O senador petista Eduardo Suplicy concedeu entrevista exclusiva através da Internet. Suplicy foi designado pela CPI dos Bingos para acompanhar o caso Celso Daniel, reaberto em 25 de agosto. Estas páginas deveriam contemplar também respostas do deputado federal Luiz Eduardo Greenhalgh, que acompanhou o caso Celso Daniel até o encerramento do inquérito pela Polícia Civil e Polícia Federal, no primeiro semestre de 2002. Há diferenças entre o que afirma Luiz Eduardo Greenhalgh e o que declara Eduardo Suplicy. Entretanto, a julgar pelas respostas de Suplicy, os contrapontos já foram mais marcantes.
Greenhalgh aceitou responder às mesmas perguntas endereçadas a Suplicy, mas à última hora, sobrecarregado de compromissos pessoais e partidários de quem defendia o ex-ministro José Dirceu de cassação, acabou solicitando mais tempo para encaminhar as respostas. É provável que o posicionamento de Luiz Eduardo Greenhalgh fique para a próxima edição.
A batelada de questionamentos a Suplicy e a Greenhalgh foi enviada no dia 29 de novembro, depois de prévio acordo com os dois parlamentares.
Em princípio, haveria debate fechado entre eles, coordenado por este jornalista. A dificuldade de conciliar agendas conduziu à alternativa da virtualidade. Como se poderá observar na sequência, o senador Eduardo Suplicy flutua entre a segurança e a cautela na avaliação do caso Celso Daniel.
Esse trabalho praticamente não sofreu defasagem de informações até o fechamento da edição, em 3 de dezembro, e mostra que a culpabilidade de Sérgio Gomes como mandante do assassinato do prefeito está longe de qualquer conclusão do senador Eduardo Suplicy. Aliás, essa é uma das questões que o senador teve dificuldades de responder. Como outras. O que prova que o caso Celso Daniel não é um terreno para manobras de amadores da mídia e desafia assertivas peremptórias de quem, de alguma forma, resolveu desvendá-lo. Caso de Suplicy.
O que chama a atenção no caso Celso Daniel é o fato de que, enquanto Luiz Eduardo Greenhalgh faz defesa relativamente enfática de que o crime é comum, Eduardo Suplicy tende à alinhar-se à tese de crime encomendado, do Ministério Público. Como isso se explica de forma conceitual? Os detalhes serão questionados na sequência desta entrevista.
Eduardo Suplicy – Meu propósito é o de contribuir para desvendar inteiramente as razões, as circunstâncias e as responsabilidades envolvidas no sequestro e assassinato do prefeito Celso Daniel. Constitui um dever de consciência para todos nós do PT ajudar neste propósito. Tenho a convicção de que esse também é o compromisso do deputado Luiz Eduardo Greenhalgh, por quem tenho o maior respeito e amizade. Não estou alinhado à tese de crime encomendado; estou à procura da verdade, assim como todo o Brasil.
O senhor não teme que a importância essencial da morte de Celso Daniel, no caso a autoria do assassinato, seja minimizada em função dos aspectos institucionais e constitucionais que permeiam a Polícia Judiciária e o Ministério Público na disputa jurídica entravada no Supremo Tribunal Federal e que definirá quem comanda investigações criminais? Traduzindo: não haveria contaminação de interesses corporativos na disputa pela primazia das investigações que decorreria desse rumoroso caso, em detrimento de pessoas apontadas como mandantes do crime?
Eduardo Suplicy – Creio que esse problema está superado, sobretudo em decorrência da cooperação entre o Ministério Público e a Polícia Civil do Estado de São Paulo, especialmente a partir da designação da Dra. Elisabete Sato para presidir o novo inquérito aberto por solicitação dos familiares do prefeito Celso Daniel junto ao governador Geraldo Alckmin. A Dra. Elisabete Sato tem tido o respeito de todas as partes. Ressalto que o próprio Dr. Armando de Oliveira da Costa, responsável pelo primeiro inquérito da Polícia Civil, destacou que ela “é uma profissional extremamente competente” na entrevista dada à LivreMercado em novembro de 2005.
De forma sucinta e esclarecedora, em que o senhor se baseia para acreditar na inocência ou na possível culpabilidade de Sérgio Gomes da Silva?
Eduardo Suplicy – É importante se dar ao Sr. Sérgio Gomes da Silva o direito da dúvida e todo o direito de defesa. Pessoas que o conhecem bem, que com ele conviveram, que foram amigas de Celso Daniel, me dizem que consideram quase impossível que Sérgio pudesse mandar assassiná-lo. Ele próprio nega veementemente essa possibilidade. Por outro lado, depoimentos de algumas testemunhas relatam que teria havido a contratação do grupo de Ivan, da Favela Pantanal, e de Dionísio Aquino Severo — que fugiu do presídio de Guarulhos de maneira espetacular, usando helicóptero, dois ou três dias antes do sequestro do prefeito — por parte de Sérgio ou terceira pessoa, para que houvesse o sequestro e morte. Diversas pessoas viram o sequestro, e todos se perguntam: por que razão somente Celso Daniel foi levado pelos criminosos? Por que Sérgio permitiu que fosse aberta a porta do Pajero blindado? Por que não seguiu na hora o carro dos sequestradores, uma vez que o seu era blindado, que estava armado e tinha o celular na mão? Por que os sequestradores não levaram pelo menos a arma, o celular e a chave do carro do Sérgio? Por que Sérgio não respondeu adequadamente às perguntas que lhe foram feitas a respeito dos depósitos efetuados em sua conta pelo Sr. Luiz Alberto Ângelo Gabrilli, uma vez que reconheceu que não prestou qualquer serviço para ele ou sua empresa? Por que distribuía tanto dinheiro em empréstimos em Santo André? De onde vinha tanto dinheiro, encontrado em sua conta? São muitas as questões que requerem maior investigação de forma séria e equilibrada.
Não lhe parece que o fato de o Ministério Público não ter ouvido aqueles que de fato compartilhavam a vida pessoal e política de Celso Daniel, caso da viúva Ivone Santana, de Sérgio Gomes, de Klinger Sousa, de secretários municipais, foge da bitola de promoção de Justiça? É possível chegar a uma conclusão sobre o caso sem ouvir todas as partes, inclusive para eventualmente colhê-las em contradições?
Eduardo Suplicy – A CPI dos Bingos teve a preocupação de chamar a Sra. Ivone de Santana e o Sr. Klinger Luiz de Oliveira Sousa, bem como outras testemunhas, exatamente com o propósito de ter uma atitude a mais imparcial possível. Os promotores, por sua vez, informaram que ainda ouvirão todas as pessoas envolvidas no caso.
A atuação da CPI dos Bingos no caso Celso Daniel tem se dado sob que aspecto mais importante em sua opinião? Há críticas de que existe espetacularização combinada com despreparo da maioria dos senadores em avaliar os inquéritos. Haveria mais interesses político-partidários do que qualquer outro aspecto nas discussões?
Eduardo Suplicy – A questão de Santo André surgiu a partir da informação de que o problema dos bingos envolveria diversos municípios governados pelo PT. Por exemplo: o caso do assassinato do prefeito Toninho estaria relacionado aos bingos, uma vez que o depoimento de uma testemunha, protegida na forma da lei, afirmou ter ouvido o planejamento do assassinato no recinto de um bingo de Campinas, onde um dos envolvidos seria o seu proprietário. É certo que a maioria dos senadores não é especializada em investigação, o que não se pode afirmar, por exemplo, do senador Romeu Tuma. Por outro lado, o fato de a CPI ter se mobilizado sobre o assunto tem feito um número significativo de pessoas colaborarem para trazer novas informações sobre o que de fato aconteceu. Isso é muito positivo para o esclarecimento da verdade.
O senhor consegue entender a razão de o caso Celso Daniel estar sendo debatido na CPI dos Bingos?
Eduardo Suplicy – Já está respondido na pergunta anterior.
O senhor aprova o método de amedrontamento explícito a que foi submetido Sérgio Gomes no depoimento de 17 de novembro, quando, por várias vezes, chegou a ser ameaçado de prisão caso não dissesse a verdade dos senadores inquiridores?
Eduardo Suplicy – Não concordo com os excessos. Mas uma testemunha não pode mentir, sob pena de prisão — a menos que tenha habeas corpus. Quando exerci a presidência da Subcomissão que promoveu a acareação de Sérgio com os indiciados na última segunda-feira no Ministério Público de São Paulo, na presença dos delegados da Polícia Civil, dos promotores e da Imprensa, o tratei com todo o respeito.
Depois de ler a “Reportagem de Capa ” de novembro de LivreMercado, quando colocamos as versões defendidas pela Polícia Civil, através do titular do DHPP, e da Promotoria Pública em Santo André, o senhor responderia a pergunta-âncora da matéria? Teria coragem de condenar Sérgio Gomes?
Eduardo Suplicy – Como já afirmei anteriormente a CPI está investigando os fatos e ainda não disponho de elementos para concluir sobre a possível participação de Sérgio Gomes na morte do prefeito Celso Daniel.
A prevalecer o ambiente atual, de condenação explícita de Sérgio Gomes pela maioria dos meios de comunicação, o senhor acredita que ele terá alguma possibilidade de ser inocentado num Tribunal do Júri?
Eduardo Suplicy — Uma das práticas da Justiça é a de não avaliar os fatos de maneira precipitada. A Justiça sempre espera a “poeira baixar” e as investigações findarem para poder começar a julgar com imparcialidade os envolvidos nas denúncias. Nesse caso, acredito que ainda levará algum tempo para que as investigações sejam concluídas de forma correta e o julgamento se inicie. Com isso, o fator emocional dará lugar ao fator racional, permitindo melhor avaliação de todos os fatos.
O senhor entende que a mídia, de maneira geral, tem-se alinhado à tese de crime encomendado? Se não acredita, como explicar que o volume de material condenatório a Sérgio Gomes é muito maior, muitíssimo maior, do que em sua defesa?
Eduardo Suplicy – Felizmente temos liberdade de Imprensa no Brasil. Por vezes, excessos são cometidos. Quando ocorrem comigo, tenho tido a iniciativa de solicitar o esclarecimento e normalmente tenho conseguido ser ouvido, inclusive pelo Diário do Grande ABC.
Uma das explicações para o favoritismo da tese do Ministério Público estaria no fato de que a imagem da instituição induz maior credibilidade do que o que se verifica com as Polícias, de maneira geral. O senhor defenderia essa tese?
Eduardo Suplicy – Não examino esse caso pendendo para um lado ou para outro. O que busco é a elucidação completa dos fatos. Estou à procura da verdade.
Como o senhor se sentiu ao ler na “Reportagem de Capa” desta revista de novembro, que, por um lado, os promotores públicos refutaram qualquer possibilidade de existir o comerciante do Ceagesp que seria sequestrado pelos bandidos naquela noite de 18 de janeiro, em vez de Celso Daniel, e as afirmativas da Polícia Civil que já o ouviu em três depoimentos? Para completar, a própria revista publicou na mesma edição a foto do comerciante.
Eduardo Suplicy – Durante o depoimento dos promotores à CPI eles não disseram que o comerciante não existe, e sim construíram a tese acerca da impossibilidade física e temporal de os sequestradores terem ido atrás do comerciante na Ceagesp, não o encontrando e, apesar de todo o armamento pesado que levavam, terem escolhido o primeiro carro importado que passava para sequestrar seus ocupantes. Os procuradores também afirmam ser estranho os sequestradores não terem solicitado qualquer recompensa para libertar Celso Daniel enquanto estavam com ele no cativeiro. São afirmações que a CPI está investigando.
O senhor acredita na versão da Polícia de que os crimes que envolveram sete pessoas que de alguma forma tiveram participação no caso Celso Daniel não passaram de coincidências ou entende que há correlação. Como explicar sua posição?
Eduardo Suplicy – São muitas coincidências, daí a necessidade de se aprofundar a investigação, o que está sendo feito.
Os promotores de Santo André sugeriram naquela “Reportagem de Capa” que os policiais deveriam mudar de profissão. O delegado titular do DHPP afirmou que os promotores são amadores e parciais. Com qual versão o senhor se alinha?
Eduardo Suplicy – Respeito as diferentes versões e, como senador, sinto-me na responsabilidade de colaborar para descobrir a verdade. Não compreendi bem porque os delegados da Polícia Civil descartaram o depoimento de Ailton Feitosa e a própria revelação de Dionísio Aquino Severo, feita ao Dr. Romeu Tuma Jr., de que havia participado do sequestro de Celso Daniel após a sua fuga de helicóptero da penitenciária de Guarulhos. E por que o Dr. Armando de Oliveira Costa, perante cerca de sete promotores que testemunharam a cena, deu um soco na mesa e ficou irritado com Ailton Feitosa quando ele revelou esse episódio?
Como homem público atarefadíssimo, o senhor já jantou na noite anterior a um compromisso programado para as 9h da manhã do dia seguinte? E jantou com um ou outro amigo sem registrar o compromisso na agenda? Faço a indagação com o objetivo claro: Celso Daniel e Sérgio Gomes jantaram numa sexta-feira à noite e o prefeito de Santo André tinha um compromisso partidário no dia seguinte de manhã. E o prefeito não marcou o jantar com Sérgio Gomes na agenda. Esses dois fatos são motivos para acrescentar desconfiança sobre a participação de Sérgio Gomes no crime, como insinuou numa entrevista ao jornal Estadão um dos membros da CPI dos Bingos?
Eduardo Suplicy – Celso Daniel não precisaria necessariamente colocar esse compromisso pessoal na agenda.
Como o senhor explica o fato de que apenas um dos sequestradores mudou a versão de crime ocasional, escreveu uma carta que comprometia Sérgio Gomes e, quando da acareação no último feriado prolongado, da qual participou o próprio senador Eduardo Suplicy, volta atrás e se desmente? Seria o efeito supostamente deletério da delação premiada que teria produzido esse enredo?
Eduardo Suplicy – É necessário apurar em que medida os sete indiciados como sequestradores foram induzidos, no próprio contato entre eles, a transmitir uma versão uniforme sobre a não participação de Sérgio Gomes nos fatos. Ao mesmo tempo, também se negaram a falar sobre o que sabiam acerca de outros aspectos da morte do prefeito.
Se, ao que consta, nem mesmo o senador Eduardo Suplicy está convicto de que tenha sido crime encomendado, o que, portanto, coloca em dúvida a participação de Sérgio Gomes da Silva, como analisa a prisão durante quase oito meses do acompanhante do prefeito Celso Daniel?
Eduardo Suplicy – Trata-se de uma decisão de diversas instâncias do Poder Judiciário. Assim como a que lhe concedeu o habeas corpus.
As duas testemunhas que o senador Eduardo Suplicy ouviu no feriado de 15 de novembro no chamado Três Tombos disseram que Sérgio Gomes da Silva foi visto ao celular, em pé, ao lado do veículo que dirigia, enquanto Celso Daniel era levado em direção ao carro dos sequestradores. Essa descrição se encaixa no próprio depoimento de Sérgio Gomes e fulmina com uma chamada “testemunha-chave” do Ministério Público que, em depoimento, disse que acompanhou, pelo retrovisor, Sérgio Gomes em situação de colaboração com os sequestradores. É possível que alguém consiga ver mais amplamente do retrovisor uma situação como aquela, numa rua pouco iluminada, do que outras duas, privilegiadamente em suas moradias? Quem estaria mentindo? As testemunhas ouvidas por Eduardo Suplicy ou a peça-chave dos promotores?
Eduardo Suplicy – As investigações ainda estão em curso. Ouvi pelo menos seis pessoas que testemunharam parte do sequestro, inclusive as duas que foram mencionadas na pergunta acima. Os seus depoimentos são consistentes com respeito à maneira com que Sérgio Gomes da Silva falou no telefone celular, ao lado do carro, após terem levado Celso Daniel. As testemunhas não afirmaram conclusivamente que ele estava mais orientando do que sendo vítima. Algumas delas observaram a relativa calma de Sérgio ao falar no telefone. Algumas viram que ele segurava uma arma com a outra mão. Uma moradora descreveu como ele, depois de algum tempo, após terem levado Celso Daniel, se sentou no chão junto ao portão, pôs a mão na cabeça, preocupado, e aceitou a água com açúcar que ela lhe ofereceu.
Por que a CPI dos Bingos não convoca o comerciante do Ceagesp para depor?
Eduardo Suplicy – Ele poderá ser ouvido oportunamente, se concluirmos como necessário.
O senhor acredita que alguém que tenha preparado o sequestro, como denuncia o Ministério Público em relação a Sérgio Gomes, acionaria a sirene do veículo assim que foi abalroado pelos sequestradores? Quem quer simular um sequestro chamaria testemunhas?
Eduardo Suplicy – Todos os fatos devem ser analisados pelo Ministério Público e pela Polícia. E sobretudo pela Justiça na hora da decisão. Mas cabe perguntar: se Sérgio teve a presença de espírito para acionar a sirene, porque permitiu que a porta se abrisse?
Alguém que quer simular um sequestro vai se enganar com relação à cor da calça de Celso Daniel, e, a partir daí, fomentar as mais variadas versões, principalmente de crime sob encomenda, já que o corpo do prefeito foi encontrado vestindo calça jeans? Apenas para esclarecer: segundo a Polícia Civil, conforme exames realizados na USP, constatou-se que Celso Daniel vestia calça jeans no jantar.
Eduardo Suplicy – Como disse anteriormente todos os fatos e detalhes que envolveram o sequestro do prefeito Celso Daniel estão sendo investigados e o serão a exaustão.
Qual é a sua avaliação sobre o fato de que ninguém da família original de Celso Daniel acompanhou os exames necroscópicos depois de o corpo ter sido conduzido ao Instituto Médico Legal?
Eduardo Suplicy – Acredito que essa é uma decisão de foro absolutamente familiar. Vocês já perguntaram à família?
Ainda sobre a necropsia: o laudo assinado pelo legista Carlos Printes, recentemente morto, e por outros três profissionais do Instituto Médico Legal, assegura que não houve tortura. O documento está respaldado pelos anexos dos exames. Como então tanta polêmica sobre a eventualidade de Celso Daniel ter sido torturado pressupostamente para entregar um suposto dossiê de denúncias sobre desvios em sua própria administração?
Eduardo Suplicy – O laudo do Dr. Carlos Delmonte Printes conclui que houve tortura. Ele deu algumas entrevistas e fez exames mais completos sobre o que aconteceu com Celso Daniel de livre e espontânea vontade. É pena que esteja morto. O laudo sobre se o Dr. Delmonte Printes cometeu suicídio ou se foi morto deverá ser concluído proximamente, conforme me informou o Dr. Paulo Saldiva, médico patologista da Faculdade de Medicina de São Paulo, convidado para examinar o laudo conclusivo. Já foi diagnosticado que ele não estava doente.
Por falar nisso, como dar crédito aos irmãos de Celso Daniel, principalmente João Francisco Daniel que, rigorosamente, segundo provas de que dispomos, disse o seguinte, juntamente com os promotores públicos, a partir do assassinato do então prefeito de Santo André: 1º) Celso Daniel não sabia do suposto esquema de propina e foi morto porque teria descoberto a irregularidade; 2º) Celso Daniel sabia do suposto esquema de propina e se revoltou porque descobriu desvios; 3º) Celso Daniel participava do suposto esquema de propina juntamente com supostos mandantes do crime, a ponto de uma empregada doméstica ter encontrado sacos de dinheiro em seu apartamento. Afinal, por que essa volubilidade de informação? Mais que isso: se Celso Daniel participava do suposto esquema, por que ele iria preparar um dossiê que o atingiria em cheio também em pleno ano eleitoral quando seria ministro do governo Lula da Silva?
Eduardo Suplicy – O depoimento, ou os depoimentos, do Dr. João Francisco e de toda a família de Celso, é um dos elementos da investigação. É importante examinar todos os depoimentos e compará-los com as evidências e provas do acontecido.
João Francisco Daniel disse à CPI dos Bingos que, cinco dias antes de ser assassinado, Celso Daniel lhe falou sobre preocupações com o esquema de propina em Santo André. Anteriormente, em nenhuma situação, João Francisco mencionou esse encontro. Mais que isso: ouvido pela Polícia Civil, logo após o crime, além de dizer que tinha relacionamento distante com o irmão, conforme consta do inquérito, disse não ter razão para desconfiar de crime político-administrativo. Por que ele mudou também de opinião sobre isso?
Eduardo Suplicy – Esta pergunta só o Dr. João Francisco pode responder.
Temos informações de fontes confiabilíssimas de que o pastor evangélico que o senador Eduardo Suplicy afirma ter conversado pessoalmente e por telefone, e que também teria conversado por telefone com o deputado federal Luiz Eduardo Greenhalgh, não passa de um embuste. Vamos traduzir a questão: os senhores conversaram com um impostor. Alguém que foi plantado para dar ao caso mais um ramal de diversionismo. A fita que ele diz possuir e que incriminaria Sérgio Gomes foi um lance adredemente preparado para confundir, não para esclarecer. O que o senhor, envolvido na história, explica sobre isso?
Eduardo Suplicy – De acordo com informações da Polícia Federal, a partir de investigações realizadas com os dados que forneci, as quais dei publicidade na reunião da Subcomissão da CPI em São Paulo, na segunda-feira, e na reunião da CPI em Brasília, dessa terça-feira, a pessoa que me procurou não era um pastor e está respondendo a alguns processos. Mas essas mesmas informações não são conclusivas com relação à existência ou não de uma fita sobre o momento do sequestro.
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11/07/2022 Caso Celso Daniel: Valério põe PCC e contradiz atuação do MP