Caso Celso Daniel

Grande Circo recomeça com as
bobagens informativas de sempre

DANIEL LIMA - 18/11/2010

Está recomeçando mais uma sessão do Grande Circo Celso Daniel. O prefeito de Santo André que revolucionou ou tentou revolucionar o conceito de regionalidade vira sinônimo de sensacionalismo cada vez que o assassinato de que foi vítima volta à mídia sempre despreparada, fastfoodiana, declaratória. Desta vez quem vai fazer a festa de frases de efeito é um promotor criminal com merecida respeitabilidade na praça, depois de atuar com impacto e contundência no caso Nardoni. A vantagem imensa de Francisco Cembranelli, colocado sob medida no caso Celso Daniel, é que todos os eventuais absurdos que venha a declarar — e que já começou a declarar — vão virar verdade absoluta.


Estou muito à vontade para analisar o caso Celso Daniel. Nenhum outro jornalista deste País se entregou tanto ao tema. Sem rabo preso com quem quer que seja. Sem obedecer a qualquer ordem de patronato midiático. Sem manipulação. Apenas por conhecer os fatos e ir muito mais fundo do que imaginam os detratores de ocasião.


Não teria motivo algum para me meter nesse assunto, não fosse esse idiota jornalista acima de tudo. Costumo dizer que há acusados diretos e indiretos que não me agradam, que não constam da minha lista de relacionamento, mas que nem por isso podem ser crucificados. Que paguem por seus pecados, menos por pecados que não cometeram.


A morte de Celso Daniel não tem qualquer vinculação com possíveis falcatruas da administração petista na Prefeitura de Santo André. Foi um acidente de percurso numa Grande São Paulo infestada de sequestradores naquele começo de década. Como já cansei de escrever, a morte de Celso Daniel detonou processo de recuperação da política de Segurança Pública no Estado de São Paulo, um dos espelhos das gestões tucanas.


O promotor Francisco Cembranelli vai deitar e rolar, como já leio nos sites que cobrem ou pretendem cobrir o julgamento do primeiro réu do caso Celso Daniel, Marcos Roberto Bispo dos Santos, de atuação periférica no sequestro e no assassinato.


Leio que o promotor disse antes de começar o julgamento de hoje que o Ministério Público foi o único órgão a se aprofundar nas investigações. “A Polícia Civil investigou parcialmente o crime. Ela estava pressionada pela opinião pública para apresentar um resultado para a investigação, que foi muito curta e rápida. Eles apuraram até um determinado ponto e, claro, não se aprofundaram. Quem se aprofundou foi o Ministério Público, que, durante um ano, foi buscar novas testemunhas e colher novos depoimentos”, afirmou Cembranelli ao UOL.


Vê-se o quanto o promotor criminal está desinformado. As primeiras declarações são acintosamente imprecisas. Transmite a sensação de que se imagina à frente do caso Nardoni, esse para lá de comprobatório à culpabilidade dos réus. Nessa toada, Francisco Cembranelli acabará por desmoralizar-se, caso os defensores de Sérgio Gomes da Silva, o alvo real dos julgamentos, não mantenham exagerada discrição.


Se houve uma instância que investigou a fundo o caso Celso Daniel, essa instituição é a Polícia Civil do Estado. Foram duas ações. A segunda mais intensiva que a primeira. E as duas chegaram à conclusão de crime comum, sem qualquer ligação com eventuais ramificações de corrupção na Prefeitura de Santo André. Quem fez um trabalho açodado, sob medida, foram os promotores criminais de Santo André. Eles produziram festival de incoerências. A atuação da imprensa, então, foi uma calamidade. Gente despreparada para escrever, quanto mais para checar declarações. Como fazer diferente se o comando de redação já expedia ordens a encabrestar o tom de cada frase a ser escrita?


Quando afirma que o Ministério Público fez a melhor investigação do caso, o promotor Francisco Cembranelli comete deslize descomunal.


Só o caso de Maria Amaro, a Maria Louca, conhecida personagem policial que se apresenta como testemunha ocular e auditiva de todos os casos policiais de repercussão, já serviria para desmoronar a investigação do MP.


Maria Louca foi imediatamente descartada pela Polícia Civil quando se apresentou como testemunha, mas os promotores criminais lhe deram credibilidade, ouviram-na, garantiram inclusive abrigo em programa de proteção e, vejam só, na hora do vamos ver, de falar à Justiça, deixaram-na de lado, porque caíram na real de que se tratava de uma pobre e fantasiosa senhora em busca de notoriedade.


Sei lá se vou voltar a escrever sobre o caso Celso Daniel. Os desdobramentos por estes dias serão ainda mais alucinantes. Talvez não resista à tentação de contrapor realidades aos clichês de sempre. Depois do festival de bobagens da campanha eleitoral, quando se jogou o tempo todo para a platéia, temos uma versão policial de perda de tempo.


Celso Daniel está sendo tão vilipendiado em morte quanto o foi nos últimos instantes em vida.


Leiam também:


Assassinato de Celso Daniel salva um Pacaembu inteiro em sete anos


Caso Celso Daniel: e se Sérgio Gomes for mesmo a júri popular?


Leia mais matérias desta seção: Caso Celso Daniel

Total de 193 matérias | Página 1

11/07/2022 Caso Celso Daniel: Valério põe PCC e contradiz atuação do MP
21/02/2022 Conheça 43 personagens de um documentário histórico
18/02/2022 Silêncio de Sérgio Gomes em 2002 garante Lula presidente
15/02/2022 Irmãos colaboraram demais para estragos do assassinato
14/02/2022 MP desmente MP: Crime de Encomenda é insustentável
11/02/2022 Finalmente acaba a farra oportunista de sete mortes
08/02/2022 Previsão: jogo eletrizante no mata-mata da Globoplay
07/02/2022 Crime de Encomenda é casa que cai a cada novo episódio
04/02/2022 Bomba na Globoplay: Gilberto Carvalho admite Caixa Dois
02/02/2022 Série da Globoplay começa a revelar equívocos históricos
01/02/2022 Crime Comum em vantagem no mata-mata da Globoplay
31/01/2022 CapitalSocial torna prioridade análise da série da Globoplay
28/01/2022 Já se ouve a marcha fúnebre de uma narrativa fraudulenta
24/01/2022 Globoplay vai exibir segredo de Sérgio Gomes que MP queria?
20/01/2022 Documentário histórico põe fim ao totalitarismo midiático
14/01/2022 Entenda como e porque Lula e Alckmin fazem parte do crime
13/01/2022 Entenda como e porque Lula e Alckmin fazem parte do crime (4)
12/01/2022 Entenda como e porque Lula e Alckmin fazem parte do crime (3)
11/01/2022 Entenda como e porque Lula e Alckmin fazem parte do crime (2)