Exatamente numa sexta-feira, 18 de janeiro (como amanhã), o então prefeito de Santo André, Celso Daniel, foi sequestrado quando retornava de um restaurante da Capital com o amigo Sérgio Gomes da Silva.
Houve jornalista conhecido e respeitado que, entre outras bobagens para atirar pedra na Geni, escreveu que o jantar em São Paulo era mais que suspeito, era prova de armação contra a vida do então prefeito, porque o Grande ABC tem restaurantes de suficiente qualidade para atender ao refinamento gastronômico de um prefeito como Celso Daniel.
Mal sabe aquele jornalista que provavelmente jamais pisou os pés na região que há uma norma não escrita que garante o anonimato de restaurantes da Capital quando se pretende ter encontro mais cuidadoso, ficando o critério oposto, de exposição pública deliberada ou não, quando se escolhe um dos endereços do Grande ABC.
Celso Daniel e Sérgio Gomes não pretendiam ser vistos por ninguém, como em tantas outras ocasiões em que escolheram o mesmo Rubaiyat para tratar da vida longe das fofocas e maledicências da província.
O fato é que já se somam seis anos desde que a história do Grande ABC começou a mudar, o que dinamita uma das frases mais burras que a humanidade consagrou — a de que não há ninguém insubstituível.
A região ganharia naquele mesmo ano — 2002 — um presidente da República, mas perderia bem antes, em 20 de janeiro, o dirigente público que mais enxergou a obviedade de que não chegaremos muito longe se esquecermos o princípio da regionalidade para o enfrentamento de tantos adversários, como a guerra fiscal, a descentralização industrial e, principalmente, a globalização. Amanhã escreveremos sobre a nova investida política de irmão arrependido, caso de Bruno Daniel — e de João Francisco também.
Não vou me aprofundar na importância da morte de Celso Daniel para o futuro que se seguiu do Grande ABC, porque pretendo de fato traçar paralelo entre aquele acontecimento, o vazio que se instalou na região e o futuro que nos espera no texto que prepararei para dar conta do autoconvite para participar da segunda versão do livro Nosso Século XXI, que será lançado em setembro deste ano.
Talvez o que tenha escrito naquela segunda-feira, 21 de janeiro, no espaço virtual de “Capital Social Online”, seja mais apropriado para externar o impacto daquele golpe do destino do que quaisquer outras palavras. Dessa forma, jogo para segunda-feira agora, dia 21 de janeiro, exatamente seis anos depois, a reprodução daquele texto.
Mais que isso: providenciaremos também que a Reportagem de Capa de LivreMercado de fevereiro de 2002, que teve Celso Daniel como protagonista editorial, seja igualmente levada aos leitores de “LivreMercadoOnline” também nesta segunda-feira. É uma forma de homenagearmos aquele que seria ministro do Planejamento de Lula da Silva e que, certamente, ganharia a disputa pelo governo do Estado contra Geraldo Alckmin (José Genoino perdeu por número escasso de votos entre outros motivos porque a cosmopolita Capital não abre mão de candidatos que falam menos arrastado, exceto como foi o caso de Luiza Erundina, por conta da rejeição a Paulo Maluf).
É muito provável que o sexto ano da morte de Celso Daniel seja maltratado pela Imprensa. A maioria se refestelou enquanto o assunto garantia dividendos políticos, partidários e ideológicos de caça à bruxa de um inocente a quem imputaram (menos a Polícia Civil de São Paulo, do governo Geraldo Alckmin, e a Polícia Federal, do governo Fernando Henrique Cardoso) mando de um crime comprovadamente ocasional.
Explicar-se-á sem dificuldade o encolhimento da mídia: todos caminharam no mesmo tom de irresponsabilidade ao apoiar as conclusões insustentáveis do Ministério Público e, com isso, na medida em que o edifício de fantasias virou pó, o recolhimento das armas do sensacionalismo tornou-se questão de sobrevivência.
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11/07/2022 Caso Celso Daniel: Valério põe PCC e contradiz atuação do MP