O prefeito Luiz Tortorello quer fazer das empresas grandes parceiras da Prefeitura de São Caetano. Ele não esconde que novos empreendimentos no Município, sobretudo nos setores de informática e de tecnologia de ponta, beneficiados pela legislação local, representam tributos importantes para a sustentação da qualidade de vida desse território de apenas 15 quilômetros quadrados de Primeiro Mundo num vasto Grande ABC de sérios problemas sócio-econômicos.
Tortorello também afirma que vai buscar, em organismos internacionais, recursos a fundo perdido. Só não esperará por esses recursos para entregar, até o final de seu mandato, mil unidades da versão local do Projeto Cingapura do ex-prefeito paulistano Paulo Maluf. É o Projeto Domus Mea, expressão em latim que significa Minha Casa.
A entrevista, gravada no início de março, revelou um Luiz Tortorello contraditório em muitos pontos, além de excessivamente preocupado em atacar o Diário do Grande ABC e o ex-prefeito Antonio Dall’Anese. Muitas de suas respostas tornaram-se a confirmação do que tentara negar.
Caso da guerra fiscal, da intervenção no processo sucessório na Associação Comercial e Industrial de São Caetano, das intenções de candidatar-se à reeleição, do ritmo vacilante do Consórcio Intermunicipal.
Esse ex-juiz de Direito aposentado dá a impressão de que as palavras são uma forma de expressão que podem conciliar tanto a solidez de afirmações quanto o molejo de subjetividades. É o caso da referência que faz ao Fórum da Cidadania do Grande ABC, assunto ao qual dá duplo tratamento. O primeiro, pessoal, recheado de respeito, e o segundo terceirizado, isto é, com base em informações de origem não-identificada, de avaliação restritiva e crítica.
O senhor desistiu da guerra fiscal regional, anunciada antes de assumir o cargo? A pretensa unificação tributária do Grande ABC, que na realidade não existe, até porque São Caetano tem política de incentivos na área de informática, seria a alternativa mais viável para convivência harmoniosa entre as sete Prefeituras, ou o quadro exige planejamento e aplicação de políticas tributárias complementares?
Luiz Tortorello – Em primeiro lugar, nunca decretei guerra fiscal a ninguém. São Caetano é diferente dos demais Municípios da região. A globalização da economia mudou o mundo. E o Brasil também mudou, inclusive por causa do Plano Real. Quem não se moderniza fica para trás. Não entendo na verdade essa pergunta porque não dei entrevista a LivreMercado e a qualquer outro jornal sobre esse assunto. Nunca me fizeram essa pergunta. É a primeira vez que estão me fazendo.
Nos baseamos no noticiário, prefeito.
Tortorello – Do Diário do Grande ABC, que não corresponde à realidade. O Diário do Grande ABC não acompanha a vida de São Caetano e nem a vida deste prefeito. Fiz uma palestra na Associação Comercial de São Caetano, logo depois que me elegi, e na ocasião dizia que havia na Região Metropolitana uma guerra muito violenta para atrair empresas. Carapicuíba, Barueri, Cotia, entre outros Municípios, colocavam taxas muito pequenas para despertar o interesse das empresas. Dizia naquela época que, se fosse necessário para manter nossa região no nível que nunca deveria ter perdido, iríamos a qualquer custo, até mesmo zerando alíquotas, se fosse o caso, demonstrar que tem de haver mais seriedade na conotação da ordem econômica.
Foi isso o que disse. Não propus guerra fiscal nenhuma. Segundo ponto: São Caetano difere dos demais Municípios da região porque está numa área geográfica pequena. Não oferece espaços para atrair empresas grandes. Só resta aqui um espaço, que é do Matarazzo, e também o da Cerâmica São Caetano, que ainda está acabando de ser desativado. Não temos mais nada a oferecer, a não ser o crescimento vertical. Dentro desse crescimento vertical só podemos atrair duas coisas: quem presta serviços de tecnologia de ponta e de informática, mais nada.
Em cima dessa realidade, de janeiro para cá já tivemos cinco empresas que estão se instalando, casos da diretoria do Banespa, do Banco Noroeste, do Bamerindus e de outras empresas. Temos que atrair as diretorias das empresas, privadas, públicas, de economia mista, porque é a única saída que temos.
Quanto à complementação da pergunta, relativa às sete Prefeituras, o que posso dizer é que em 1990 criamos, com quatro prefeitos que voltaram agora e três que saíram, o Consórcio Intermunicipal exatamente para tratar dos assuntos lindeiros, dos assuntos regionais. Não tem como ninguém tratar de forma individual assuntos sérios que envolvem a região. E um deles é a economia. Outro é o desemprego. Um deles é a evasão empresarial. Outros são as enchentes e onde colocar o lixo. Sempre pensei em termos coletivos.
Não tinha como um prefeito puxar para um lado e outro puxar no sentido contrário. Não é cabo de guerra aqui. Tanto assim, que o surgimento do Consórcio Intermunicipal se deu no meu gabinete na Prefeitura velha. Funcionou bem no primeiro período e agora já fizemos sete reuniões com os prefeitos. Hoje, inclusive, falhei numa delas. Entendo que o planejamento tem de ser globalizado em termos de região, sem deixar de levar em conta particularidades de cada cidade. O objetivo é único: o fortalecimento da região fortalece as Prefeituras, fortalece o sistema tributário, e aí vamos ter condições de significativo tratamento nos serviços públicos.
Como o senhor analisa essa multifacetada ação institucional do Grande ABC na Câmara Regional? Prefeitos, vereadores, secretários de Estado, comunidade agregada ao Fórum da Cidadania, empresários, sindicalistas, formam um caldo de cultura apimentado demais ou é a saída para o Grande ABC encontrar seu caminho?
Tortorello — A Câmara do ABC é importante, mas da maneira como foi estruturada agora. Isto é: parte do governo do Estado de São Paulo, através da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico. Tudo tem de ter um nascedouro. Tudo tem de ter um chefe. Onde não tem chefe não funciona. Onde não tem organização não funciona. Tem de ter um órgão executivo, presidido por alguém. Com isso, tudo fica mais fácil, porque a Câmara do ABC não é órgão decisivo, não é órgão executivo, é órgão de planejamento. O conjunto de organizações que vão participar do processo é positivo, desde que coordenado, porque vamos ter grupos de análises em vários temas. Inicialmente davam a Câmara como um órgão que tinha interesses com alguns grupos, mas não é isso. Tem um interesse sim, mas é regional.
Seus adversários argumentam que o senhor não teria muita simpatia pelo Fórum da Cidadania, assim como outros prefeitos da região. A alegação é de que o Fórum seria uma espécie de agente intrometido em questões tradicionalmente sob jurisdição dos Executivos e dos Legislativos. Isso é verdade?
Tortorello – Não penso e não vejo assim. O Fórum da Cidadania, pelo contexto como foi criado, é um órgão excepcionalmente muito bom. O que ouço dizer, e isso não é minha opinião, é que o Fórum na verdade não existe. O que existe é um braço de ferro do Diário do Grande ABC, que gestiona e ingere o Fórum. O Diário do Grande ABC quer ter força junto ao contexto da ordem política regional e estadual e se socorre do Fórum como alternativa para forçar uma série de coisas.
O senhor acredita nisso?
Tortorello – Não sei. Não sei, porque não acompanhei a origem, não acompanhei o início, porque não era prefeito. Eu acompanhava muito de longe, lendo, e depois é um órgão que nunca me deu cobertura. Pelo contrário, sempre foi meu inimigo. Então, nunca tive assim qualquer coisa que me atraísse a fazer uma análise mais profunda. Sinto, sim, que o Diário dá cobertura ao Fórum muito grande e não dá para outros organismos existentes na região, inclusive para as Prefeituras em iniciativas que são reputadas como muito importantes e que precisariam de fato de questionamento maior, que precisariam de prestígio da Imprensa. São Caetano não encontra isso no Diário do Grande ABC. Não sei o que dizer, não quero fazer afirmativa direta, mas é o que eu ouço. E se falam é porque algum fundamento tem. Eventualmente pode até ter.
Isso lhe geraria algum tipo de antipatia?
Tortorello – Antipatia não. Todos os organismos que eventualmente produzem alguma coisa em benefício da região devem ser bem-vindos. Conheço alguns organismos e entidades que participam do Fórum e seus membros comentam suas atuações com carinho muito grande, uma vontade muito grande, e dão contribuição muito grande. Mesmo que eventualmente fosse um órgão que teve como bojo de nascedouro o Diário do Grande ABC, a forma como existe hoje e a contribuição que dá à região são positivas.
Nossa publicação produziu matéria especial na edição de março, que mereceu capa, e fez a seguinte indagação: Grande ABC Tem Futuro? A interrogação foi enfatizada na arte da capa. O senhor ainda não leu o material. Certamente vai ler. Teria a coragem de trocar a interrogação pela exclamação neste momento, ou faz parte do time que acha que a troca é sinal de desinformação?
Tortorello – O Grande ABC sempre foi forte na economia. O mundo inteiro reconhece isso. Até a década dos 70 o Grande ABC teve a expressão maior da economia do Estado. Tudo isso se deveu ao trabalho profundo dos empresários. Mas a região peca pela falta de comunicação. As emissoras de televisão, todas poderosas, só destacam o ABC se houver greve violenta, se morreu alguém em acidente ou se caiu um raio. Caso contrário ninguém liga.
O ABC não tem comunicação. A imprensa escrita e a de imagem simplesmente ignoram a região. É uma região tão fraca que nunca deu um presidente da República, um governador, um vice-presidente, um ministro. Agora, pela primeira vez, está dando um secretário de Estado, de Esportes e Turismo. Nunca deu um senador da República. Os deputados estaduais e federais, se existissem ou não existissem seria a mesma coisa, porque como a iniciativa de leis, da forma como a Constituição oferece, ter ou não ter deputado é a mesma coisa. Eles não podem ter iniciativa de leis no campo econômico. Em consequência, lidam apenas com projetos inoperantes.
Com isso, o Grande ABC é fraco em representação. Infelizmente, vivemos num País onde a política é forte. A política é praticamente quem monta o esquema empresarial e decide os investimentos nos aspectos regionais. Veja o caso do Norte/Nordeste, tão forte na representatividade que hoje surge a Emenda 14, que busca valorizar a Educação e o Magistério daquelas regiões, com alto prejuízo para o Estado de São Paulo e Estados do Sul e altíssimo prejuízo para o ABC.
São Bernardo vai perder US$ 44 milhões/ano, que vai dar para o governo do Estado acertar a Educação que irresponsavelmente eles destruíram. Santo André vai dar US$18 milhões/ano. São Caetano vai perder do orçamento, que investia em suas crianças, US$ 12,8 milhões, quase 10% do orçamento anual. Vamos perder em favor do orçamento do governo do Estado de São Paulo.
Essa Emenda 14 não contempla as diferenças regionais. Vamos ter de reduzir investimentos no setor em pelo menos US$ 6 milhões a US$ 7 milhões, porque irresponsavelmente o Congresso Nacional aprovou, por determinação do presidente da República, a Emenda 14 sem olhar para as realidades regionais. Tudo isso porque somos fracos na política, porque não temos uma comunicação robusta. Hoje, esse ponto de interrogação da matéria prevalece. Hoje não o tiraria. Se a Imprensa der cobertura, se formarmos um elo muito forte, nós vamos mudar.
O Consórcio Intermunicipal demorou para engrenar. O Senhor acredita que desta vez vai em frente mesmo? E a participação dos vereadores, que reivindicam igualdade na gestão da entidade?
Tortorello – Primeiro, que não demorou para engrenar. Criamos em 90 e funcionou. É lógico que não a todo vapor. Os quatro anos seguintes não sei responder, mas pelo que vi nos relatórios houve desinteresse de alguns prefeitos e então houve queda. Nós tentamos regurgitar de todas as formas agora e vai crescer conosco sim, porque fomos nós que o criamos. Quatro prefeitos que aí estão criaram o Consórcio. Então, temos a responsabilidade de fazer com que cresça.
Entendo que os vereadores poderiam, através de acordo de corporação, se reunirem eles, os Legislativos, estudarem temas, levantarem temáticas, discutirem profundamente e passarem isso para o Consórcio gerenciar, através dos sete prefeitos. Veja: sete presididos por um é interessante. Catorze presididos por um começa a complicar. Nós, Executivos, temos força executiva. O Legislativo não tem. Temos uma grande assessoria. Temos nossos secretariados para atuar. Já é um corpo pensante executivo. Se começar a esticar isso aí com Poder Legislativo, depois entram sindicatos, associações comerciais, Ciesps, Fiesp, aí vai virar um congresso de leis e assim não funciona.
O senhor anda batendo forte no ex-prefeito Dall’Anese, que terminou o mandato como campeão de popularidade no Grande ABC, juntamente com José de Filippi Júnior, ex-prefeito de Diadema. Essa é a tática ideal para quem pode, como o senhor, candidatar-se à reeleição?
Tortorello – Primeiro, não sou candidato à reeleição. A reeleição não existe. O povo é quem cria a reeleição. Sempre fui contrário à reeleição. Sempre fui parlamentarista, porque nesse sistema de governo, quando a pessoa é boa, ela não sai nunca. Quando é ruim, sai num mês. Agora está criada a reeleição. Eu sou candidato à reeleição? Não sei. O povo vai decidir. Se chegar a 96% de popularidade no último ano, como cheguei da vez passada, é lógico que automaticamente vou ser reeleito. Se não chegar numa situação boa, é lógico que vai outro candidato do nosso grupo. Meu grupo aqui é imbatível.
Agora, sobre o Dall’Anese, diria que não chegou a essa popularidade grande. Ele foi, sim, prestigiado ao longo dos quatro anos pelo Diário do Grande ABC e pela Imprensa municipal, formada por sete ou oito jornais pequenos, e nunca ninguém se arriscou a tecer qualquer crítica a ele. É lógico que, quando não se tece crítica, fica-se numa situação satisfatória e a popularidade atinge níveis bons. Ele chegou, ao que parece, a 70%. Eu tive 96%, com o Diário descendo o pau em mim dia e noite. Não pararam um dia de falar mal de mim.
Não tenho nada contra o Dall’Anese. Pelo contrário, quando ele saiu a candidato a prefeito, fui contrário. O (Walter) Braido (ex-prefeito) lançou a candidatura dele e eu, como integrante do grupo, apoiei. Sabia que ele seria um irresponsável na administração, tinha certeza disso. Tanto que ele traiu o grupo, traiu o Braido e foi aninhar-se em outro partido, de oposição. Levou uma surra agora nessa sucessão.
Só não imaginava que a irresponsabilidade dele fosse tão grande. Só tomei conhecimento disso dia 2 de janeiro, quando assumi. Achei que a dívida dele estaria na altura de R$ 15 milhões, mas me deparei com uma dívida só dele de mais de R$ 75 milhões, de um total de US$ 108 milhões. Uma dívida que ele gerou em sete, oito meses. De junho a dezembro.
Isso significa que eleitoralmente ele investiu violentamente, gerando uma dívida para o Município, para tentar derrubar o grupo do Tortorello, mas não conseguiu. Nos últimos três meses, tentou destruir a cidade para torná-la inadministrável. A conta está aí para eu pagar. Se ele conseguir provar que não deixou o buraco, vou ficar contente. Só não sei como vai conseguir provar, porque está aí todo mundo querendo receber. Acho, por isso, que ele foi um fanfarrão, um irresponsável.
Vamos ver se agora ele consegue, como candidato a deputado federal, e o colega dele, o Demambro, como candidato a deputado estadual, reeditar os 26 mil votos que tiveram gastando uma violência de dinheiro. Se o povo responder presente para os dois no ano que vem, em 3 de outubro, eu me curvo, me rendo. Vou voltar à escola para aprender a fazer política.
O senhor entende que a melhor maneira de haver entrosamento entre o poder público e representações sociais é ter pontas-de-lança confiáveis, caso do anunciado apoio ao candidato de oposição à Associação Comercial e Industrial, ou isso não passa de pura coincidência?
Tortorello – Quem está fazendo onda é o Diário do Grande ABC. O Diário do Grande ABC é meu inimigo. Aqui nunca teve qualquer problema relacionado com a Associação Comercial. O Diário do Grande ABC é que lançou o candidato da situação e está lançando um candidato de oposição. Isso é balela, pura brincadeira do Diário do Grande ABC.
Na semana passada, esteve aqui o Laranjeira, pai do filho candidato. Ele veio me dizer que estava havendo uma série de coisas, que não sabia de onde vinha, e disse que estava colocando a candidatura do filho em minhas mãos. Pediu que outros também colocassem e que eu escolhesse a chapa, o candidato. Ocorre que tenho um projeto e para que a Prefeitura o desenvolva só posso fazê-lo com a Associação Comercial, Ciesp, Fiesp e outros órgãos congêneres. Se não houver essa união de pensamento e de princípios, não adianta estabelecer projeto e plano nenhum para melhorar o comércio de São Caetano, para atrair os consumidores.
Prefeito que não gerar tributos e receitas não leva a cidade a lugar algum e eu tenho que levar São Caetano para a virada do século. Temos de fazer parceria. Como o Diário quis, agora eu assumo que o Ivan Cavassani seja o meu candidato. Agora ele é o candidato do grupo Tortorello. E como não sou perdedor, vou vencer as eleições mais uma vez. Vou dar uma surra neles. Agora, se surgir uma chapa de consenso, é lógico que vou tratar disso. Se falarem que é para lançar chapa única, eu vou lançar; se é para indicar o presidente, vou indicar.
Mas é essa participação do Poder Público numa entidade de foro privado que chega a chocar. Como o senhor analisa isso?
Tortorello – Hoje a realidade é tão grave e tão importante que, se não trabalhar com parceria, não se é moderno. E se não se é moderno, fica-se para trás. A Associação Comercial e Industrial é como se fosse um sindicato das empresas. E o sindicato luta pela preservação dos direitos dos trabalhadores. A Associação tem de lutar para que as empresas cresçam e não soçobrem. Nessas alturas dos acontecimentos o que a Prefeitura quer? Quer que a empresa seja forte. Porque empresa forte gera tributos. Gerando tributos o Poder Público faz os serviços essenciais.
Hoje não temos como administrar e governar só. Tem que se governar e administrar em parceria. Isso é uma coisa. Agora, eleição da Associação Comercial é outra coisa completamente diferente. Eu, por exemplo, sou eleitor. Meu filho é eleitor. Nós vamos ter que votar em alguém. E eu me prender a uma chapa e ajudar essa chapa a ganhar a eleição é lógico que agora, porque o Diário quer, eu vou fazer e vou ganhar a eleição. O Poder Público não se imiscui e nem pode se imiscuir numa empresa privada. Eleição é uma coisa, administração é outra coisa completamente diferente.
Então esse processo vai até as eleições, apenas?
Tortorello – Processo não. Eu tenho meu candidato e vou ganhar a eleição. Vou imprimir uma surra no adversário. Já que é candidato do Diário. Estou falando como Luiz Olinto Tortorello. Tenho direito a voto.
São Caetano é um Município diferente no Grande ABC. Tão diferente que tem refluído em termos populacionais. É difícil para o prefeito de São Caetano, que vive sob essa ótica de Primeiro Mundo, envolver-se com o conjunto de necessidades do Grande ABC, cujas disparidades socioeconômicas são cada vez maiores?
Tortorello – Temos características particulares e diferenciadas do restante da região. É o menor Município do Brasil em território e o maior em densidade demográfica. Somos pequeninos e espremidos na Região Metropolitana. Com isso, as grandes empresas foram embora, levaram muita mão-de-obra especializada e deixaram também muitos desempregados. Temos que conviver com problemas sociais que são fáceis de ser atacados.
Tanto assim que estamos atacando o Projeto Domus Mea, que é um projeto habitacional, o qual não pode ser confundido com o Dadapura, que é brincadeira, é fanfarronice, é gozação. Desafio qualquer um a encontrar alguma coisa, um papel escrito sobre isso. O Diário é que publicou o Dadapura, formaram uma fila de 12 mil pessoas e mexeram com a sensibilidade só para pegar o nome e endereço das pessoas para mandar carta eleitoral e eleger vereadores, que também perderam as eleições. O nosso projeto é sério.
A expressão Minha Casa, em latim Domus Mea, vai contemplar mil unidades até o final do meu mandato e vai retirar os cortiços e habitações coletivas. É uma versão semelhante ao Cingapura, só que, como não temos favelas, atingiremos os cortiços e habitações coletivas. Cada um vai ter sua casinha pagando 40% de um salário mínimo. Resolvi sofisticar o nome do projeto porque o pessoal gosta mais. Fui professor de latim muitos anos.
O senhor é favorável, dentro das reformas que se anunciam, à aprovação do voto distrital misto? O que mudaria no Grande ABC com o voto distrital misto para a Assembléia Legislativa e a Câmara Federal?
Tortorello – Sou contra o voto distrital por um único motivo: no voto comum e livre, e sou favorável inclusive ao voto facultativo, se o cara é bom todo mundo vai votar para ele vencer; se é ruim, não desperta interesse. O voto distrital favorece o poder econômico. Se o cidadão é forte economicamente, constrói um monumento de votos em cima do dinheiro e tira a possibilidade do pessoal mais fraco que tem prestígio e folha de serviços prestados. Vamos acabar com uma representação muito mais elitizada no campo econômico. Mas acredito que vai passar no Congresso.
Quais são suas três principais prioridades como prefeito de São Caetano? Com essas prioridades aplicadas, o senhor terminaria o mandato superando seu antecessor em termos populares ou acha que a realidade de hoje é diferente, que o nível de exigência é maior?
Tortorello – Qualquer criança terminaria ganhando de meu antecessor depois de quatro anos. Ele foi uma pilhéria, um brincalhão. Basta ter noção de orçamento, de débito e crédito, para ter handicap de pesquisa maior do que ele. O primeiro ponto ao qual mais vou me dedicar está nas parcerias empresariais para que São Caetano tenha sucesso no campo tributário. Quero mobilizar o empresariado, porque sem eles os resultados serão funestos.
Os outros dois pontos, sem dúvida, serão a Educação e a Saúde. Na Educação, com essa Emenda 14, vamos ter dificuldades. Diminuiremos recursos em vários segmentos. Se chegar a contento nesses três aspectos, se conseguir um grande investimento que firme as parcerias empresariais que representem os tributos necessários para aplicações sobretudo em Educação e Saúde, tenho certeza de que a cidade vai ficar muito contente, vai gostar da equipe e nos dará até a possibilidade de uma reeleição.
Já falou em reeleição, prefeito!
Tortorello – Sim, falei se for o caso. Mas já falei no começo que reeleição é natural e normal quando o cara é bom. Seria o caso, por exemplo, do Maluf, que, se tivesse reeleição, seria automaticamente reconduzido à Prefeitura. Meu grupo se deu assim. Tanto que em 3 de outubro não se deu uma eleição, mas uma consagração do grupo que o pessoal gostou. Se disserem que fizemos força para ganhar a eleição, não fizemos.
Qual a grande diferença que estabelecerá entre a administração anterior e a atual?
Tortorello – A grande diferença é que da outra vez administrei quatro anos e agora serão apenas três, porque durante um ano vou ter de ficar pagando dívidas, não vou ter como administrar. A outra diferença é que tinha anteriormente um orçamento que girava em torno de US$ 1,6 milhão a US$ 2 milhões/mês; agora vou ter orçamento que vai oscilar entre US$ 10 a US$ 14 milhões/mês. Esse acréscimo se deve ao que meu grupo conseguiu, ao trazer o Carrefour, Wal-Mart, o terminal aduaneiro, entre outros. E o Plano Real veio mostrar que dinheiro é dinheiro.
Agora, enfim, vamos ter receita um pouco melhor. Já consegui cortar o déficit do orçamento deixado pelo Dall’Anese, na base de US$ 2 milhões/mês, e vou tentar reduzir mais. Vou tentar administrar como no meu primeiro período. Ou seja: se tem gasta, se não tem se espera. Não dou passo maior do que posso. As diferenças maiores vão estar no campo habitacional e na mobilização empresarial, cujas mudanças se devem à globalização.
Prefeito, o senhor está chorando, entre aspas, porque tem uma dívida de um orçamento anual. E o prefeito Oswaldo Dias, de Mauá, que tem de três? O que o senhor faria no lugar dele?
Tortorello – Estou com dó dele. Não sei a quantas andam as perspectivas de negociação das dívidas de Mauá. Eu já negociei com todo mundo a curto, médio e longo prazo. Vou fazer muita coisa à base de parceria, a custo zero. Fiz o carnaval a custo zero. Serão assim também os Jogos Regionais. Vamos construir uma piscina que não temos, uma pista de atletismo que não temos. Já me ensinaram, também, uma maneira de encontrar recursos a fundo perdido em nível mundial. Vou correr atrás. É uma série de órgãos. Nunca recorri a isso, mas estamos indo atrás mesmo.
Segundo uma pesquisa divulgada, nada menos que 86% da população bota fé na nossa administração e não posso deixar o nível cair. O povo não quer saber do desastre econômico que o Dall’Anese acarretou para São Caetano. O povo espera, 30, 60 e 90 dias. Escreveu não leu, o pau comeu.
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10/05/2024 Todas as respostas de Carlos Ferreira