Mudamos de planos. E isso significa um aviso de alerta aos navegantes: em vez de destrinchar capítulos imediatamente após as confissões de Sérgio Gomes e sua participação no caso Celso Daniel, decidimos em comum acordo com o entrevistado que vamos esgotar ou pelo menos proceder a série de entrevistas gravadas para, depois, apresentar as memórias do bode expiatório político-eleitoral da morte do então prefeito Celso Daniel, de Santo André.
A alteração é bombástica na medida em que, também, resolvemos subverter a ordem dos capítulos. Deixei a Sérgio Gomes a liberdade de decidir cada aspecto das entrevistas. E ele tem abordado questões mais cruciais que as pretendidas por mim. Eu estava condicionado à diplomacia e à amizade, quando não ao respeito pela individualidade de quem apresenta uma ficha de desconforto quilométrica. Sérgio Gomes está movido pela necessidade de colocar a vida em dia.
Já fizemos várias gravações em local escolhido por Sérgio Gomes. Guardo-as com zelo em espaço fora dos endereços que ocupo diariamente. Apenas uma pessoa tem conhecimento. Um interlocutor de minha estrita confiança.
Uma ordem de Sérgio Gomes para revelar o conteúdo do material transformará o acervo em nitroglicerina pura. Vou cumprir rigorosamente o tratado. Como sempre cumpri todos os tratados. Diferentemente de malandros que infestam a sociedade e que, mais que malandros, dão golpes baixos, se fazem de vítimas e tentam se locupletar. Mas isso é outra história.
Não vou negar nas coxias muito menos publicamente o prazer especial a cada etapa de gravações com Sérgio Gomes. É experiência interessante. Os desabafos são sinais de que está desopilando a alma depois de nove anos de completo silêncio. Nem poderia ser diferente a reação de Sérgio Gomes. Experimente passar pelo calvário que ele passou. Sérgio Gomes é um proscrito social. Apontá-lo num passeio em shopping, por exemplo, seria o exercício preferido de quem quer viver 15 segundos de fama. Para azar desses dedo-duros sociais, Sérgio Gomes não costuma frequentar ambientes concorridos.
Sérgio Gomes mais que desabafa quando pronuncia cada frase. Ele se sente mais leve e solto. Sinto-me seu confessionário. Não nego que também me acho premiado, como se tivesse sido reservada para mim uma recompensa especial por opor-me à versão do Ministério Público de que Sérgio Gomes participou do sequestro e do assassinato do dirigente público que seria um dos cinco homens de ouro do governo Lula da Silva. Já a Polícia Civil e a Polícia Federal chegaram, como se sabe, à conclusão radicalmente diversa. O crime foi comum.
Estou me lixando às pressões que já se manifestam. Não tenho compromisso político, partidário e econômico com ninguém. O que Sérgio Gomes disser além do que já disse estará muito bem acondicionado em gravação digital que, no momento certo, ganhará forma de texto jornalístico. Trata-se de preciosidade.
Se minha intenção era não forçar a barra para obter de Sérgio Gomes informações que ele eventualmente não pretendesse repassar, tudo se esgarçou. O primeiro-amigo de Celso Daniel destravou a garganta, soltou a língua, libertou o cérebro, desintoxicou a alma.
Deixo-o falar à vontade porque é assim que exercita um ato heróico consigo mesmo, ou seja, desencadeia a retirada de fardos imensos de um acumulado de sentimentos que acabaram por afetar-lhe a saúde ao longo do ostracismo imposto em campanha de desqualificação pública movida a golpes sensacionalistas de partidarismo político.
Estamos tratando com Sérgio Gomes duas vertentes do caso Celso Daniel. O assassinato propriamente dito e as divulgadas e massificadas informações sobre supostas propinas na administração de Celso Daniel.
Como se sabe, uma situação teria levado à outra, segundo versão final das investigações do Ministério Público, cujo grupo especial de promotores criminais foi criado e fortalecido em Santo André durante um período asfixiante de informações unilaterais.
Não adianta forçarem a barra que nada revelarei até que Sérgio Gomes assim decida. Estou proibido por mim mesmo de emitir qualquer comentário sobre assuntos tratados nas gravações. Tudo que escreverei daqui em diante sobre o caso Celso Daniel terá a mesma fonte de alimentação de tudo que escrevi anteriormente. Não me utilizarei das vantagens mais que merecidas de ouvir o principal protagonista do crime que abalou o País para enveredar por caminhos antes jamais trilhados.
Só posso antecipar que o material é explosivo.
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11/07/2022 Caso Celso Daniel: Valério põe PCC e contradiz atuação do MP