Política

Capital eleitoral

DANIEL LIMA - 14/10/2004

Há numerologia do primeiro turno das eleições em Santo André que desafia os neurônios dos finalistas de 31 de outubro. Trata-se do seguinte: para quem vão os votos — e muitos votos por sinal — do peemedebista Wilson Bianchi e do pedetista José Dilson?

Vão para João Avamileno em maior proporção, ou para Newton Brandão em maior escala?

O desafio é muito mais complexo do que supõem os céticos, mais importante do que desprezam os auto-suficientes e muito mais oportuno do que suspeitam os desavisados. A começar pela gênese dos dois concorrentes mais expressivos que não chegaram ao segundo turno.

O deputado José Dilson foi rigorosamente cortante ao dizer aos quatro cantos, por meio deste jornal, que os 15.661 votos que amealhou são especificamente seus, sem intermediação dos candidatos a vereador, enquanto boa parte dos 23.400 votos que inflaram o peito de Wilson Bianchi teriam vindo de uma confederação de candidatos à Câmara Municipal, obedientes à fidelidade partidária.

Isto posto -- e Bianchi não reagiu à provocação -- tem-se matizes diferenciados. O possível repasse de votos de José Dilson, o Médico do Ratinho, seria potencialmente maior que o de Wilson Bianchi.

É provável que se construam múltiplas teorias sobre o grau de influência dos votos recebidos por José Dilson e Wilson Bianchi. Não faltará quem certamente dirá em defesa do peemedebista que sua juventude atendeu a determinado segmento eleitoral e, por isso, teria se desgarrado dos fiadores partidários aos postos proporcionais.

Certo mesmo e sem a menor margem para discussões é o que se extrai do mapa das urnas. Talvez a notícia seja excelente para João Avamileno, ou quem garante que não seja também para Newton Brandão? O fato é que nada menos que 85% dos votos de Wilson Bianchi e de José Dilson saltaram das urnas eletrônicas localizadas no centro expandido e na periferia de Santo André. Coincidentemente, os redutos onde João Avamileno virou o jogo e ultrapassou Newton Brandão, somando 4,1 pontos percentuais de vantagem.

Apenas para que se resgate um pouco da disputa de correligionários durante a apuração em Santo André: com 30% das urnas apuradas na noite de 3 de outubro, os apoiadores de Brandão comemoravam antecipadamente a vitória, porque o placar registrava 60% contra 30%. Quando as muito mais numerosas urnas da periferia começaram a alimentar os dados do TRE, a diferença se comprimiu até virar pó. No mesmo diapasão, cresceu a votação de Bianchi e de Zé Dilson.

Juntos, Bianchi e Zé Dilson somaram 39.101 votos. Desse total, apenas 5.847 estão localizados em zonas eleitorais onde Brandão superou João Avamileno. Os 33.254 votos que completam o histórico das urnas dos dois candidatos foram alcançados em localidades onde imperou João Avamileno. Eles registraram 10,26% dos votos válidos.

Assessores da candidatura Brandão não perdem o sono apenas porque a classe média e conservadora que predominantemente apóia o tucano pode bater asas no feriado prolongadíssimo que engolfa o segundo turno. Eles estão inquietos porque não esperavam que João Avamileno ultrapassasse 40% dos votos válidos, ou perto de 35% do total de votos. Corroborou para a projeção, que teria como contraponto a vitória no primeiro turno da Frente Andreense, a metralhadora giratória que reabriu eleitoralmente o caso Celso Daniel com suas variáveis sensacionalistas. Como João Avamileno superou a expectativa, aproximando-se de 50%, a candidatura Brandão entrou em parafuso. A ordem é conquistar a maioria do eleitorado de José Dilson e Wilson Bianchi justamente em zonas populares, onde João Avamileno conta com mais eleitores.

A tese pouco contestada de que os votos petistas são mais fiéis que os endereçados aos tucanos encaminharia a decisão sobre o capital eleitoral de Wilson Bianchi e José Dilson para redirecionamento decisivo. Bastaria a João Avamileno metade da votação dos dois derrotados para assegurar a vitória.

A suposta vantagem de oito pontos percentuais que João Avamileno teria assegurado na primeira semana pós-eleição, segundo pesquisa do Instituto Brasmarket, conduziria à interpretação de que no parte e reparte dos votos dos dois derrotados quem sai no lucro é o petista.

Essa possível equação confirmaria a teoria de que num embate de segundo turno o candidato mais conhecido pela prática executiva do cargo e que eventualmente tenha sofrido desgaste acaba perdendo terreno para o menos conhecido, porque os eleitores prefeririam o novo. No caso, Avamileno é o novo, com dois anos de administração contra 14 de Newton Brandão.

Provavelmente por isso, Brandão precise desesperadamente compartilhar a imagem de Wilson Bianchi em outdoors. O contraponto contribuiria para reduzir o impacto de algo envelhecido que encontra sérias resistências nas camadas mais jovens dos eleitores.



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