Caso Celso Daniel

Último jantar de Celso Daniel
abre especial com Sérgio Gomes

DANIEL LIMA - 01/02/2011

Acertei com Sérgio Gomes da Silva — o homem que o Ministério Público de Santo André acusa de ter mandado matar o prefeito Celso Daniel — o formato da série de entrevistas especiais e inéditas que realizaremos para expor nuances do caso mais rumoroso, nebuloso, complicado e polêmico da política brasileira nas últimas décadas. Tudo isso — rumoroso, nebuloso, complicado e polêmico — por conta de uma empreitada espetacular tendo em vista o calendário eleitoral daquele 2002 de eleições presidenciais e ao governo do Estado.


Primeiro-amigo de Celso Daniel, Sérgio Gomes vive proscrito há nove anos, desde que o corpo do então prefeito de Santo André foi encontrado numa estrada vicinal em Juquitiba, na Grande São Paulo.


Pois agora, em uma série que poderá ultrapassar 50 capítulos, esse professor que ganhou o apelido de “Sombra” por conta de uma operação ardilosamente desclassificatória de quem pretendia criminalizá-lo, vai contar situações desconhecidas para a maioria.


Vai ser uma operação extraordinariamente compensatória para este jornalista resgatar o acervo de informações que Sérgio Gomes coleciona. Vamos juntar nossos trapos, no caso as informações que detenho como o profissional de Imprensa que mais investiu tempo, esforço e dedicação na apuração do caso Celso Daniel, e a vivência pessoal de quem foi massacrado pela mídia.


Será uma simbiose intensa que valerá a pena ser acompanhada pelos leitores.


A sugestão de começar pelo último jantar de Celso Daniel foi formulada por mim nesta terça-feira a um Sérgio Gomes que parecia apressado ao telefone. Apenas parecia, porque só foi falar no jogo do Corinthians de amanhã à noite pela Taça Libertadores para ele engatar uma terceira marcha de confabulações.


Sérgio Gomes não torcia para time algum quando tudo aconteceu. Virou corintiano por minha conta, pela imersão que fiz ao nadar contra a maré da unanimidade burra de condenação que o atingiu. O Corinthians ganhou dois torcedores até então insuspeitos, porque não acompanhavam futebol assim com frequência. Além de Sérgio Gomes, também seu filho, do qual falaremos em alguns dos capítulos, derretem-se de amores pelo alvinegro. Nada que compense a perda do também corinthiano Celso Daniel.


Deixemos o futebol de lado, uma maneira da qual lancei mão para ganhar fôlego tático no que interessa. O que tem Sérgio Gomes a contar sobre o último jantar com Celso Daniel, antes de tomarem o caminho de volta a Santo André pelo chamado Três Tombos, onde acabaram por ter a vida dividida em duas partes, ele, Sérgio Gomes, transformado em bandido, e Celso Daniel, que virou saudade e, principalmente, muita polêmica?


Os capítulos que redesenharão meus textos sobre o caso Celso Daniel serão erráticos. Poderemos ter mais de um por semana, como poderemos passar uma ou duas semanas sem nada. Vou procurar armazenar informações para eventuais ausências do entrevistado, mas isso, no fundo, pouco importa.


Possivelmente teremos pela primeira vez na história do jornalismo brasileiro — quem sabe, do jornalismo mundial — uma série de reportagens com alguém condenado em vida por conta de um crime que não cometeu. Entretanto, se submetido à pressão de julgamento popular, seria provavelmente trancafiado. A mídia condenatória que sonegou elementos importantes de defesa do acusado pelo MP não teria  humildade e maturidade para reexaminar todas as bobagens que divulgou ao longo dos anos. Afinal, tratou-se o caso Celso Daniel de deliberadas ramificações partidárias, a partir da contextualização político-eleitoral do PT. Os tucanos deram troco que fizeram de Sérgio Gomes vítima maior. 


Ou alguém tem dúvidas de que a ação do Ministério Público com forte apoio da mídia na politização de um crime comum, como cansou de apurar a Polícia Civil e a Polícia Federal, é a expressão de uma engenharia de massificação de versão agendada a toque de caixa nos escaninhos da política partidária. Tudo isso para levar dúvida onde não escasseava a certeza de que se tratava de um dos muitos casos de sequestro numa então Capital coalhada de bandidos?


Possivelmente nesta sexta-feira vou traduzir as revelações de Sérgio Gomes sobre o último jantar de Celso Daniel, um apaixonado por Coca Cola em embalagem de vidro de tamanho médio, gordinhas.


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