Decidi neste final de semana prolongado, quando tive a oportunidade de colocar a casa de obrigações profissionais em ordem, que reproduziremos sim a partir dos próximos dias a melhor e mais completa cobertura do caso Celso Daniel. Sei que vão dizer que estou advogando em causa própria, mas não posso ser hipócrita.
Não me sinto nas alturas por ter dado ao caso Celso Daniel seriedade jornalística. Parto do princípio de que a mídia tem dificuldade tão grande para dar sequência a situações que se estendem por algum tempo que qualquer jornalista bem intencionado e sem rabo preso teria feito o mesmo. É claro que também houve partidarização e ideologização do assunto. A mídia é assim mesmo, movida por interesses nem sempre confessáveis. Para que tudo fosse possível, precisava de espaço. Tive-o tanto com esta revista digital como com a revista impressa LivreMercado. Aquela que já não existe mais.
O caso Celso Daniel que os leitores de CapitalSocial vão conhecer a fundo começa com a edição de outubro de 2005 de LivreMercado e se encerra em dezembro do ano seguinte. É muito provável que após a republicação do material, incorpore nesta revista digital outros textos que publiquei antes, durante e depois neste CapitalSocial.
E como começará esta série especial que se somará ao material já disponível nesta revista digital? Reproduzo um texto publicado em dezembro de 2006:
A edição de outubro de 2005 explicava posicionamento de LivreMercado: “Inocente ou culpado? Imprensa já condenou Sérgio Gomes” foi o título de capa. A foto de um Sérgio Gomes de olhar perdido dava o tom do estado de espírito do homem que dirigia a Pajero abalroada na noite de 18 de janeiro de 2002 por dois veículos lotados de sequestradores. O texto auxiliar da chamada de capa daquela edição completava o tom da dicotomia que resiste em permear o caso, apesar da mais recente conclusão policial: “Investigações da Polícia Civil e da Polícia Federal inocentam o homem que acompanhava Celso Daniel na noite do sequestro. Ministério Público o considera culpado. A mídia o condena”. A primeira da série de matérias do caso Celso Daniel ocupou 12 páginas sob o título “Sérgio Gomes silencia-se à condenação da Imprensa”. Os primeiros parágrafos estratificam o conteúdo jornalístico: “O empresário Sérgio Gomes mantém rigoroso silêncio público diante dos desdobramentos do assassinato do prefeito Celso Daniel, que o acompanhava enquanto dirigia o utilitário Pajero na noite de 18 de janeiro de 2002. Sérgio Gomes sofre sistemático linchamento da maioria da mídia depois que o caso saiu da esfera criminal, apurado pela Polícia Civil de São Paulo e pela Polícia Federal de São Paulo, e se cristalizou como um dos mais ruidosos instrumentos de interpretações político-criminais do País”.
Além de denso texto analítico sobre o comportamento da Imprensa, LivreMercado ouviu por e-mail os promotores públicos Amaro José Thomé Filho e Roberto Wider Filho, além do advogado criminalista Adriano Vanni, da equipe de defesa de Sérgio Gomes: “Espero que, com a reabertura das investigações, o Ministério Público se conscientize e se convença de que a morte de Celso Daniel foi um crime comum, e não motivado por questões políticas, como vêm os promotores tentando fazer crer há três anos, sem sucesso” — desabafou Adriano Vanni. “A prova com relação ao envolvimento de Sérgio Gomes da Silva como mandante do assassinato de Celso Daniel já é suficientemente robusta e clara, como, aliás, assim reconheceram o juiz de Direito de Itapecerica da Serra, o Tribunal de Justiça do Estado e o Superior Tribunal de Justiça, através de decisões unânimes que reafirmaram a necessidade de mantê-lo preso. A nova fase de investigações tem por objetivo apenas identificar outros mandantes e outros executores do crime” — afirmaram os promotores criminais.
O espaço editorial da edição de outubro do ano passado foi integralmente dedicado ao caso Celso Daniel. “Quem matou a fome de informar?” foi um chute certeiro na falsa independência da maioria da mídia que de maneira geral maltratava o assunto. Um dos trechos: “É complicadíssimo mexer no vespeiro do caso Celso Daniel, sobretudo nos pontos em que se instalam dúvidas e certezas sobre a autoria do assassinato. A persistência e o vigor com que o Ministério Público Estadual instalado em Santo André se coloca na tipificação de crime encomendado se assemelham à convicção e à irredutibilidade da Polícia Civil ao assegurar que tudo não passou de evento circunstancial (…) O que a Reportagem de Capa pretende denunciar, de fato, é a incompetência generalizada da mídia nacional para tratar do assunto. A mediocrização da pauta jornalística e a subordinação acrítica às fontes de informação colocam a escanteio a importância de aprofundamento informativo” – afirmou o editorial da edição de outubro de 2005.
Creio que há tantos interessados em conhecer os meandros do caso Celso Daniel longe de vieses da chamada grande mídia que, sinceramente, talvez tenha me demorado em replicar aquele trabalho jornalístico neste CapitalSocial. Mas sempre é oportuno voltar ao caso Celso Daniel, porque, acreditem, estamos nos aproximando do 10º ano daquele incidente que mudou profundamente a história da política e da administração pública em Santo André, entre outras consequências.
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11/07/2022 Caso Celso Daniel: Valério põe PCC e contradiz atuação do MP