Se determinados candidatos se lançassem em direção aos problemas mais crônicos do Grande ABC com a sofreguidão das campanhas eleitorais, provavelmente viveríamos situação bem diferente. É impressionante como nesse período de embate por votos e por outros objetivos não tão nobres aflora a disputa por espaço na mídia.
Qualquer observação, por mais realista que seja, é recepcionada com pedras. Concorrentes a cargos máximos na hierarquia municipal sentem-se intocáveis na reta de chegada. A adjetivação, por mais apropriada que seja, por mais sintetizadora que se apresente, soa como ofensa. Faz-se de tudo para aparecer, portanto. A carnavalização em picadeiros — apropriados ou não — é imediata.
Boa parte dessa herança de oportunismos deslavados se deve à própria mídia, incapaz de estabelecer padrão minimamente sensato de cobertura. Confunde-se substantivo com acessório. Falta hierarquizar os casos a fim de se dar tratamento adequado. Quando se alçam questões diferentes a tratamentos editoriais semelhantes, estimula-se o rebaixamento temático. O enobrecimento da pauta custa planejamento, dedicação, conhecimento. Mas nem sempre se tem tempo ou disposição para tanto.
Tudo é motivo para espetáculos de circo mambembe nas hostes partidárias mais avessas à profundidade da informação. Há os feridos nos brios porque se sentem minimizados por análises que se prendem exclusivamente, por exemplo, aos números de pesquisas específicas.
Experimentem entender o trabalho jornalístico de avaliação de candidaturas para o comando de paços municipais comparando-os, por exemplo, com as disputas da Fórmula-1. Numa campanha eleitoral, a curva histórica de tendência dos votos vai definindo a cada etapa quem tem e quem não tem garrafa para vender.
A menos de 20 dias da disputa final, são ou não figurantes os concorrentes que estão na rabeira desde o início das sondagens e não conseguem arredar pé do aprisionamento numérico?
Principalmente numa região em que a ausência de mídia eletrônica de massa torna praticamente impossível um salto simples qualquer, quanto mais um triplo. Na F-1, cada rodada igualmente consolida os favoritos e os que não têm nada a fazer senão marcar presença.
Quem se sentir melindrado com essa observação, ou seja, de que não passa de coadjuvante e avoca medidas judiciais contra a liberdade de imprensa, provavelmente busca saída honrosa a bordo de evidente plano de vitimização. A abordagem jornalística de uma pesquisa eleitoral não pode se permitir submissa à possibilidade de ferir suscetibilidades, sob pena de não cumprir o requisito básico exigido pelos consumidores de informação — o de que todos os algarismos que se apresentam estatisticamente têm evidentes explicações.
Seria por demais benéfico para o conjunto da população do Grande ABC que o pendor individualista de quem se sente seletivamente prejudicado por análise jornalística engrossasse o coro daqueles que clamam por transformações sociais e econômicas.
De maneira geral, a classe política do Grande ABC, em todos os níveis e inclusive entre os aspirantes, registra déficit acachapante na contabilidade de compromisso regional. Não perdemos 39% do PIB industrial durante o governo Fernando Henrique Cardoso apenas porque o ex-presidente e sua equipe econômica desconheciam a distância entre plano macroeconômico e ações regionais. Perdemos também porque a classe política e de candidatos à política foi tão omissa quanto as chamadas lideranças empresariais e sindicais, envoltas pelos próprios umbigos.
Por isso, convém aos melindrosos não tentar o golpe baixo e insensato de arvorarem-se discriminados. Qual deles, por acaso, se apresentou nesse período todo de perdas econômicas e agravamento do quadro social para ao menos sugerir medidas reativas?