Política

Vote num Grande ABC de
compromissos assinados

DANIEL LIMA - 30/08/2002

O mote Vote no Grande ABC, lançado em 1994, deu origem ao Fórum da Cidadania. Na sequência, em 1998, foi rebatizado com seletividade subjetiva, o de Vote com Qualidade no Grande ABC. As campanhas foram meritórias, mas incompletas. E por serem incompletas permitiram que oportunistas de plantão capitalizassem o anseio da comunidade e não retribuíssem na proporção desejada o senso de responsabilidade e de compromisso pretensamente sugerido. Sem contar que geraram mal-estar em candidatos forasteiros que conseguem amealhar votação em diferentes regiões do Estado e que, eleitos, têm peso importante nas relações políticas.


Por mais que deva ser compreendido o limite de atuação legislativa, já que o arcabouço constitucional privilegia o Poder Executivo, não é possível continuar relevando a inapetência dos deputados estaduais e federais eleitos pelo Grande ABC. Não é por acaso, portanto, que jamais tivemos um único deputado com presença marcante em São Paulo ou em Brasília. Lula passou por ali quase incógnito. Celso Daniel também pouco produziu. Da safra atual, questões pontuais resolvidas e alardeadas por alguns de nossos legisladores confirmam a regra de discretíssima participação.


A tentativa de maquiar o instinto de sobrevivência com o mandraquismo chamado Bancada do ABC, dos deputados estaduais, só ratifica a troca do coletivo pela embromação. Nesse ponto, só compra a bobagem quem perdeu o senso crítico.


Mesmo sob o risco de nos próximos quatro anos esse enredo repetir-se como moto-contínuo, é possível configurar propostas que balizariam o foco de atuação dos deputados que serão eleitos por potencial de 1,66 milhão de votos do Grande ABC. Houvesse uma única instituição não-governamental capaz de diagnosticar, planejar e formular pauta conectada com as necessidades locais e, com independência sobre os desígnios legislativos de nossos eleitos, cobrar-lhes respostas permanentes e públicas, não tomaria este jornalista a iniciativa de relacionar sucintamente uma série de sugestões que, a partir de janeiro do ano que vem, pautarão o monitoramento que exerceremos junto aos deputados eleitos. Em janeiro próximo, quando os novos representantes do Grande ABC tomarem assento na Assembléia Legislativa e na Câmara Federal, enviaremos por meio de carta protocolada uma cópia das premissas básicas que permitirão a avaliação dos mandatos delegados pelos votos locais.


O ideal mesmo, caso fôssemos República do ABC capaz de honrar um regionalismo que só existe em expressões publicitárias ou em devaneios político-eleitorais, é que essa iniciativa tivesse outra roupagem: uma pauta escrita a várias mãos seria assinada num evento específico por todos os candidatos que pretendessem acrescentar à campanha o aval da logomarca da instituição promotora da iniciativa. Mesmo aqueles que eventualmente não pudessem comparecer ao encontro receberiam o material para pronta devolução assinada. Compromisso firmado, a assinatura teria efeito bumerangue quatro anos depois se o candidato eleito não tivesse superado os critérios de avaliação da instituição formuladora da iniciativa.


Entre os pontos específicos do plano de atuação legislativa dos deputados eleitos pelo Grande ABC estariam também questões municipais e regionais cujos resultados não dependeriam necessariamente de projetos específicos na Assembléia Legislativa e na Câmara Federal. O quadradismo de considerar que deputado estadual e deputado federal só têm responsabilidade sobre suas jurisdições é uma maneira antiquada de esquadrinhar a função do homem público.


Mesmo sem poder de voto, tanto os deputados estaduais como os deputados federais podem influenciar as questões que permeiam o quadro socioeconômico regional fora de seu alcance legal. Um exemplo? A questão tributária no Grande ABC, que vive guerra fiscal interna, poderia ser avocada pela (agora sim) Bancada do ABC, tanto estadual como federal, como forma de pressão para harmonizar as relações internas. Para os eleitores, não interessa se essa incursão viesse a colocar o deputado eleito de saia justa junto a prefeitos do partido que representa. Voto regional é voto regional e, como tal, deve ser tratado em dimensões extraordinárias.


Perceberam como há camadas sobrepostas e igualmente instigantes de mudanças conceituais, técnicas, operacionais e políticas que bombardeiam o convencionalismo com que se tratou até agora a questão Vote no Grande ABC e sua variante Vote com Qualidade no Grande ABC?


É preciso acabar com essa franquia de geopopulismo travestido de engenharia de responsabilidade eleitoral. Não basta votar nos candidatos do Grande ABC. É indispensável que os candidatos do Grande ABC tenham compromissos com o Grande ABC. Isto posto, não será tão relevante quanto se imagina que se destinem sufrágios aos candidatos necessariamente com domicílio eleitoral em qualquer um dos sete municípios locais. Entenderam a diferença? Vejam só o seguinte exemplo: se o deputado federal Delfim Netto assinar o termo de responsabilidade de lutar por um conjunto de propostas-eixo que visam atingir em cheio os principais focos de incêndio no porão da governabilidade socioeconômica do Grande ABC, por que não permitir que o candidato faça campanha eleitoral por estas plagas com igualdade de tratamento em relação aos concorrentes locais, sem qualquer tipo de constrangimento?


O que acontece hoje com Delfim Netto e tantos outros candidatos que cavoucam votações no Grande ABC é que eles capitalizam as vantagens de suas bases locais sem a contrapartida de submeter-se ao elenco de reivindicações mais prementes da região. Por isso mesmo, sentem-se absolutamente liberados de qualquer ação coordenada com os legisladores locais.


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