Política

TERRITORIALISMO TOMA
LUGAR DO REGIONALISMO

DANIEL LIMA - 28/04/2025

Muito cuidado com o que estão vendendo como força institucional do Grande ABC de sete municípios e três milhões de habitantes. O Clube dos Prefeitos com nova turma não passa de incremento do conceito de territorialismo que se pretende vender como regionalismo.

Territorialismo, seguindo a gênese separatista da região, é espécie de municipalismo estendido. Se municipalismo numa cartografia  que era única no passado se transformou numa péssima experiência, imaginem então o municipalismo turbinado pelo territorialismo regional.

Municipalismo com condimento territorialista é muito pior que os resultados do processo separatista que dividiu Santo André da Borda do Campo em sete pedaços desiguais. O cômico se não for trágico é que a ideia-celular dessa iniciativa já em curso está em Santo André, ponto histórico de discórdias no passado.

Esse territorialismo ou qualquer territorialismo não tem nada a ver com regionalismo. É, de fato, uma prática antagônica e cruelmente devastadora porque se junta ao municipalismo ambicioso e egoísta.  

REGIONALISMO DETESTADO 

Já escrevi sobre isso nos últimos tempos, mas agora acho que encontrei encaixe léxico-cultural que elimina eventuais dúvidas. O territorialismo em ação no Clube dos Prefeitos é ação de conquista grupal de municipalistas e exclusão da sociedade como um todo.

Conquista de aliados que gozem dos mesmos interesses e exclusão dos opositores, mesmo que os opositores desejem colaborar com dignidade.

Os territorialistas detestam o regionalismo porque o regionalismo pressupõe compartilhamento, mas também choques e entrechoques típicos da democracia representativa. Os territorialista são extrativistas sociais. Não querem participação de estranhos na fome pelo poder extrativista.

Os municipalistas avessos ao regionalismo resistem à ideia de acrescentar forças políticas e sociais. Pretendem reforçar ainda mais em seus domínios naturais e, com isso, construírem com os demais agentes regionais uma fortaleza que aniquilaria os adversários locais. Municipalismo e territorialismo são mais que um casamento fonético. São complementos de uma mesma operação carregada de toxidade social.  

SETE PERSONAGENS

Se você ainda não entendeu o que se passa no Grande ABC vendido nos últimos tempos como uma reorganização interna que colocaria o Clube dos Prefeitos a serviço da sociedade como um todo, vou tentar explicar de forma metafórica.

Imagine sete personagens, por acaso prefeitos dos municípios do Grande ABC, que sempre viveram às turras ou fingiram-se parceiros de adversários locais, ou seja, nos limites territoriais que mais lhe interessavam, o territorialismo do voto nas urnas a cada quatro anos.

Esses sete personagens jamais se entenderam para valer como conjunto à frente de uma associação que os aproximava com potencial resolutivo beneficiário a todos. Não à toa o Clube dos Prefeitos não passa de um blefe de organização coletiva. Exceção, claro,  durante largo período sob o comando de Celso Daniel, criador da instância em dezembro de 1990.

Entretanto, porém, todavia e contudo, eis que no ano da graça de 2025, como fruto de uma articulação previamente definida para chegar aos resultados eleitorais desejados, os sete personagens novos, quase todos novos no esquadrinhamento municipal, conquistaram o poder conjunto da associação em causa. No caso, claro, o Clube dos Prefeitos.

UM BARCO FURADO

A ideia de juntá-los para valer no Clube dos Prefeitos para vender o barco furado de regionalidade virou mantra. Mas o objetivo de fato é outro: regionalismo é apenas pretexto, porque é o territorialismo que os aproxima e os anima. Inclusive com a pré-condição de que não haveria tentativa de invasão política em qualquer espaço alheio. Alinhamento com restrições, por assim dizer.

Essa operação está em curso no Grande ABC, com aplausos e colaboração, quando não submissão, da quase totalidade da mídia e instituições sociais e empresariais de diversos calibres. Enganar o distinto público com a propagação de causas regionais é a melhor saída para a tomada do que interessa a todos: o territorialismo municipalista expandido de forma conciliadora e complementadora.

Ou seja: os sete personagens são amigos para valer porque vale a pena essa aproximação. Estarão garantidos com reforços nos embates municipalistas e se retroalimentarão nos embates territorialistas.

ORDEM GERAL E IRRESTRITA

A ordem geral e irrestrita é não deixar adversário algum meter o bico entre eles. Sufocá-los tanto no âmbito municipal quanto  regional é a garantia de que o territorialismo com fundo municipalista, ou municipalismo com fundo territorialista, se fará vencedor. Duplamente vencedor, porque será dado como sucesso de regionalismo.

Os marqueteiros por trás dos vencedores municipais de outubro do ano passado estão ativos agora como idealizadores do territorialismo travestido de regionalismo. O objetivo é evidente: todas as forças políticas, sociais e midiáticas que giram em torno do Estado, no caso os Paços Municipais, estarão alinhadas à mesma projeção de controle geral da sociedade.

Os oposicionistas serão arrasados. E estão sendo arrasados na medida que retaliações municipais já se consumaram. A ciranda dos sete amigos é uma ciranda de circo mambembe quando se pretende projetar o Grande ABC do futuro, mas é o movimento que lhes convém.

Territorialistas não pensam no conjunto da sociedade. Pensam e fazem tudo para se garantirem como  substitutos da sociedade calada e discriminada. 

ANOS DRAMÁTICOS

Hão de convir os leitores que, não fosse a realidade que de que os atores, em larga escala, são ruins de ofício, porque pouco gabaritados a dissimular com arte o que carregam no ventre da enganação, hão de convir os leitores que se trata de uma jogada de mestre.

Jamais houve tamanha ousadia no Grande ABC de sete partes desiguais, divididas politicamente. Quando essa mesma divisão já não é mais a mesma e quando essa mesma divisão passa a contar com os detentores dos poderes municipais unidos em torno da mesma causa – ou seja, sustentarem uma dinastia de poder municipal – o que resta esperar?

Essa estratégia recheada de táticas confusas só é possível porque os sete municípios do Grande ABC e principalmente cada município individualmente vivem o mais dramático período social e econômico da história.

Estamos pagando o preço de quatro décadas de descuidos continuados, quando não negados, de aniquilamento de uma sociedade empobrecida. Mais que isso: uma sociedade servil e desorganizada que somou à frouxidão de cidadania a subjugação à pauta política nacional, concentradora de manifestações nas redes sociais.

PACTO OPERACIONAL

Os territorialistas do Grande ABC assumiram espécie de pacto de honra: as cores partidárias não têm importância alguma. A sedução proporcionada por um ambiente de quase unanimidade, com descarte permanente de tudo que possa afetá-los no territorialismo municipalista e no territorialismo regional, é o amalgama a que cada prefeito tenha livre-arbítrio para fazer o que bem entender. Desde que faça o que a cúpula do expansionismo territorialista a partir do municipalismo dominante assim determine.

Convém ao leitor dar uma espiadinha permanente no noticiário regional. Reparem bem nas linhas e nas entrelinhas. Nos títulos e nos subtítulos. Quem se opuser aos atuais prefeitos não terá vez. De vez em quando para disfarçar o indisfarçável para quem entende desse jogo de cartas marcadas, saltarão alguns títulos e subtítulos, quando não matérias, supostamente críticas a um ou outro prefeito de plantão. Pura enganação.

O regionalismo só existiria no Grande ABC, principalmente a partir do Clube dos Prefeitos, supostamente a vitrine institucional mais importante, se os territorialistas não fossem tão descaradamente imediatistas no plano de dominação geral e irrestrita.

SAÍDA PARA ESPECIALISTAS

A transformação do Clube dos Prefeitos num organismo vivo e ativo passa obrigatoriamente pela profissionalização executiva. Uma profissionalização sem qualquer resquício de partidarismo político. Uma profissionalização liderada por especialistas em competitividade econômica. Alguém que de imediato forme uma força-tarefa que dê a largada numa disputa desigual mas não perdida que está na praça regional: o enfrentamento à invasão chinesa no setor automotivo combinada com as jamais arrefecidas evasões de empresas locais rumo ao Interior do Estado de muito mais competência para atrair fontes do capitalismo.

O Clube dos Prefeitos virou Clube dos Prefeitos Pedintes, mas faz pouco-caso da sociedade porque sabe que o senso crítico regional morreu de morte matada, quando não se juntou aos poderosos de plantão que deitam e rolam no tapete do triunfalismo autofágico.

Estamos vivendo o pior trecho da história institucional da região. Estamos em plano Triângulo das Bermudas da Insensatez. Os municipalistas não abrem mão do que são e pretendem extrair nacos do territorialismo. O territorialismo sabe que não vira uma usina de engabelações sem o municipalismo de quem tem o poder circunstancial. E o regionalismo é enganado na cara dura quando confundido com municipalismo e territorialismo.


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