestionável é que Carolina Serra atiçou muitos adversários por conta da retumbante vitória. Sobretudo porque a estrutura que a moveu rumo à Assembleia Legislativa foi de fato e flagrantemente protetiva e privilegiada.
Não se tem notícia do quanto ao longo dos anos uma primeira-dama foi tão beneficiada pelo marido prefeito como se viu em Santo André, porque a naturalidade de dar sustentação a candidaturas de primeiras-damas atingiu provavelmente o grau máximo. Tudo foi feito para Carolina Serra reinar.
O Paço Municipal fechou o cerco em nome da candidatura da mulher do prefeito. Selecionaram-se os candidatos a deputado estadual e a deputado federal tendo como premissa básica compor dobradinhas com a primeira-dama.
MELHOR UMA IMAGEM
Pretendia utilizar uma expressão que simbolizaria a tática, mas nesse caso específico poderia levar a distorções semânticas que jamais adotaria.
O fato é que os parceiros eleitorais de Carolina Serra agiram como agem jogadores de futebol americano para permitirem que um companheiro rompa os obstáculos e chegue à meta consagradora. Eles, os parceiros, deram sustentação à primeira dama no adensamento de votos.
Já no terceiro vértice da etimologia de casada, caçada e cassação é preciso reconhecer que o vereador Ricardo Alvarez tem toda a razão do mundo no campo jornalístico, mas nenhuma razão quanto à legalidade da situação.
É de livre arbítrio da linha editorial do Diário do Grande ABC privilegiar ou discriminar quem bem entender. No caso de Carolina Serra (e também de Alex Manente, um pouco menos de Fernando Marangoni) o jornal acionou todas as baterias para engrossar o eleitorado, em detrimento dos demais candidatos.
CABO ELEITORAL
O Diário do Grande ABC foi um dos cabos eleitorais de Carolina Serra. Garantiu uma parte dos votos registrados, mas a maioria mesmo veio de entidades assistenciais. O jornalismo de papel não tem poderes miraculosos de atingir classes populares. Nem com o auxílio da Internet.
Com Carolina Serra e Alex Manente (tenho dezenas de páginas que comprovam a política editorial enviesada) tivemos o excesso do excesso. Algo pouco visto na história do jornal, uma história regada sim a posicionamentos semelhantes que sempre contemplaram os queridinhos da direção.
Mas, por mais que o Diário do Grande ABC tenha sido descaradamente serrista e manentista na campanha eleitoral, não existe a mínima possibilidade de caracterizar a linha editorial como contravenção eleitoral.
O Diário do Grande ABC não é uma concessão pública. Ao perfilar seletivamente ao lado de Carolina e Alex, possivelmente recolheu bônus e danos da decisão. Sob meu comando, jamais teria cometido tamanha lambança editorial.
RELATOR DESASTRADO
Não poderia deixar de mostrar o quanto o relator do caso no Tribunal Regional Eleitoral, Silmar Fernandes, é ingênuo no trato interpretativo da atuação de veículos de imprensa. Segundo reprodução de parte da reportagem de hoje do Diário do Grande ABC disse o seguinte o relator ao contestar o que seria uso abusivo de poder por parte de Carolina Serra: “Pela razão de destaque de ser primeira-dama e ex-presidente do Fundo Social de Solidariedade, é mais ou menos intuitivo e natural que um jornal que circula há 65 anos e se chama Diário do Grande ABC, fosse dar um destaque a essa posição. Porque se o Diário do Grande ABC não destacar a primeira-dama de Santo André, quem vai? A Gazeta de Pernambuco? Por isso, não vi esse abuso”, disse Silmar ao encaminhar seu voto – escreveu o Diário do Grande ABC.
Trata-se, como se vê, de interpretação que resvala à anedota sem graça e que se volta contra o próprio autor. Afinal, justamente por se chamar Diário do Grande ABC o privilégio concedido a uma primeira-dama em detrimento de outros concorrentes e à democratização informativa se configura eticamente conflitivo.
O encaminhamento à votação unânime de rejeição à solicitação do vereador oposicionista em Santo André, à falta de provas documentais que se exigem a eventual cassação de mandato, poderia prescindir de exercício retórico incabível.
A mulher do prefeito de Santo André foi privilegiada sim pela máquina pública e pelo Diário do Grande ABC na campanha eleitoral. Para tanto, entre outros condimentos, contou com luz própria de enxergar espécie de Bolsa Miséria nas periferias do antigo Viveiro Industrial tanto contestado. Daí, entretanto, à ilegalidade eleitoral pretendida vai uma grande distância.
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19/11/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (24)