Política

Caso Tortorello

DANIEL LIMA - 10/11/2004

Gostem ou não Luiz Tortorello e seus familiares, a enfermidade que abate o prefeito de São Caetano é pauta jornalística sim. E faz tempo. Tanto tempo, mas tanto tempo, mais precisamente desde setembro, e somente não constou das páginas deste jornal antes da edição do último sábado porque houve cauteloso aparato de desbastamento de informações para permitir enunciados editoriais criteriosos, éticos e comunitariamente responsáveis.


O mesmo prefeito que inaugura uma obra, que cede a imagem para uma campanha de propaganda de seus feitos administrativos, que esbraveja contra a invasão de seu território por moradores da vizinhança que vão lhe encarecer a rede de saúde, é o prefeito que, enfermo, ocupa as páginas do jornal. É impossível concatenar cobertura jornalística diferente ao prefeito Luiz Tortorello e ao enfermo Luiz Tortorello. Ambos se associam como figuras públicas. Aliás, o segundo, o privado, simplesmente inexiste para efeitos jornalísticos.


Fosse um anônimo como milhares de brasileiros que carregam o mesmo tipo de doença, estejam certos todos que Luiz Tortorello não constaria da pauta de veículo de comunicação algum.
É obrigação do jornalismo comprometido com a sociedade retratar a realidade. E a realidade, confirmada pelo próprio filho, o deputado Marquinho Tortorello, é que o prefeito de São Caetano está adoentado e em tratamento.


Respeitamos profundamente os momentos de tensão da família, dos assessores, dos amigos. Doença em família sempre é motivo de preocupação. E reconhecemos, também, que ao sair do espaço privado para a esfera pública, o incômodo sobressalta. Daí, entretanto, ter a pretensão de circunscrever o problema ao desassossego familiar vai uma grande diferença.


Este Diário tem tomado todos os procedimentos para não ser invasivo, mas não conseguiu encontrar a fórmula mágica que desative o mecanismo de acompanhamento do prefeito Luiz Tortorello. Os leitores, eleitores e contribuintes de São Caetano, para não dizer da região como um todo, querem saber a marcha dessa apuração da verdade. Se foi afirmado pelo próprio filho que o prefeito está adoentado e se as informações quanto a gravidade são controversas, que outra fórmula para aferir os fatos senão acompanhar os passos do prefeito?


Sorte do prefeito e de seus familiares que este Diário pratica jornalismo comportado. Mas isso não garante que outros veículos não se dobrem ao sensacionalismo. Seria péssimo para o restabelecimento clínico de Tortorello. A divulgação exclusiva de informação que pulava de galho em galho semântico foi analisada com cuidado e critério. A condição física e emocional do prefeito, dos familiares e mesmo dos amigos mais próximos foi levada em conta. Aliás, pesou preponderantemente na divulgação, porque um verdadeiro arrastão de versões ameaçava engolfar a todos.


A pior maneira de lidar com a verdade é subestimar os boatos. A verdade, por mais dolorida que seja, não pode se subordinar a tergiversações. A verdade da doença do prefeito Luiz Tortorello está confirmada. Ou seja: não é mais boato. Agora, a meta é definir a extensão político-administrativa do problema. O cotidiano do prefeito é uma sabatina que ele terá de enfrentar. Quanto mais tempo passar no Bairro Olímpico, onde reside, mais inquietante se constatará o quadro clínico.


Não passa pela cabeça de ninguém que a especificidade do problema de saúde de Luiz Tortorello seja esmiuçada aos meios de comunicação. Exceto se o próprio prefeito assim se dispuser. E ninguém nem de longe pode sugerir tamanha arbitrariedade. Como também não se pode cobrar deste Diário, depois de toda a cautela que marcou sua incursão no caso, que, de repente, retire do noticiário esse componente mais que público da vida do prefeito de São Caetano. Trata-se de peça importantíssima do tabuleiro de transposição administrativa no Paço Municipal. Quando não, o próprio tabuleiro.


A emotividade vai caracterizar o desenrolar dos acontecimentos envolvendo o prefeito de São Caetano. Tanto que já se registraram alguns lances que este Diário prefere não transcrever em respeito ao próprio contexto em que se situou. Haveremos todos de compreender eventuais exageros. Provavelmente lamentaremos muito esses desvios porque a individualidade pública está sendo subestimada em nome da individualidade pessoal.


Esperamos, sinceramente, que a família Tortorello não precise recorrer ao arrependimento por fazer reparos a um trabalho jornalístico, repetimos, ético e socialmente responsável. Talvez lhe falte a amarga experiência de lidar com tablóides sensacionalistas do Primeiro Mundo, especialmente britânicos.


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