Quem se aventurar a conhecer mais de perto o caso Celso Daniel e recorrer ao Google corre sério risco de bater contra o muro de fantasias e elucubrações de gente que tem tanta habilidade com o assunto quanto a Igreja Católica com escândalos de pedofilia. Há no mercado de peixe da Internet imprecisões e bobagens tanto quanto tudo que a chamada grande imprensa escreveu ao longo das abordagens.
Costumo citar a revista Veja para sintetizar o histórico do caso Celso Daniel em termos de veracidade da versão de que foi o primeiro-amigo do então prefeito de Santo André o autor da armadilha do sequestro e do assassinato. Reconhecidamente a serviço de qualquer ideologia que não se aproxime dos petistas, Veja não correu o risco da manipulação dos fatos. Em capa histórica de denuncismo contra o PT, preferiu instalar a morte de Celso Daniel num compartimento de dúvida — a única dúvida entre quatro certezas que serviram de mote para o título da matéria.
Menos mal, menos mal, porque o autor da reportagem, um jornalista que não está mais na Veja, João Gabriel de Lima, manteve comigo, na fase de apurações, encontro reservado num restaurante de Santo André. Ele já havia apurado todo o material com o qual produziria texto denso e, independente de juízo de valor, de alta qualidade técnica.
Não creio que esteja quebrando sigilo profissional ao reproduzir um dos trechos da conversa com o então repórter de Veja. Disse ele, num determinado momento, que não havia como introduzir no enredo do assassinato de Celso Daniel os condimentos apimentados que os idealizadores da trama pretendiam quando lançaram mão de uma força-tarefa do Ministério Público Estadual para melar a versão petista de incompetência dos tucanos na gestão da Secretaria de Segurança Pública.
João Gabriel de Lima ouvira todas as fontes policiais possíveis para concluir que não havia conexão entre o suposto esquema de propina na Prefeitura de Santo André, que seria o centro aglutinador e difusor de receitas paralelas de prefeituras petistas, e o assassinato de um dos cinco maiores dirigentes do partido, coordenador-geral da campanha que Lula da Silva reiniciara para chegar ao Palácio do Planalto.
Até então, e mesmo sem detalhar as operações com fontes policiais, João Gabriel de Lima foi o profissional de imprensa que mais próximo chegou de escalões policiais e do Ministério Público. Mais tarde, por obra do destino e de persistência, me embrenhei de tal maneira nessa missão que ultrapassei todos os limites de razoabilidade para erigir um edifício de credibilidade informativa.
Para brutamontes verbais que contestam por contestar não vale informação alguma que não convirja para as preferências que exercitam como pano de fundo de queixas pessoais contra os envolvidos ou principalmente por causa de injunções político-partidárias.
Se Veja, repito, não conseguiu conectar uma situação e outra, ou seja, o suposto financiamento irregular de campanhas eleitorais petistas e a morte do prefeito Celso Daniel, e, por isso mesmo, optou por levar mais dúvida que certeza aos leitores, o que contestar?
Só é pouco para quem ignora que Veja foi instrumentalizada pelos promotores criminais que atuaram no caso Celso Daniel.
A maior revista nacional foi utilizada em momentos cruciais para culpabilizar Sérgio Gomes da Silva. Inclusive na antecipação do desfecho da prisão preventiva do primeiro-amigo de Celso Daniel, em dezembro de 2004. Tudo, para quem entende de jornalismo, dentro de figurino manjadíssimo de reciprocidades.
Voltando à Internet, que tudo aceita de gente sem qualificação jornalística para dar conta de fatos e de presunções, de verdades e de abusos, a recomendação aos leitores é que tomem muito cuidado.
Os jornais que publicaram muitas besteiras sobre o caso Celso Daniel já mofam nos arquivos ou já serviram à higiene pessoal. A reprodução dos textos no mundo digital está ao alcance de todos, é verdade, mas não encontra facilidades de critérios de edição da mídia impressa.
Dá muito trabalho resgatar na Internet matérias jornalistas no contexto em que fluíram. Tenho-as em meus arquivos impressos pessoais e sei bem a diferença entre revisitá-las a qualquer momento e procurar por duplicadas digitais.
Por isso, mesmo os iniciados na Internet não terão dificuldades em obter informações sobre o caso Celso Daniel em mecanismos de buscas que, repito, podem mais atrapalhar do que contribuir à interpretação dos fatos. Fiz essa experiência ainda ontem e fiquei abismado com o grau de periculosidade informativa. Há absurdos de todos os níveis. Paraquedistas não faltam.
É por tudo isso e muito mais que estou frustrado por não conseguir, ainda, encaminhar a publicação do livro com o resumo comentado de tudo o que escrevi e desvendei. É preciso colocar ordem nesse galinheiro de interesses mesquinhos. Este endereço digital é um antídoto contra delinquentes, embora nem tudo que escrevi sobre o caso Celso Daniel esteja disponível aqui. Guardo a maior parte do material para o livro pretendido.
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11/07/2022 Caso Celso Daniel: Valério põe PCC e contradiz atuação do MP