Numa entrevista exclusiva, o criminalista Adriano Salles Vanni, da equipe que defende o empresário Sérgio Gomes, não poupa o Ministério Público. A exclusividade deste trabalho não se deve, ao contrário do conceito comum, de condição privilegiada. Muito pelo contrário: assim como membros da Polícia Civil e da Polícia Federal, os advogados que representam Sérgio Gomes são praticamente esquecidos pela mídia. Mais que isso: quando lembrados, têm argumentos truncados, metabolizados ou simplesmente adulterados. Afinal, trata-se do procedimento padrão de demonizar tudo que esteja no entorno do homem que acompanhava o então prefeito de Santo André num jantar a São Paulo.
Adriano Salles Vanni utiliza-se de diplomacia protocolar para responder às indagações, mas rompe com qualquer possibilidade de tratar o tema com excesso de zelo. É peremptório ao considerar a atuação do Ministério Público equivocada e controversa. Bastam essas duas definições para o conjunto de informações ganhar contornos diferentes do que a mídia, de maneira quase generalizada, trata o assunto.
A entrevista que se segue foi formulada e respondida através de e-mail:
Qual é a sua avaliação sobre o trabalho do Ministério Público no caso Celso Daniel?
Adriano Salles Vanni – Equivocado e controverso. Em um primeiro momento, o Ministério Público defendia que Sérgio e outros envolvidos (ainda não identificados) seriam os mandantes da morte de Celso Daniel porque este último, ao descobrir suposto esquema de corrupção em Santo André, consistente em arrecadação de propina, teria ordenado aos envolvidos que parassem. Com os novos depoimentos — de uma empregada que afirmou ter visto, por inúmeras vezes, sacos de dinheiro na casa de Celso Daniel e de um garçom, cuja versão teria dado conta de que ele recebera uma sacola de dinheiro dentro de um restaurante — passaram os promotores a sustentar que havia um esquema de propina, do qual Celso Daniel também participava.
No entanto, para dar sustento à inicial versão acusatória, o motivo agora seria outro: Celso Daniel teria descoberto que as pessoas que participavam do esquema estavam desviando propina em proveito próprio. A maleabilidade dos promotores para acertar os novos depoimentos com a versão que mais lhe convêm é digna de nota. Houve uma mudança brutal na dinâmica dos fatos, mas os promotores, presos à ditadura da primeira versão, preferem desprezar os recentes elementos de prova e sustentar, mesmo que sem vigor, que Sérgio e os demais envolvidos seriam realmente os mandantes do crime.
A reabertura das investigações com a Polícia Civil e o MP trabalhando em conjunto significa que a Constituição Federal está sendo respeitada e que, portanto, o MP resolveu reformular nesse caso a importância de ação conjunta?
Adriano Salles Vanni – Espero que sim. Não é demais lembrar que o Tribunal de Justiça Paulista houve por bem anular a primeira denúncia oferecida no caso da propina porque os promotores de Justiça não seguiram minimamente as normas do Código de Processo Penal. Acredito que agora, com a participação da polícia civil, a Constituição Federal será, enfim, respeitada e não haverá espaço para investigação na calada dos gabinetes.
Qual é a sua expectativa sobre a reabertura das investigações? A inocência de Sérgio Gomes será reafirmada?
Adriano Salles Vanni – Espero que com a reabertura das investigações, o Ministério Público se conscientize e se convença de que a morte de Celso Daniel foi um crime comum, e não motivado por questões políticas, como vêm os promotores tentando fazer crer há três anos, sem sucesso.
A informação de que dispomos dá conta de que Sérgio Gomes tem sido mantido fora da mídia porque a mídia está entrincheiradíssima em condená-lo. O que fazer, então?
Adriano Salles Vanni – Sérgio apanhou desde o início. Nenhum fato a seu favor é divulgado com destaque pela mídia. Nada que o favorece é noticiado. Só há ênfase para as ilações e presunções do Ministério Público.
Que avaliação o senhor tem a respeito da solidez de argumentos do MP sobre o dossiê que Celso Daniel teria preparado para denunciar as supostas propinas levando-se em conta que o mesmo MP afirma que o mesmo Celso Daniel participava da suposta operação?
Adriano Salles Vanni – Um verdadeiro absurdo. Seria um dossiê que incriminaria seu próprio autor. Sem valia, portanto. Se o conteúdo do referido dossiê é mentiroso, então, não merece ele crédito algum. É mais uma prova da fragilidade das ilações acusatórias que, com o passar do tempo e coleta de novas provas, perdem-se no vazio.
Se fosse possível definir três pontos básicos de inocência de Sérgio Gomes, quais o senhor apontaria?
Adriano Salles Vanni – 1. Era seu melhor amigo, fato comprovado pela própria mãe de Celso Daniel (e mais, em caso de eleição de Lula, Celso Daniel certamente assumiria alguma pasta do ministério); 2. Ausência de motivos para matá-lo; 3. Jamais estaria no local do crime, caso fosse realmente o mandante.
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11/07/2022 Caso Celso Daniel: Valério põe PCC e contradiz atuação do MP