Administração Pública

Aidan no ataque

DANIEL LIMA - 30/01/2009

A contraface da paralisia da administração Aidan Ravin em Santo André neste começo de mandato de quatro anos é a ameaça mais que escancarada de retaliação a possíveis tropeços gerenciais petistas.


A impressão que Aidan Ravin transmite é que dirige com os olhos e a mente no retrovisor. Talvez não veja o caminhão de complicação à frente.


O anúncio de que o novo prefeito de Santo André contratou auditoria especializada para analisar mais de duas centenas de contratos assinados pela administração que o precedeu é mensagem supostamente segregada, de entendimento apenas entre os versados em política; entretanto, a medida não passa de pataquada: qualquer analfabeto já percebeu que há nessa manjada movimentação de pedras um componente pré-retaliatório. Acredita-se demais em cegueira coletiva, imaginando-se que Santo André seja uma réplica da obra de Saramago levada ao cinema.


Enquanto estiver pautando a mídia sem imaginação e sem profundidade sobre a relevância fenomenal dos contratos firmados pelo PT de Santo André, mais as inseguranças e limitações do governo Aidan Ravin permanecerão nas brumas do desconhecimento.


Está certo e não se deve negar muito menos brigar com os fatos: a maior zebra eleitoral do segundo turno no Brasil ainda não teve tempo para saber em detalhes o que acontece no Paço Municipal e, portanto, seria exagero cobrar-lhe resultados. É isso mesmo e está acabado.


Entretanto, uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.


O que deve ser analisado sem paixão ou partidarismo, sem omissão e sem privilégio, sem perseguição e sem descaso, é o seguinte: o que Aidan Ravin quer para Santo André durante os quatro anos de mandato que a classe média lhe conferiu em altíssimo grau de confiança ou de descarrego antipetista?


Cadê efetivamente seu plano de governo, sobre o qual os formadores de opinião independentes poderiam monitorar todos os passos?


A suspeita de que Aidan Ravin é uma continuidade piorada, muito piorada, do governo petista de Santo André na área econômica, é mais que desconfiança, é quase certeza.


Explico a situação: embora considere no conjunto da obra petista os resultados em Santo André muito acima da média geral da região nos últimos 15 anos, por conta de inovações da administração de Celso Daniel, seguidas com menos impacto pelo sucessor João Avamileno, a área econômica do Município jamais obteve iniciativas, quanto mais resultados, necessárias para se contrapor ao histórico de perdas do PIB (Produto Interno Bruto) local.


Outros municípios locais também apontaram comportamento acanhadíssimo nesse quesito, embora não tenham sofrido gravidades sistêmicas de perdas industriais de Santo André. Exceto, Ribeirão Pires, que reagiu durante o governo de Clóvis Volpi, e Diadema, que teve no secretário e vice-prefeito Joel Fonseca ponta-de-lança frequente com o empresarido de pequeno e médio porte.


São Caetano é exceção a tudo e portanto não entra nessa contabilidade.


Agora que a crise econômica está de volta e atinge em cheio o Grande ABC vulneravelmente automotivo em excesso, as reações precisam se estabelecer. E no caso de Santo André, em vez de iniciativas que se esperavam restauradoras, a administração de Aidan Ravin fica o tempo todo nesse remelexo de dissimulada alcaguetagem dos antecessores.


Tudo bem que auditorias devam mesmo ser perpetradas, que eventuais desvios sejam denunciados, mas que isso não sirva de biombo para proteger a intimidade de fatos que interessam principalmente à classe média que elegeu Aidan Ravin: o que, afinal, o novo prefeito quer fazer de Santo André, além de sua especialidade, a área de saúde?


Poderia, se abusado estivesse hoje, fazer lista de recomendações à administração de Aidan Ravin. Qualquer dia desses, se acordar azedo, o farei.


O que o prefeito de Santo André precisa entender é que, por mais que seja uma réplica mais robusta de Newton Brandão, apenas empatia e carisma não seguram as pontas de um governo, qualquer que seja o governo.


Os tempos são outros, os recursos escassos, as demandas exacerbadas. Com isso, a paciência esvai-se como a ilusão de mágicas que não aparecem mais na cartola de oratórias, apenas oratórias.


O povo enche a pança de esperança até determinado momento. E a pança de esperança de uma Santo André que passou de  rigorosa dieta de 30 anos de perdas industriais para 15 anos de estabilidade insuficiente, provavelmente já murchou.


A indesejada cirurgia bariátrica dos tempos de desindustrialização e os exercícios aeróbicos para manutenção da estrutura orgânica que restou na sequência dão a falsa impressão de que o que se tem é uma cidade em plena forma em qualidade de vida. O buraco é mais embaixo. De odor nada agradável.


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