É natural que internautas de todas as partes do Brasil e até mesmo do exterior participem como estão participando do blog do jornalista Juca Kfouri em forma de comentários ao texto que escrevi ainda outro dia sobre o empresário Ronan Maria Pinto à frente do Santo André. Entretanto, o silêncio covarde de ver o circo pegar fogo não faz parte de minha personalidade. Prefiro sempre e sempre a luz à penumbra.
Tenho muitos motivos como profissional de jornalismo para criticar Ronan Maria Pinto na presidência do Diário do Grande ABC e na presidência do Santo André. Mas também tenho todos os motivos para retirá-lo da cena do crime ou da idealização do crime em que o colocaram e ainda o colocam no caso Celso Daniel.
Possivelmente por não terem agregado de conhecimentos sobre minha atuação jornalística, alguns internautas deram interpretação exacerbadamente equivocada a alguns parágrafos, associando ao sabor da livre interpretação o que é realidade e o que não passa de fantasia.
Tanto que me atingiram também. Faz parte do show, diriam os mais objetivos. Responderia este jornalista que esse tipo de show jamais me encantou, embora não tenha o direito de cerceá-lo.
O ponto mais delicado daquele texto e que provocou leitura abrasiva trata do assassinato do prefeito Celso Daniel. Não faltaram comentários de internautas que relacionaram aquele acontecimento a Ronan Maria Pinto. Pura bobagem.
Tenho dito e escrito ao longo dos anos que tanto Ronan Maria Pinto quanto Klinger Sousa e Sérgio Gomes da Silva, o triuvirato que o Ministério Público escolheu para pagar a conta, jamais tiveram qualquer participação naquele incidente. Tratou-se sim e comprovadamente de crime ocasional, como cansou de apurar a Polícia Civil de um governo estadual antipetista — e também a Polícia Federal sob o governo de Fernando Henrique Cardoso.
Reafirmo categoricamente a inocência deles porque, inconformado com o noticiário reticente, quando não estreitamente próximo demais da força-tarefa do Ministério Público, avancei profundamente nas investigações. Peguei o touro a unha. Não fiquei na janela vendo a banda passar, nem tampouco selecionando fontes de informações para confirmar a versão de crime de encomenda.
Ouvi todos os lados, como recomenda o bom jornalismo. Nenhum outro jornalista ouviu, por exemplo, um delegado da Polícia Federal — José Pinto de Luna — que investigou a fundo a possibilidade de a suposta rede de propina na Prefeitura de Santo André estar interligada à morte do prefeito.
Lembro-me perfeitamente das declarações do delegado numa entrevista gravada em meu veículo, numa rua da Capital. Ele confessou que viera ao Grande ABC para prender Ronan Maria Pinto, Sérgio Gomes e Klinger Sousa, mas ficou frustrado. Nada, absolutamente nada, ligava um caso, de suposta propina, a outro caso, de assassinato.
Longe de mim o monopólio da verdade, mas também não pratico a hipocrisia de juntar-me à maioria massacrante e conveniente de alinhamento automático à tese de crime administrativo envolvendo Celso Daniel. A manipulação do noticiário por interesses estranhos ou simplesmente porque o jornalismo investigativo já viveu melhores dias cobriu o caso com densa carga de interrogações que, sei bem, jamais serão eliminadas. Não há morte de gente famosa que não passe pelo corredor polonês de múltiplas versões. Vejam o que dizem de Michael Jackson, de princesa Diana, de Kennedy e de tantos outros.
Por isso mesmo escrevi perto de 300 páginas em formato revista sobre o caso. Foram anos de trabalho, de indisposições com o Ministério Público de Santo André. Não me arrependo de uma linha sequer, até porque foram resultado de muito trabalho e nenhum tipo de comprometimento com as partes. Daí, inclusive, mantenho ampla liberdade como crítico do dirigente esportivo e do empresário de comunicação Ronan Maria Pinto.
Retirar da esfera esportiva e empresarial a crítica que produzi no artigo “Ronan, o absolutista”, transplantando-a para a arena criminal especulativa é forçada de barra à qual os internautas, fustigados durante todo o tempo pela versão única do assassinato, têm todo o direito. Mas não seria justo que me calasse.
É verdade que me referi tangencialmente ao caso Celso Daniel naquele artigo, mas foi sobre algo que chamaria de legítima defesa para tipificar o relacionamento que determinados acionistas do Santo André mantêm com o presidente do clube empresarial, consequência daquele acontecimento que ganhou manchetes internacionais. Ronan Maria Pinto, Klinger Sousa e Sérgio Gomes da Silva estão pagando e vão pagar para sempre o preço da acusação pública persistente de que estariam envolvidos na morte do prefeito de Santo André.
Não tenho e jamais tive dúvidas sobre as consequências de meus textos investigativos sobre o caso Celso Daniel. Seria sempre lembrado como o jornalista que se opôs à realidade dos fatos, à realidade dos promotores públicos, instituição de goza de amplo prestígio na sociedade. Não carrego esse peso com desconforto. Minha consciência profissional está em paz. Só não posso me calar para entregar Ronan Maria Pinto à sanha pontual de rescaldos de um artigo que era e sempre se pretendeu esportivo-empresarial.
Jamais teria aceitado trabalhar como diretor de Redação do Diário do Grande ABC entre julho de 2004 e abril de 2005 se não tivesse absoluta certeza da inocência de Ronan Maria Pinto, de Sérgio Gomes da Silva e de Klinger Sousa. Da mesma forma que vou colocar à venda o 1% do naco de ações do clube empresarial em que se transformou o Santo André caso se mantenha o estado de anorexia de um agrupamento de acionistas que ainda não entendeu a responsabilidade social do empreendimento. E é claro que, por ser o presidente e exercer o cargo com impetuosidade comum aos presidentes, Ronan Maria Pinto é o maior responsável pela situação.
Ronan Maria Pinto é sim absolutista no futebol, com amplo direito de defesa que este site lhe dará, numa entrevista exclusiva, mas é absolutamente inocente no caso Celso Daniel.
Já dava este texto por encerrado quando me ocorreu a ideia de resgatar ao menos um dos trabalhos do caso Celso Daniel. E encontrei em meus arquivos (tenho tudo pronto para publicar o livro sobre a morte do prefeito, menos dinheiro) o texto da edição de fevereiro de 2006 de LivreMercado (revista que criei e comandei por 19 anos) sobre a CPI dos Bingos, na qual politicamente enfiaram o assassinato do prefeito de Santo André.
Acompanhem aquela análise e vejam o quanto a mídia, de maneira geral, selecionou o que deveria informar sobre o caso Celso Daniel:
O médico-legista Carlos Delmonte Printes, morto em outubro do ano passado, mentiu ao afirmar ao Ministério Público e à Imprensa que o prefeito Celso Daniel foi torturado em janeiro de 2002, antes de ser assassinado por sequestradores que o apanharam no chamado “Três Tombos”. A informação foi prestada em tom moderado mas firme pelo delegado federal José Pinto de Luna durante a sessão da CPI dos Bingos, dia 24 de janeiro em Brasília. Embora importantíssima, a revelação não teve repercussão na Imprensa. Fundamental para definir a atuação ética de Carlos Delmonte, o depoimento do delegado federal foi praticamente ignorado. Ele atuou no caso por decisão do governo Fernando Henrique Cardoso e a pedido do Partido dos Trabalhadores.
A relevância da informação é explícita: Carlos Delmonte ateou fogo na versão de que o crime cometido contra o prefeito de Santo André decorreu de supostas irregularidades administrativas na Prefeitura petista. Tese defendida pelo Ministério Público para incriminar Sérgio Gomes. Segundo o delegado, o legista afirmou que os ferimentos não tinham relação com tortura física de crime político-administrativo, principal vereda pela qual tanto a Polícia Federal quanto a Polícia Civil abriram as investigações após o crime. A declaração lança suspeita de que, mais de três anos depois de necropsiado o corpo de Celso Daniel, Delmonte teria metabolizado o conceito de “tortura” que consta do laudo, encaminhando-o em direção a aspectos político-administrativos.
O delegado federal José Pinto de Luna é discreto. Tem-se recusado a dar entrevistas sobre a morte do prefeito de Santo André. Mas, convocado pelos senadores, foi a Brasília. Confirmou o inquérito da PF: Celso Daniel foi vítima de crime comum. Lamentou que Carlos Delmonte não estivesse vivo e presente à CPI para confirmar as informações que lhe prestou sobre o assassinato do prefeito. José Pinto de Luna disse que não poderia esperar a formalidade da produção do laudo do exame de necropsia para continuar investigando o crime, por isso indagou de Delmonte a tipologia dos estragos no corpo do prefeito, exposto no Instituto Médico-Legal naquela manhã de 20 de janeiro de 2002.
A resposta de Carlos Delmonte, segundo relato de José Pinto de Luna, é que se tratava de homicídio. Em nenhum momento, apesar de inquerido, Delmonte fez menção ao conceito político de tortura. O trecho do depoimento em que o delegado da Polícia Federal abordou as declarações de Carlos Delmonte foi quase que apressadamente atropelado. Senadores de oposição dominam a CPI dos Bingos e não têm interesse em dar crédito a informações que retirem o caso Celso Daniel da bitola de crime encomendado. E os petistas que participam da CPI são em geral desinformados ou receosos de exporem-se na defesa das investigações policiais.
Sem contar que o senador Eduardo Suplicy mantém comportamento ambíguo, ora como aliado de crime comum, ora como crédulo de crime encomendado. Suplicy transmite a sensação de que pisa em ovos, como se não pretendesse romper a casca de neutralidade. Mesmo que para tanto mergulhe na omissão ou, em contrapartida, se lance precipitadamente em direção à mídia, como no caso da propagação da suposta testemunha-chave de um pastor evangélico vivido em carne e osso por um estelionatário profissional que se dizia possuidor de uma fita de vídeo que comprometeria Sérgio Gomes. A Polícia Federal desvendou a farsa, embora os advogados de Sérgio Gomes, o homem acusado pelo Ministério Público de ser um dos mandantes do crime, torcessem para que a suposta fita de vídeo saísse da dimensão paranóica do falso pastor e se consumasse como extraordinário reforço de defesa.
Embora as declarações do delegado federal fossem a principal novidade da CPI dos Bingos, prevaleceu a repercussão de uma notícia velha e surrada, divulgada na semana anterior: o médico-legista Paulo Vasques reafirmou durante a sessão que Celso Daniel foi torturado antes de morrer. Paulo Vasques é o substituto de Carlos Delmonte na elaboração de laudo suplementar sobre a morte de Celso Daniel. Na semana anterior à sessão da CPI ele encaminhara o relatório aos promotores criminais de Santo André, tratada com ênfase pela mídia.
Paulo Vasques foi burocrático na exposição do relatório, inclusive com o uso de fotos que identificavam marcas de coronhadas na cabeça do prefeito — que teriam sido desferidas no momento em que foi retirado da Pajero pelos sequestradores. Além disso, Celso Daniel foi atingido por oito disparos de uma pistola no rosto, no tórax, nas mãos e nas pernas. As explicações do legista Paulo Vasques não foram contrapostas, embora vários pontos fossem indispensáveis.
Primeiro: a execução de Celso Daniel foi rápida, sequencial, e, portanto, sem o viés de tortura fora dos padrões criminais. Não se tratou de ritual demorado, de quem pretende de fato arrancar informações supostamente valiosas da vítima. Foi assassinato.
Segundo: o legista substituto afirmou que Celso Daniel foi torturado antes de ser morto. Trata-se de questão temporal extraordinariamente lógica: Celso Daniel só morreria depois dos disparos, essência de tortura de quem sofre o impacto dos projéteis.
Terceiro: nenhum senador, nem mesmo os petistas tão desorganizados, indagou do legista a precisão do conceito do termo “tortura” que ele, repetidamente, apresentou durante a sessão. Quando a Polícia Civil e a Polícia Federal encerraram a apuração, atribuíram ao enredo crime comum. Nada, portanto, que resvalasse no conceito de “tortura política”, mais tarde defendida pelo Ministério Público. “Tortura política” seria a comprovação de que Celso Daniel teria sido castigado fisicamente num ritual prolongado para revelar supostas irregularidades que estariam ocorrendo em sua administração, apesar de os mesmos formuladores dessa tese, no caso os promotores públicos, declararem que o prefeito participava efetivamente das irregularidades.
Ao bater o tempo todo na tecla de “tortura”, o legista referia-se à “tortura criminal”, sem necessariamente estar relacionada com supostas propinas em Santo André. Mesmo quando afirmou que uma das vertentes da “tortura” poderia ser crime de mando, o legista abriu a janela de uma realidade que está nos inquéritos: de fato houve crime de mando, ou melhor, de contramando, já que dois dos sequestradores ignoraram a orientação de libertar o prefeito depois da intensa repercussão do sequestro na mídia. “Solte o homem que ele é uma bomba” — disse Ivan Monstro da Silva, chefe dos quadrilheiros, segundo consta dos inquéritos policiais. A resposta dos dois sequestradores que mantinham Celso Daniel no cativeiro em Juquitiba foi em sentido inverso, porque temiam ser identificados pelo prefeito.
Não faltaram lances de dramaticidade entre senadores que participaram de mais uma sessão em que o caso Celso Daniel foi exaustivamente debatido. O mineiro Wellington Salgado (PMDB) deixou a sala depois de declarar-se comovido com a sequência de fotos. Antes, ironizou opiniões contrárias à tese de tortura.
Provavelmente o senador teria mais dificuldades de aceitar imagens da violência urbana se lhe fossem apresentadas fotos de crimes da periferia metropolitana. Principalmente de jovens delinquentes metralhados por causa do tráfico de drogas. A propósito: num tipo de crime como esse, banalizado nas metrópoles, os médico-legistas também identificam a ocorrência como tortura seguida de morte.
O laudo escrito pelo legista Paulo Vasques não descreve sinais de espancamento em Celso Daniel. “Alguns autores psiquiatras já consideram o próprio sequestro como tortura, considerando o sofrimento psíquico intencionalmente infligido a uma pessoa com a finalidade de obter ganhos.”
O que isso, na prática, significa? Significa que sequestrados famosos e não necessariamente assassinados, casos do dono do Grupo Pão de Açúcar, Abílio Diniz, e do publicitário Washington Olivetto, encaixam-se no conceito de “tortura” do legista Paulo Vasques, que examinou o corpo do prefeito Celso Daniel juntamente com Carlos Delmonte. Os promotores de Santo André tomaram o depoimento do legista, que se comprometeu a fazer um laudo complementar. Quando Delmonte se matou, Vasques assumiu essa missão. Outros dois legistas do Instituto Médico-Legal de São Paulo assinaram o exame de necropsia do corpo de Celso Daniel mas, estranhamente, não aparecem nas investigações do Ministério Público.
De fato, de fato, não há novidade alguma no parecer de Paulo Vasques. Em 17 de abril de 2004, o jornal “Folha de S. Paulo” publicou matéria (Laudos não elucidam “tortura” de Daniel) que apontava diferenciações entre “tortura” como sinônimo de violência e “tortura” como, por exemplo, medidas para obter informação de alguém, como os promotores públicos de Santo André defendem em relação ao caso Celso Daniel.
Naquela reportagem, a “Folha” explica: “O IML (Instituto Médico-Legal) usa o termo tortura em seu laudo de forma diferente do significado mais popular — violência infligida a alguém para obter uma informação, por exemplo”. A definição que o laudo dá à tortura — continua a “Folha” — é o seguinte: consideramos como tortura, senso geral, os achados descritos no item anterior acrescidos da multiplicidade e localização dos tiros, além de sinais compatíveis com contato de cano (boca de cano) na arma aquecido com o contorno posterior do tronco. Segundo a “Folha”, o item “anterior” citado no laudo foi o “tempo de agonia” da vítima, estimado em “minutos”. “Consideramos tal agonia como intensa, baseados nos mesmos achados e na observação de espasmo cadavérico, expressão de terror e material expelido pelo corpo por vias naturais” — basicamente tudo o que Paulo Vasques repetiu no laudo apresentado em janeiro e logo em seguida à CPI.
Ainda segundo aquela reportagem de abril de 2004 da “Folha”, cujos termos também são confirmados por Paulo Vasques, a explicação dada no laudo às marcas no corpo do prefeito é o que os legistas chamam de fragmentação. Uma bala, em contato com o corpo, ossos ou mesmo o chão, após atravessar a vítima, explodiria em vários pedaços, causando ferimentos em outras partes do corpo. Morto com oito tiros, o corpo de Celso Daniel sofreu efeitos dos estilhaços.
Também o delegado Edson de Santi, titular do Deic (Departamento de Investigações contra o Crime Organizado), participou da sessão da CPI dos Bingos. Ele reafirmou todos os pontos das investigações realizadas em conjunto com a Polícia Federal e com o DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) da Polícia Civil de São Paulo. Disse o que os membros da maioria oposicionista preferiria não ouvir: Celso Daniel foi vítima de um tipo de crime que infestava a Região Metropolitana de São Paulo: sequestro seguido de morte. “Crime comum, senhores senadores.”
Faltou dizer que Marco Vinício Petrelluzzi, então secretário de Segurança do Estado, foi demitido por causa da repercussão do caso. A medida foi seguida de reviravolta na política de Direitos Humanos herdada por Geraldo Alckmin, então sucessor interino do governador Mário Covas, morto em 2001. A criminalidade sofreu duros reveses nos últimos anos.
A teatralização de alguns senadores, caso, por exemplo, de Magno Malta (PL-ES), faz parte do show da CPI dos Bingos. Magno Malta dispõe de biografia pouco recomendável na defesa da versão de crime de encomenda. Recentemente esteve em São Paulo para conhecer o trajeto percorrido por Sérgio Gomes e Celso Daniel na noite de 18 de janeiro. Confessadamente pouco afeito às peculiaridades do trânsito da metrópole, Magno Malta argumentou que o percurso escolhido por Sérgio Gomes foi preparado em favor dos sequestradores porque seria inviável para quem se dirigia ao Grande ABC.
O senador desconhece que a alternativa dos “Três Tombos” para quem está na região dos Jardins, em São Paulo, onde Sérgio Gomes jantou com Celso Daniel, é uma das mais utilizadas. Basta travestir-se de fiscal de trânsito e verificar que, no ponto em que os sequestradores abalroaram a Pajero de Sérgio Gomes, milhares de veículos do Grande ABC repetem o trajeto todos os dias.
Esse mesmo senador, ao questionar as explicações do delegado Edson de Santi, introduziu uma oratória de enredo supostamente lógico, cujos personagens e figurantes obedeceriam rigorosamente seus desejos para cristalizar a tese de crime de encomenda. Ele procurou desqualificar o inquérito policial e tornar sua versão mais digerível. Um show de amadorismo que teve como contrapartida o sorriso discretamente de desprezo do delegado do Deic. Como se sabe, o Senado não permite que convidados ou convocados exibam ostensiva insatisfação. A recíproca de senadores não é verdadeira.
Eles têm liberdade para atazanar a vida de quem se presta a dar informações. Em alguns casos, chegam aos limites da inquisição. Principalmente se as informações não seguirem os rumos de tornar o caso Celso Daniel ponta-de-lança rentável ao jogo político-eleitoral.
A CPI dos Bingos, ardilosamente comandada pelos oposicionistas, incluiu o caso Celso Daniel na pauta de debates para espicaçar a paciência petista. Depois de série de sessões espetaculosas no segundo semestre do ano passado, janeiro começou com um barulhento bate-boca entre o pefelista baiano Antonio Carlos Magalhães e o petista Aloízio Mercadante, provável concorrente ao governo do Estado de São Paulo.
Líder do governo no Senado, Mercadante criticou o governador paulista, Geraldo Alckmin, pré-candidato do PSDB à Presidência, por vetar projeto que proibia máquinas caça-níqueis em bares e restaurantes. “Vamos fazer esse debate, tomar posição, ou a CPI vai fingir que não está vendo?” — questionou o petista. Antonio Carlos Magalhães reagiu, criticou a intromissão de Mercadante na definição do candidato peessedebista à Presidência e sentenciou: “O que incomoda é que a CPI está desmascarando todos os atos lesivos ao País acobertados pelo PT, até os crimes praticados pelos petistas contra correligionários, como o assassinato do Celso Daniel e do Toninho” — acusou ACM. O incidente se estendeu e tornou o ambiente no Senado carregadíssimo.
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11/07/2022 Caso Celso Daniel: Valério põe PCC e contradiz atuação do MP