Política

Grande ABC vai às urnas
para eleger Lula da Silva

DANIEL LIMA - 14/11/2002

Se em outros tempos, tempos menos bicudos, tempos em que o rebaixamento da qualidade de vida na região era dissimulado, Lula da Silva rivalizou com Fernando Henrique Cardoso os votos dos eleitores do Grande ABC, o que dizer neste domingo quando, na condição de favorito, enfrenta principalmente o candidato de um governo que deixou a região a ver navios e a afundar em problemas?


A grande vantagem de ser jornalista independente, sem filiação partidária e sem rabo preso com quem quer que seja, é essa: poder escrever o que pensa e o que dita sua consciência regional, sem medo de patrulhamento, sabendo de cor e salteado que política e futebol são espécie de Fla-Flu. E o que penso é que o Grande ABC, particularmente o Grande ABC, não tem motivos para votar em outro candidato que não seja Lula da Silva. Não bastassem os anos de chumbo da Era FHC, há uma questão de coerência em jogo, ditada lá atrás com a campanha Vote no Grande ABC, em 1994, estendida em 1998 para o Vote Com Qualidade no Grande ABC e agora, quatro anos depois, adaptada para o Vote Com Cuidado no Grande ABC.


Por que votar em Lula da Silva? Simplesmente — se querem que reduza o que sinto em poucas palavras — porque pelo menos saberemos em que porta bater para reclamar. Melhor dizendo: em quais portas bater para reclamar, porque muita gente petista da região será aproveitada em vários escalões do governo socialdemocrata que Brasília centralizará a partir de janeiro do ano que vem.


Tenho evitado construir teoria sobre eventuais razões de votar ou não em Lula da Silva porque se trata de emaranhado dualístico e paradoxal que exigiria muito mais do que uma abordagem superficial neste espaço. Exatamente por isso prefiro trabalhar teorias no sentido pragmático: sei exatamente por que não se deve manter a estrutura do governo federal que está aí e isso é o suficiente para a opção por outro candidato — sempre considerando para efeito de julgamento a relação praticamente omissa, para não dizer desprezível, do governo FHC com o Grande ABC.


Mesmo ao se dar guarida às previsões mais catastrofistas sobre eventual governo Lula da Silva, é preferível a inovação com risco do que a manutenção do descaso a que foi submetido o Grande ABC durante os últimos oito anos. Descaso não é bem o termo que define o governo FHC e sua relação com a região. Trata-se, na verdade, de desinteresse, de quase discriminação. Não foi à toa que perdemos 34% do PIB.


Como escrevi outro dia, em confronto saudável com a decisão da revista Carta Capital de Mino Carta apoiar Lula da Silva e de os veículos conservadores engajarem-se no candidato governista, a opção deste jornalista é pela conjugação temática voltada sobremodo à defesa de regiões metropolitanas. E nesse ponto nada indica com maior clareza que há algum outro partido mais sensível à problemática do que o PT — mesmo considerando-se que muitos de seus representantes precisam tomar um banho de conhecimentos nessa área, porque tanto na Assembléia Legislativa quanto no Congresso Nacional praticamente se omitiram sobre o assunto. Tanto quanto os demais de outras agremiações.


Se Lula da Silva conseguir estabelecer relação de forças que nem sufoque nem privilegie as correntes mais radicais do Partido dos Trabalhadores, terá resolvido metade dos problemas para recolocar nos trilhos uma Nação que dormiu no berço esplêndido da moeda quase estabilizada. A governabilidade de Lula da Silva é a estrutura sobre a qual se depositará toda a carga de potencialidade de um Brasil gerenciado sob novos paradigmas. Se as forças opositoras dedicarem ao eventual novo presidente petista uma parcela que seja da paciência concebida a Fernando Henrique Cardoso, certamente as turbulências não passarão de circunstâncias desconfortáveis plenamente superáveis.


A votação que Lula da Silva haverá de receber neste domingo no Grande ABC será o melhor gesto de desagravo dos eleitores da região mais duramente abalada pelas políticas macroeconômicas do governo federal. Será também uma maneira de demonstrar o quanto se acredita na eventualmente mais que palpável possibilidade de Lula da Silva assumir o cargo máximo da Nação sem desviar os olhos, o coração, a mente e a alma do território em que iniciou sua histórica trajetória política.


Votar em Lula da Silva neste domingo — mesmo que seja a primeira vez — e ajudá-lo a superar os demais candidatos não se esgota no exercício da democracia. Votar em Lula da Silva, no caso dos eleitores do Grande ABC, é, agregadamente, não deixar desperdiçar provavelmente a última oportunidade que todos temos de ver a economia regional recuperar parte do viço perdido sobretudo nos anos FHC e, com isso, estancar danoso processo de esfacelamento social.


Enfim, votar em Lula da Silva será, para quem mora na região, um gesto de instinto de sobrevivência. Por menos que Lula da Silva faça pela região, sempre será muito mais que o governo cujo mandato está para expirar.


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