Caso Celso Daniel

Cadê o inquérito?

DANIEL LIMA - 28/06/2007

É impressionante a dificuldade para penetrar no âmago de um inquérito policial que deveria, pelas circunstâncias históricas que o envolvem, ser repassado de forma transparentemente democrática à mídia em geral.


Quem sabe até em entrevista coletiva com direito a esmiuçamento completo. Inclusive com a presença de promotores criminais de Santo André, advogados do empresário Sérgio Gomes da Silva e até dos senadores Eduardo Suplicy e Magno Malta, trôpegos integrantes da tropa de choque da CPI dos Bingos, também conhecida como CPI do Fim do Fundo, que andaram vasculhando com ares de detetives o caminho por onde Celso Daniel e Sérgio Gomes resolveram retornar da Capital naquela fatídica noite de 18 de janeiro de 2002.


Também deveria ser convidado à prestação de contas da atuação daquele sequestrador abatido pelo Primeiro Comando da Capital, o então deputado Luiz Eduardo Greenhalgh, que atuou brilhantemente durante a primeira fase de investigações da morte do prefeito Celso Daniel a ponto de ter seu nome colado ao caso e, com isso, sofrido as agruras nas urnas eleitorais, sob o evidente peso de atuar na contramão do politicamente correto. Ou não era politicamente correto bandear-se para a teoria dos promotores criminais que contaram durante três anos com a unilateralidade da mídia entre outros motivos porque a Polícia Civil foi proibida de pronunciar-se?


Vou mais longe: até o delegado Romeu Tuma Júnior que, estranhamente, alimentou o diversionismo da ação de Dionísio de Aquino Severo no caso Celso Daniel, deveria ser instado a participar da entrevista coletiva. Seria interessante ouvi-lo contradizer as rigorosas investigações que ocorreram à parte daquele assassinato.


A blindagem em torno do inquérito que apurou a morte do sequestrador Dionísio de Aquino Severo pode ter todas as explicações jurídico-legais do mundo, mas não convence. Muito menos o silêncio supostamente amedrontado de instâncias policiais de alto calibre que transmitem a sensação de que não querem colocar a mão numa batata quente, quentíssima, porque há forças do governo estadual que poderia retaliá-las.


Os promotores criminais de Santo André, que atuaram bravamente mas ao arrepio da Constituição Federal na apuração do caso Celso Daniel, elegendo como elegeram Sérgio Gomes da Silva mandante do crime, entre outros supostos mandantes até agora desconhecidos no oceano de contradições, os promotores criminais, como dizia, também não se dedicam a gestões que facilitem a quebra do segredo de Justiça de um assassinato — do sequestrador Dionísio de Aquino Severo — que, convenhamos, não tem outra importância senão, e aí é bastante, por ter sido envolvido na história rocambolesca de incriminação de Sérgio Gomes.


Quem conhece um mínimo sequer da denúncia levada aos veículos de comunicação pelos promotores criminais de Santo André sabe que Dionísio de Aquino Severo teria sido peça-chave na transposição de Sérgio Gomes de vítima a mandante, na versão do inquérito investigativo independente e solitário do Ministério Público.


Foi entre outros pontos por conta da narrativa da participação substancial de Dionísio de Aquino Severo na operação de abalroamento e sequestro de Celso Daniel, no dia seguinte à espetacular fuga de helicóptero da Penitenciária de Guarulhos, que Sérgio Gomes acabou trancafiado durante oito meses por decisão do juiz de Itapecerica da Serra, atendendo à denúncia do MP de Santo André.


O inquérito policial que investigou a morte de Dionísio de Aquino Severo numa cadeia em São Paulo, três meses depois do assassinato de Celso Daniel, assegura que não há cruzamento algum entre um caso e outro.


Aliás, a investigação confirma informação que me foi passada numa entrevista exclusiva que realizei em setembro de 2005 com o delegado-titular do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa. Disse-me o delegado Armando de Oliveira que a intersecção de Dionísio Severo com Celso Daniel foi um disparate na apuração dos promotores criminais. O inquérito policial em segredo de Justiça confirma a versão por contraste, já que não há qualquer fato que ligue um caso ao outro. Aliás, por ser inquérito completamente diferente dos que desvendaram no campo policial a morte de Celso Daniel, a apuração da morte de Dionísio de Aquino Severo é por si só um chute no balde da atuação do Ministério Público.


O governo do Estado parece não ter o menor interesse em esclarecer o caso Celso Daniel, retirando portanto Sérgio Gomes da Silva da empreitada realizada única e exclusivamente por bandidos pés-de-chinelo. O primeiro-amigo de Celso Daniel não tem a menor importância para todos aqueles que o mataram publicamente.


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