A partir do próximo primeiro de janeiro os três prefeitos reeleitos em 2016 e que governaram as mais importantes cidades do Grande ABC vão ser ejetados dos paços municipais. O que eles farão nos primeiros tempos de afastamento obrigatório do Poder Executivo? Decidi meter a colher de abelhudice nesse caldo de mocotó de especulação.
Antes disso, uma observação que precisa ser exercitada. Sou avesso a especular sobre a vida de quem quer que seja, não me meto no destino de ninguém, desde que não seja chamado. Isso vale para a pessoa física. Sou um túmulo. A pessoa jurídica, que escreve a três mil anos, é diferente. Não chega a ser um corneteiro, mas aprecia bastante um barulho responsável. É um centroavante em busca de gols. Mas, também, só cuida do que interessa ao público.
O futuro mesmo que próximo de Orlando Morando, José Auricchio Júnior e Paulinho Serra precisaria ser observado com lentes de cautelam mas também de certo atrevimento, a partir de duas janelas de curiosidade.
a) Da Administração Pública que deixarão para sucessores próximos.
b) Da organização macropolítica como ações individuais e partidárias.
APOIO AOS SUCESSORES
São esses dois pontos na mesa de possibilidades que devem ser desfraldados. Não tenho compromisso nenhum com acerto especulativo. Vou apenas e simplesmente explorar a imaginação, quando não a criatividade e, claro, informações nem sempre claras.
É preciso ressaltar que os três prefeitos jubilados fizeram sucessores. É bem verdade que Marcelo Lima não estava nos planos prioritários de Orlando Morando, que preferiu a sobrinha sem memória eleitoral. Morando soube costurar o apoio a Marcelo Lima no segundo turno. E Marcelo Lima sabe que sem o apoio de Orlando Morando teria sucumbido ante um Alex Manente mais poderoso do que nunca. O que não fazem as emendas parlamentares e os fundos eleitorais?
Isto posto, ainda sobre Orlando Morando, é possível que o grau de confiança e de reciprocidade que o envolveria com o prefeito eleito não teria a mesma argamassa dos casos de Paulinho Serra e de José Auricchio Júnior. Mais de Paulinho Serra do que de José Auricchio Júnior.
GILVAN SERRA?
Explico essa questão. Não há a menor sombra de dúvida de que se alguém pronunciar o nome do prefeito eleito em Santo André levado pelo subconsciente popular, gerado pela mídia, o prefeito eleito em Santo André será chamado de Gilvan Serra.
Existe tanta intimidade entre os dois -- e no grupo mais coeso de poderes compartilhados na Prefeitura de Santo André -- que não haveria exagero nas interpretações a partir de janeiro do ano que vem. Paulinho Serra seria o prefeito do prefeito. Isso não é maldade jornalística ou coisa que o valha. É o senso comum. E Gilvan Júnior tem culpa no cartório porque é uma réplica verbal e discursiva de Paulinho Serra.
Isto posto, então o encaminhamento do destino nos primeiros tempos da gestão de Gilvan Júnior, que também seria Gilvan Serra, dá conta de que Paulinho Serra estará bem acomodado nos escaninhos da Prefeitura de Santo André. Talvez mais que nos escaninhos, porque Paulinho Serra gosta mesmo é de holofotes. E os tem às pencas. Resta saber se novos poderes paralelos, ou poderes paralelos que se fortaleceram, não mudariam de ideia.
Claro que não passaria pela cabeça de Paulinho Serra ser secretário municipal. Primeiro, porque seria tiro no pé de rebaixamento hierárquico. Segundo porque o cargo poderia levar a duas veredas contrastantes: Paulinho Serra cometeria um erro estratégico ao se tornar auxiliar do prefeito eleito ou despertaria a maledicência de que ocuparia mesmo o cargo como disfarce de prefeito do prefeito.
PLANOS DE PAULINHO
Sabe-se que Paulinho Serra tem outros planos. Durante os oito anos de dois mandatos construiu pontes com figuras mais que manjadas da politica estadual. Desde João Doria, o qual abandonou quando percebeu que a canoa do então governador iria virar, até caciques como Gilberto Kassab e Valdemar Costa Neto, mestres na arte de controlar cordéis partidárias.
Fala-se que por conta dessas relações e de tantas outras Paulinho Serra poderia virar secretário municipal na Capital. É possível. Mas que fique atento. Leniência midiática não faz parte com tanta intensidade do caderno de relacionamento dos jornalistas da Capital, especialmente se decidirem meter bronca. A política de efeitos especiais estaria comprometida se Paulinho Serra abusasse da dose.
Talvez o cargo de presidente estadual do PSDB, em fim de feira, mais atrapalhe do que ajude Paulinho Serra. Os tucanos praticamente desapareceram no Estado. Sobrou a Paulinho Serra a missão de fechar o caixão. Colocar no currículo político que foi o último dirigente do partido que um dia comandou o País e, a bem da verdade, dividiu o tango no teatro de tesouras com os petistas, seria uma péssima ideia. Melhor tomar um aguardente antes. Pelo menos terá a desculpa da embriaguez. Uns e outros fazem isso na politica e o pessoal costuma perdoar.
PASSOS INDECIFRÁVEIS
Orlando Morando não dá sinais públicos do que seria a partir de janeiro. Não há a mínima possibilidade de estar para Marcelo Lima assim como Paulinho Serra estaria para Gilvan Júnior. Nem sem um obstáculo eleitoral chamado Flávia Morando no meio do caminho a participação de Orlando Morando seria proeminente no organograma e nos corredores do Paço Municipal.
Marcelo Lima destila mais personalidade e menos dependência ou fidelidade ou qualquer outra coisa que Gilvan Júnior. E tem embocadura de poder mais forte também, porque, mesmo com o suporte da estrutura eleitoral de Orlando Morando no segundo turno, não dependeu tanto do prefeito atual como Gilvan Junior de Paulinho Serra e seus acompanhantes de luxo para fechar o jogo no primeiro turno, depois da botafogada de criar os próprios adversários, aquele Exército de Brancaleone, e de correr atrás do governador bem avaliado para evitar surpresas. Além claro, do socorro de Valdemar Costa Neto e Gilberto Kassab.
OUTRA CONFIGURAÇÃO
A maturidade política de Orlando Morando é bastante superior a de Paulinho Serra. Morando está longe de depender de forças auxiliares que muitas vezes são forças dominantes, quando não aviltantes. Com isso, habilita-se à probabilidade de virar secretário de Estado do governo Tarcísio de Freitas. Nada robusto, mas também nada descartável.
Há informações que dão conta de que ambos, o governador e Orlando Morando, mantêm relações respeitosas e de certa forma comprometidas, embora também não falte quem diga o contrário.
Certo é que sem força relativa considerável na Prefeitura que vai deixar em 31 de dezembro, mas, mesmo assim, uma peça vital a dar densidade programática à gestão de Marcelo Lima, Orlando Morando provavelmente terá no ano que vem uma agenda política mais discreta.
UM MEIO-TERMO
Quanto a José Auricchio Júnior, não se tem muitas informações além das convencionais de que, também, mesmo sem estar para o prefeito eleito Tite Campanella assim como Paulinho Serra para Gilvan Júnior, as peças do jogo de xadrez da Administração de São Caetano não seriam destruídas como se um pombo houvesse invadido a sala dos ocupantes de decisões e tornasse os ensaios de nova ordem um mundaréu anárquico.
Trocando em miúdos: as condicionalidades de apoio à candidatura vitoriosa de Tite Campanella assegurariam ao grupo de José Auricchio elevado grau de fidelidade e de continuidade da gestão. Tite Campanella não seria o prefeito-tampão de uma temporada por conta da suspensão da posse de José Auricchio, mas também não daria um grito de independência.
São Caetano não costuma perdoar quem se atreve a transformar o comando político e administrativo em caixinha de surpresas.
Tudo isso e muito mais poderão ser confirmados ou colocados no abismo do desbaratamento de poderes dos três prefeitos eleitos na medida em que os dias se passarem no ano que vem. Dissidências aparentemente naturais podem ganhar conotações de gravidade se os impactados constarem do círculo de confiança dos prefeitos que se foram.
DISSIDÊNCIAS PREVISÍVEIS
Estou captando com cuidado e atenção declarações dos vencedores nos três municípios de prefeitos reeleitos que fizeram sucessores, mesmo que sucessores mitigados, caso de Marcelo Lima.
Já ouvi algumas frases que me deixaram de cabelo em pé, embora cabelo em pé no meu caso seja força de expressão. Mas, de forma alguma, vou fazer considerações a respeito. Senti aqui e ali alguns ensaios de dissidências ou, para não parecer divisionista, de restrições em forma de aperfeiçoamentos. Não vou avançar nesse aspecto de análise porque não pretendo ser fonte de intrigas.
E querem saber? Nada mais comum que desavenças mesmo que eventualmente pouco discretas ocorram. Ainda não fabricaram um elixir da concordância total entre os humanos, principalmente entre humanos que lidam com qualquer tipo de poder, de um botequim ou de um gabinete de decisões políticas, tudo repleto de egocentrismo. Nem a Santa Igreja escapa.
Certo mesmo sobre o futuro dos prefeitos atuais que vão virar ex-prefeitos a partir de janeiro é que cada um vai iniciar o respectivo mandato com pesos de responsabilidade diferentes e com perspectivas nada sustentáveis.
RANKING COMPLICADO
No caso de Marcelo Lima, manter o posição de São Bernardo no Ranking de Competitividade dos Municípios Brasileiros, o mais respeitado estudo sobre a situação dos maiores endereços do País, será um exercício extraordinário. O 21º lugar na classificação geral é um desafio quando se mergulha nos 65 indicadores.
E mais ainda: Orlando Morando pegou o rabo de foguete dos estragos do governo Dilma Rousseff, com o PIB local batendo recorde nacional de derrapagem, e mesmo assim vai entregar uma cidade em ordem no balanço geral de competitividade. Morando é um prefeito obreiro. Revolucionou a logística de São Bernardo.
No caso de São Caetano de Tite Campanella, sexta colocada no ranking nacional de competitividade, há fortes concorrentes que carregam a ameaça de rebaixamento continuado. Os dados do ano passado, relativos à temporada de 2022, foram de certa forma frustrantes, com queda de seis posições.
DEMOCRAFIA E TERRITÓRIO
São Caetano se segura por conta de menos sobrecarga que os demais municípios locais. A gestão pública, por conta da demografia e da territorialidade, só se preocupa, efetivamente, com manutenção dos serviços e de investimentos complementares. Auricchio é um prefeito zelador. As demais cidades precisam correr eternamente do prejuízo de sobrecarga demográfica e palidez econômica.
No caso de Santo André, 117ª colocada na classificação geral e uma série de buracos no atendimento à sociedade, é provável que Gilvan Júnior tenha ataque de nervos porque não pode entregar a Prefeitura em quatro anos abaixo da mediocridade constatada de Paulinho Serra, prefeito marqueteiro por excelência.
Santo André é o caso mais grave entre as três cidades. Até porque, o marketing de que tudo está uma maravilha resistirá cada vez menos às evidências que se eternizam. Não se vive apenas de circo.
Certo mesmo é que os três prefeitos que vão virar ex-prefeitos podem assistir a tudo de camarote, mesmo que estejam próximos do poder municipal. Afinal, os desafios de competitividade estão lançados e as perspectivas para o trio de prefeitos eleitos não são das melhores, considerando-se que o comportamento das três cidades ao longo deste século é de permanente queda econômica. Não se dá cavalo de pau em Desenvolvimento Econômico.
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13/11/2024 O que farão Paulinho, Morando e Auricchio?