Política

Público-público

DANIEL LIMA - 17/11/2004

O maior equívoco de boa parte dos dirigentes públicos na ativa ou de pretendentes em assumir postos é que se imagina blindados. Para eles, o que fazem ou o que pretendem fazer com o dinheiro do contribuinte diz respeito somente a eles mesmos, quando muito a alguns pares de cabeças mais próximas, de lealdade acrítica.


Atividade pública implícita responsabilidade pública. Em todos os aspectos. Inclusive, como mostramos ainda outro dia nos transtornos físicos do prefeito Luiz Tortorello, cujos desdobramentos passam a ser de interesse da comunidade. Ingressar ou ter a pretensão de ingressar na vida pública imaginando grau de discrição quando não de anonimato da atividade privada é desconhecer regras básicas da democracia representativa.


Há personagens públicos intolerantes à crítica mais calibrada, mais pertinente, mais ajustada. Qualquer senão que se interponha a políticos mal-acostumados com lantejoulas ganha ares de ofensa. E fazem de tudo para tentar gerar suposta massa de inconformados. Seus áulicos saem à cata de supostas forças de influência e procuram fazer marola mais que manjadíssima para transformar corporativismo social em manifestação generalizada.


Quem imaginar que o Grande ABC está imune a esse séquito em defesa de um ou outro político despreza a disseminação do modus operandi da classe. Os movimentos são sempre detonados ao menor sinal de que eventualmente alguém esteja em descompasso com a ordem estabelecida.


Atribuem-se a determinados políticos o supra-sumo da competência, da responsabilidade social, da inserção comunitária. É claro que se trata de fachada de papelão em tempo de chuva. Os próprios supostos defensores desses usurpadores do futuro ainda não perderam o juízo e sabem que, numa análise fria, descontaminada de laços familiares, de interesses econômicos, de engajamento ideológico, há políticos que não valem quase nada na moeda do mercado público.


Acreditar que o Grande ABC como o próprio País vai viver indefinidamente sob o jugo do compadrio é mais que acintosa arrogância. É a própria negação do sentido de viver.


Ora, para que serve a vida se não reunir a perspectiva de transformações da ordem estabelecida por padrões muitas vezes excludentes de classes sociais? Valerá a pena se acovardar ao coronelismo perpetuador de injustiças sociais?


Será que a condição de País mais irresponsável na distribuição de renda não mexe com os brios daqueles mais bem aquinhoados, dos excluídos do topo social a quem supostamente sobra dinheiro mas falta humanitarismo?


Pois é exatamente isso que incomoda os maus políticos, aqueles que cuidam dos próprios interesses.


Há também em proporção semelhante maus empresários, igualmente individualistas. A diferença entre um e outro é que os primeiros vivem como sanguessugas dos segundos. Os maus políticos usufruem de receitas tributárias geradas pelas classes produtivas, de empresários e trabalhadores.


Distinguir maus políticos de políticos qualificados é a melhor maneira de separar alhos de bugalhos. E de fugir à generalização burra de que a classe política como um todo é desprezível.
Os homens públicos com mandato, que já tiveram mandato ou que pretendem ter mandato são reflexos da comunidade mais próxima.


O Brasil consagra enorme besteira ao confundir competência em produzir urnas eletrônicas com discernimento eleitoral.
Exatamente para impedir que charlatões públicos sejam santificados, espera-se atuação independente mas não necessariamente neutra dos veículos de comunicação.


Não faltam artifícios entre políticos que se pretendem fazer de vítimas. Os incautos ou despreparados são os primeiros a cair no conto do vigário.


A classe política do Grande ABC está em dívida com a sociedade regional há muitas décadas. Particularmente na região, vivemos estágios distintos de modelos diferentes de atuação pública, mas foram poucos aqueles com sensibilidade social e atrevimento desenvolvimentista que ousaram ultrapassar a linha do convencionalismo.


Fomos levados pelos bons ventos de uma industrialização à revelia da escassa institucionalidade regional. E quando precisamos de institucionalidade regional para o reerguimento econômico, fomos igualmente incompetentes. Mas essa toada tende a mudar. Basta que os falsários políticos, sociais, econômicos e culturais sejam desmascarados e que a maioria de potenciais desbravadores de novas ordens tenha oportunidade de somar força.


E é isso que, acreditem, todos os homens de boa vontade ainda assistirão nesta região. Não sem desgastes, não sem lutas, não sem desconfortos. Os improdutivos que formam casta manjadíssima são ávidos em sacrificar quem ouse contrariar seus interesses. Ou então se fazem de vítima, para dar o golpe de misericórdia. Esse filme é antigo.


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