São leões-de-chácara jurídicos os assessores do doutor candidato a gerente da Fazenda Ramalho. Jamais se viu ou se tem notícia na história da política nacional, qualquer que sejam os tempos, tanta vocação a entupir a agenda do judiciário eleitoral, quando não criminal. E uma vocação masoquista de se expor a perder todas as demandas contra as informações prestadas pelo jornal.
O sucessivo impedimento de publicação de pesquisas eleitorais que tomem o pulso dos representantes com direito a voto dos 600 mil animais da Fazenda Ramalho é café pequeno perto da força-tarefa implementada para atazanar a vida do jornal.
Passam de duas dezenas as medidas judiciais. Qualquer informação supostamente ácida é tratada a porretadas jurídicas. É provável que, tivesse esculpido uma ilha artificialmente democrática, nem Fidel Castro recorreria tanto ao amordaçamento pretendido pelos leões-de-chácara do doutor que concorre com o operário à direção da Fazenda Ramalho.
O corpo de advogados do doutor parece ter recebido incumbência semelhante a dos cabos eleitorais: trabalhem, trabalhem e trabalhem sem parar, porque o importante é ganhar o jogo. Um direito que lhes assiste, é claro.
Uma pena que, em vez dos leões-de-chácara, um quadro de assessores técnicos reconhecidamente qualificados não tivesse sido preparado para disseminar as propostas de um plano de governo que colocasse em perspectiva uma Fazenda Ramalho exequível ao enfrentamento das dificuldades sociais e econômicas.
Nem de longe se pretende estigmatizar a candidatura do doutor como clonagem dos tormentosos anos do governo federal de sua sigla partidária que comandou o País por oito anos até 2002. Como se sabe, não faltam oportunismo, personalismo ou marketing quando se decidem as cores que determinados concorrentes ostentarão numa disputa eleitoral. Seja na Fazenda Ramalho, seja na Fazenda Bernardo. Mais ainda na Fazenda Caetano, onde o gerente atual em fim de mandato, faz gatos e sapatos do compromisso partidário.
O doutor tucano, portanto, não pode ser acusado deliberadamente de pertencer à mesma plumagem genealógica do ex-presidente tucano que fez a Fazenda ABC perder quase 40% da riqueza industrial. Até porque, como se sabe, eles frequentaram ambientes diversos nos tempos da chamada ditadura militar.
O professor universitário que virou exilado político e mais tarde presidente da República sempre militou na esquerda. É verdade que apagou na prática tudo que escreveu como teórico. O doutor navegou nas águas plácidas da Arena, o partido sempre em marcha sincronizada com o regime militar que o concebeu.
Talvez esteja aí a melhor explicação para a diarréia jurídica dos leões-de-chácara. Como se explicaria então a correnteza de ações judiciais sempre contra o mesmo jornal? Ah, sim, se explica porque além do viés autocrático de cerceamento ao direito de informação, o doutor dos eleitores amarelos da Fazenda Ramalho quer criar um fato político que o catapulte à condição de vítima. Pretenderia o doutor que o jornal, em represália à voracidade judicial, repetisse o radicalismo de seus leões-de-chácara e abrisse manchetes seguidas de combate à sua candidatura.
Bobagem. O jornal respeita e é respeitado pelos eleitores amarelos e vermelhos. Uma pesquisa encomendada na semana passada constatou essa verdade que só alguns burros desgarrados pretendem solapar. E exatamente em deferência aos eleitores amarelos e vermelhos o jornal não será protagonista das eleições na Fazenda Ramalho. A responsabilidade de somar ou perder votos é dos candidatos, o doutor e o operário.
É muito provável que outros jornais agissem diferentemente à tentativa análoga de intromissão em sua linha editorial. Aliás, por muito menos, bem menos, jornais paulistanos tradicionais que se arrogam a fina flor da democracia, fizeram campanhas biliares contra políticos que lhes opuseram algum tipo de fanfarronice.
O jornal da Fazenda Ramalho está ganhando todos os recursos interpostos pelos leões-de-chácara do doutor amarelo no âmbito de integridade editorial porque não troca os pés pelas mãos. Nem aceita provocações. A Justiça Eleitoral sabe distinguir liberdade de expressão de táticas de opressão.
Na única vez em que a Justiça Eleitoral foi mais condescendente com os leões-de-chácara jurídicos do doutor amarelo, o jornal formou uma barricada e resistiu bravamente ao sangramento da Lei de Imprensa. Não havia outra saída. Era vencer ou vencer. Em nome da credibilidade que os eleitores amarelos e vermelhos lhe conferem ao abrir as páginas quase cinquentenárias.
A disputa eleitoral na Fazenda Ramalho não vai se deslocar do foco dos vermelhos e dos amarelos. Se falta serenidade, respeito e sensibilidade a determinado grupo para compreender que os eleitores querem informação, o que resta agora é esperar.
Quem sabe a febre intervencionista dos leões-de-chácara encontre um outro doutor mais sábio entre os amarelos a sugerir a medicação salvadora de respeito ao direito à informação. A Fazenda Ramalho de vermelhos e amarelos agradeceria.