Sabem os leitores quais são os pontos cardeais mais recorrentes de gente que quer saber a quantas andam as memórias de Sérgio Gomes, o bode expiatório do caso Celso Daniel? Vou mencioná-los em seguida. Retomo o caso Celso Daniel após quase três meses de silêncio neste espaço. Faço-o por conta de pressões de leitores que me mandam e-mails. Querem porque querem saber das gravações com Sérgio Gomes. Querem dicas. Querem revelações.
Não adianta responder aos leitores que condicionamos a divulgação dos capítulos à expressa autorização de Sérgio Gomes. De vez em quando acredito que ele vai sinalizar favoravelmente, mas logo em seguida recua. Um dia desses acho que vai se encher e tudo vai para os ares.
Como se sabe, tenho me encontrado com Sérgio Gomes em dias erráticos e em locais definidos com a participação discreta de um mensageiro. Os locais variam de acordo com situações específicas. Se há uma rotina é o tempo que consumimos com os depoimentos.
Geralmente não passa de 60 minutos por encontro. O homem acusado pelo Ministério Público de ter armado o sequestro e a morte de Celso Daniel, e que rigorosíssimas investigações policiais concluíram tratar-se de inocente, às vezes dá a impressão de que não tem muita paciência para retomar o passado. Mas o faz ao que parece premido pelas circunstâncias. Transmite a sensação de que se sente mais leve ao final de cada encontro.
Querem os leitores saber o que os leitores mais cobram deste jornalista numa espécie de agenda de esclarecimentos?
Vejam só os personagens que supostamente mantiveram relações com Sérgio Gomes durante o período pré-assassinato de Celso Daniel, na Prefeitura de Santo André e em encontros partidários:
Luiz Inácio Lula da Silva, então eterno candidato à presidência da República pelo Partido dos Trabalhadores.
Miriam Belchior, secretária de Administração da Prefeitura de Santo André e hoje ministra do Planejamento do governo Dilma Rousseff.
Maurício Mindrisz, assessor do prefeito Celso Daniel e hoje assessor do prefeito Luiz Marinho, de São Bernardo.
Gilberto Carvalho, chefe de Gabinete do prefeito Celso Daniel e hoje ministro de Dilma Rousseff.
Klinger Luiz de Oliveira Souza, secretário de Celso Daniel.
Ronan Maria Pinto, concessionário do sistema de transporte coletivo e mais tarde dono do Diário do Grande ABC.
João Francisco Daniel, irmão de Celso Daniel.
José Dirceu, proeminente membro do PT.
Não vou transferir a este espaço as perguntas mais recorrentes que envolvem esses e alguns outros personagens que teriam tido proximidade intensa com Sérgio Gomes, primeiro amigo de Celso Daniel. Nem farei qualquer tipo de abordagem sobre essas questões com Sérgio Gomes. Mantenho o pacto às gravações: deixo-o absolutamente à vontade para discorrer sobre o que pretende expor, sem interferir diretamente em questões específicas.
Pretendo, é claro, num determinado momento dos encontros, abordar diretamente algumas questões, mas caberá ao próprio depoente a decisão de verbalizar respostas. Não o forçarei a nada; por isso não construo falsas expectativas.
Há questões cabeludíssimas nos questionamentos dos leitores. Diria que se situam entre a fantasia popular e a veracidade possível, por isso mesmo não as apresento em forma de exemplos, porque poderiam sugerir direcionamentos especulativos.
Conheço Sérgio Gomes suficientemente para dizer que não se submete a encabrestamentos. Talvez seus acusadores tenham negligenciado essa faceta ao torná-lo protagonista de uma farsa no campo criminal, pressionando-o a revelar possíveis desvios administrativos do governo Celso Daniel.
Lembro apenas que nas gravações com Sérgio Gomes sugerimos e conseguimos que desse ênfase numa primeira escala desse voo de esclarecimentos a questões administrativas do governo de Celso Daniel. Vai ficar para depois a cronologia de pós-assassinato. Até porque, sobre o crime, tenho caudal de informações, que traduzi em mais de dois milhões de caracteres de matérias as revistas LivreMercado e CapitalSocial.
Sei porque sei entre outras razões porque tenho o dever de saber que os bastidores políticos, principalmente do PT, agitaram-se desde os primeiros acordes destes textos que, para alguns, têm toda a tessitura de drama. Que continuem a espernear, porque não creio que tão cedo Sérgio Gomes será tomado por algum sentimento que o faça calar-se e desistir das gravações. Sérgio Gomes sabe que não sou não estou a serviço do sensacionalismo e que só tenho acesso às memórias de seus tempos na Prefeitura de Santo André porque cumpri rigorosamente todos os princípios basilares do bom jornalismo: saí em sua defesa com base numa montanha de razões técnicas.
A confidencialidade prometida das gravações é cláusula pétrea, até que ele, apenas ele, decida-se em contrário. Uma situação que reconheço complexa, porque me obriga a ser ainda muito mais cuidadoso quando me dedico ao caso Celso Daniel. Qualquer informação que venha a publicar poderia parecer apropriação eticamente indébita.
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11/07/2022 Caso Celso Daniel: Valério põe PCC e contradiz atuação do MP