Calma leitores, calma leitores, porque não estou sendo mais desrespeitoso ou supostamente desrespeitoso com o veterano jornalista Augusto Nunes, hoje blogueiro da Veja.com, do que ele o foi ontem com o ministro Nelson Jobim. “Aqui entre nós, amigos: que besta quadrada é o Nelson Jobim!”, escreveu Augusto Nunes no alto da coluna que assina no endereço eletrônico da Editora Abril.
Tomo emprestado dele a frase cortante, que foge às minhas características que não são lá muito delicadas, para voltar ao caso Celso Daniel, uma de minhas especialidades. Augusto Nunes não passa de aprendiz desastrado.
Duvido que seja desastrado involuntário, porque reúne experiência para acreditar que possa dar um nó nos leitores manipulando a capacidade de sedução embutida na marca pessoal. Fosse foca, desses que saem das faculdades certos de que são jornalistas de verdade, os desatinos até seriam compreensíveis.
Não há em regra jornalistas inexperientes a procurar atualizar as informações ou resgatar o histórico do caso Celso Daniel. Principalmente os jornalões colocam em campo profissionais orientadíssimos para sustentar a fantasiosa versão de crime político. Uma tranqueira informativa que não resiste à realidade dos fatos.
Se esses jornalistas estivessem preocupados com a responsabilidade social inerente à profissão, poderiam saber muito mais do que escondem e jogar às traças o que veiculam. Basta visitarem meu site. E olhem que o material que disponibilizei até agora não significa 10% de tudo que escrevi no período. Tenho guardado acervo que pretendo transformar em livro.
Um profissional com a biografia de Augusto Nunes — pelo menos a biografia profissional que se conhece — não pode incidir na besteira juramentada de seguir escrevendo bobagens sobre o caso Celso Daniel, sempre com a assessoria recalcitrante e psicologicamente comprometida dos irmãos biológicos do maior prefeito que o Grande ABC já contou — e também com o auxílio de promotores criminais que atuaram no caso a mando do governo do Estado. Esse foi o troco de Geraldo Alckmin para melar a investida do PT contra o descaso que dominava a área de Segurança Pública, politizando-a durante e após o sequestro naquele início de 2002.
Vou explicar o por quê de irmãos ideológicos. Tanto Bruno Daniel quanto João Francisco não tinham afinidades com Celso Daniel. Houve um pouco antes do assassinato uma tentativa de aproximação de João Francisco com o irmão famoso, mas nada que apagasse o passado de ressentimentos. João Francisco era seletivíssimo nas visitas a Celso Daniel no Paço Municipal de Santo André. Geralmente garimpava favores. Já Bruno Daniel afastara-se de Celso Daniel desde que, na primeira gestão do petista, entre 1989 e 1992, rompera relações por conta de ser preterido a uma secretaria e, principalmente porque sua mulher, Marilena Nakano, titular de Educação, pretendia socializar a gestão municipal de cabo a rabo.
Havia tanta sincronia ideológica entre Celso Daniel e seus irmãos como entre Dilma Roussef, Paulo Maluf e Heloisa Helena. Aliás, João Francisco e Bruno Daniel também não se toleravam. A ideologia sempre entrava em campo e acionava o cartão vermelho de relacionamento. Era difícil conciliar o extremista de direita João Francisco e o extreminista de esquerda Bruno Daniel. Celso Daniel saiu de uma esquerda um pouco mais radical mas nem tanto quanto a esquerda radical de Bruno Daniel para uma centro-esquerda abjeta tanto para um quanto para outro irmãos. O que incomodava os irmãos biológicos era a flexibilidade ideológica de Celso Daniel numa banda comedidamente larga que jamais comprometeu a coerência de um socialista em busca da modernidade.
Feitas essas observações, hão de entender os leitores a razão de definir Bruno Daniel e João Francisco como irmãos biológicos. Eles só se encontravam nas enfadonhas festas de aniversário da família Daniel — ou no caso específico de João Francisco no Paço Municipal.
Por isso e por muito mais, há diferenças abissais entre mim e Augusto Nunes quanto à vida e à morte de Celso Daniel. Augusto Nunes não ouviu os dois lados, não reuniu dados, informações e vivências precedentes ao sequestro seguido de assassinato, não leu os depoimentos dos sequestradores, entre tantos outros elementos. E principalmente, ao contrário deste jornalista, trabalha o tempo todo na raia da partidarização e da politização. Augusto Nunes escreve subordinado ao cabresto de Veja. Escrevo subordinado ao cabresto de conhecimentos livres de qualquer injunção política, ideológica, financeira e o escambau.
Augusto Nunes, portanto, é muito mais esperto do que Daniel Lima. Ele escreve o que parte do leitorado em forma de eleitorado quer ler. Escrevo o que o leitorado e o eleitorado precisam ler.
Augusto Nunes não consegue entender — e jamais entenderá porque é refém ideológico — que a morte de Celso Daniel é uma coisa completamente distinta do suposto esquema de propina na Prefeitura de Santo André.
Reúno tanto material do caso Celso Daniel que deixo de lado a falsa modéstia para afirmar com segurança que não há nenhum jornalista que ao menos chegue perto do conjunto de informações que detenho. Foram mais de dois milhões de caracteres produzidos entre 2005 e 2007. Sem contar os anteriores.
Por isso, a propósito dos artigos que Augusto Nunes escreve sazonalmente sobre o caso Celso Daniel, só tenho a lamentar. Ele segue sempre a mesma toada entojada e viciada dos irmãos biológicos. Amontoa mentiras inteiras e meias verdades. De vez em quando, para não perder a credibilidade que imagina ter quando trata do caso, acrescenta alguma verdade. Nada mais que um truque manjadíssimo de jornalismo de pau mandado.
A primeira vez que li alguma coisa de Augusto Nunes sobre o caso Celso Daniel me provocou gargalhadas incontroláveis. Já faz algum tempo e meus arquivos impressos me oferecem a prova do crime. Augusto Nunes escreveu que uma das razões para suspeitar da definição de crime comum era o fato de Celso Daniel e Sérgio Gomes terem jantado em São Paulo. Alheio ao Complexo de Gata Borralheira do Grande ABC, alheio às especificidades provincianas do Grande ABC, alheio às medidas de segurança informativa fora do ambiente especulativo do Grande ABC, Augusto Nunes considerou um despropósito um jantar na Capital, como se o Grande ABC não reunisse variedade de opções gastronômicas.
Fosse mais repórter e menos articulista de orelhada, Augusto Nunes pouparia os leitores de tamanha estultice. Todo mundo está careca de saber que determinados assuntos envolvendo determinados integrantes da vida política, social e empresarial do Grande ABC são debatidos e resolvidos exatamente onde Celso Daniel e Sérgio Gomes foram naquela noite de 18 de janeiro de 2002 — na cinderelesca Capital do Estado, a menos de 50 quilômetros (ida e volta) de Santo André. Celso Daniel e Sérgio Gomes sempre buscaram o anonimato de jantar em São Paulo. Raramente eram vistos em restaurantes no Grande ABC. Tantos outros fazem o mesmo.
Talvez um dia destes pegue ponto por ponto daquele artigo de 2 de novembro do ano passado escrito por Augusto Nunes (”O caso insepulto assombra o PT”).
Hoje fico por aqui com o seguinte desafio a Augusto Nunes e aos promotores criminais que atuaram no Caso Celso Daniel: escolham o espaço público ou privado que quiserem, preparem as baterias e me convidem para um debate sério e responsável sobre a vida e a morte do prefeito de Santo André.
Vou trucidá-los, no sentido figurado, é claro, com a enxurrada de informações, dados e provas materiais sobre a distinção entre uma coisa e outra, ou seja, a administração da Prefeitura de Santo André e o sequestro seguido de morte.
Parem, por favor, de fazer chanchadas ideológicas do caso Celso Daniel.
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11/07/2022 Caso Celso Daniel: Valério põe PCC e contradiz atuação do MP