As eleições para a Prefeitura de São Caetano neste ano são um paradoxo. O candidato do prefeito Luiz Tortorello, o médico José Auricchio, está ameaçado de ver o baú de votos repassáveis esvaziar-se, senão de forma definitivamente comprometedora à chegada ao Paço, pelo menos em níveis preocupantes.
Como é possível que seja colocado em xeque o concorrente apoiado pelo prefeito que mais frequentou as manchetes de conquistas municipais e regionais nos últimos oito anos?
Tudo indica que por falta de articulação política. Não fosse essa resposta, como entender que além do tradicional oposicionismo petista, dono de um terço do eleitorado, outros dois concorrentes de forte inserção comunitária, Tite Campanella e Iliomar Darronqui, também estejam na parada? Sem contar outros três candidatos de menor porte.
O parte-e-reparte de São Caetano pode levar o resultado final das eleições a um desenlace subestimado até recentemente: o candidato Hamilton Lacerda, do PT, sair em triunfo depois da apuração eletrônica de um único turno. O jogo em apenas um tempo, e portanto sem reacomodações partidárias, é o núcleo de prospecções que podem ser feitas sobre os resultados de outubro. Não há possibilidade alguma, portanto, de emendas articuladoras.
Sabe-se que o prefeito Tortorello e aliados mais próximos movimentam-se como bons guerrilheiros entre as densas alternativas de combate para neutralizar a condução aritmética que poderá conceder ao Partido dos Trabalhadores a chefia de governo do Município de melhor qualidade de vida do Brasil.
Se São Bernardo é simbolicamente representativa para o PT, porque ali emergiu o sindicalismo comandado pelo então metalúrgico Lula da Silva, São Caetano molda-se como cidadela emblemática da possibilidade de o partido do governo federal pretender dar um salto quântico de representatividade econômica e social. Afinal, a infra-estrutura material e humana de São Caetano é um longo histórico que desafiou a barafunda dos municípios metropolitanos.
O deslocamento do peso político do triprefeito Walter Braido em direção ao rebelde Iliomar Darronqui, ex-secretário do prefeito Luiz Tortorello, junta-se à independência de Tite Campanella em relação ao Paço com reforços petistas. Na medida em que Darronqui e Campanella se apresentarem equilibradamente fortes como contraponto de centro-direita ao candidato escolhido pelo grupo do prefeito, mais se apresentará como provável a possibilidade de o um terço do PT tornar-se maioria de votos.
Resta saber se o cacique Walter Braido não está blefando quando afirma que apoiará Darronqui, que aprecia as qualidades de Lacerda e que Tite Campanella lhe é bem visto. Um desses alquimistas políticos capazes de mexer os pauzinhos sem sair do escritório e a quem uma parte considerável dos eleitores transfere o poder decisório de apontar quem é melhor para o futuro da cidade, Walter Braido é peça de um jogo disputadíssimo que pode fazer a diferença.
A menos de três meses da corrida aos votos, é provável que o prefeito Tortorello não deixará que o divisionismo de centro-direita se consolide e que entre para a história como responsável pela abertura das porteiras a um partido que tanto execra. O problema é que o cavalo de Tróia parece ter chegado a ponto irreversível. Sobretudo porque Hamilton Lacerda é um petista de linha moderada, um centro-esquerda também com a cara de uma São Caetano que ganha nova formatação sociodemográfica com o adensamento de uma classe média que se ocupa profissionalmente na Capital e cujo grau de criticidade parece distanciar-se do preconceituoso rótulo de conservadorismo.
Mirem São Caetano, porque o bicho parece que vai pegar.
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16/09/2024 Três versões de um debate esclarecedor