Política

Proximidade inexorável

DANIEL LIMA - 16/12/2004

São fortes os rumores palacianos de que o prefeito William Dib será interlocutor privilegiado do Grande ABC no governo do Estado. Há certo consenso no Palácio dos Bandeirantes de que o provável enfrentamento com o Partido dos Trabalhadores em 2006 na disputa presidencial, passa obrigatoriamente por 1,7 milhão de votos disponíveis no Grande ABC. Menos pela quantidade e mais pela qualidade ideológica dos sufrágios.


Ter supremacia eleitoral no Grande ABC em 2006 integra rol de decisões estratégicas da candidatura Geraldo Alckmin. A força mobilizadora e sedutora do governador do Estado na provável refrega com Lula da Silva encontra nos municípios da região simbologia especial. Derrotar o presidente da República em seu próprio quintal é desafio e tanto. Quem conhece Alckmin, garante que é objetivo visto como meta, não simples sugestão. Nas últimas eleições municipais, mesmo perdendo o controle de duas prefeituras (Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra) e da derrota acachapante em sua própria cozinha (São Bernardo), o PT somou mais eleitores que os tucanos na região. Alckmin quer dar o troco na corrida presidencial.


Por essas e por outras William Dib é o preferido para coordenar as relações institucionais do Grande ABC com o Palácio dos Bandeirantes. A massacrante derrota imposta a Vicentinho Paulo da Silva, um dos amigos diletos de Lula da Silva, abriu definitivamente as portas do Palácio dos Bandeirantes para William Dib. Por analogia, na mesma proporção em que Aécio Neves fechou as porteiras à chapa presidencial depois de deixar o PSDB fora das eleições municipais vencidas pelo PT em Belo Horizonte.


Não bastassem as variadas razões para Alckmin e Dib se aproximarem, entre as quais a disputa presidencial prevista pelo primeiro e a possibilidade de salto extraordinário na carreira política, projetada pelo segundo, pesa na definição do nome do representante oficial do Grande ABC no Palácio dos Bandeirantes a impossibilidade de esse canal ser irrigado por adversários.


Tanto João Avamileno quanto José de Filippi Júnior, petistas reeleitos em Santo André e Diadema, estão mais chegados à Brasília do que ao governo estadual. E em São Caetano, com a retirada de cena de Luiz Tortorello, o prefeito eleito José Auricchio Júnior estará provavelmente mais às voltas com curativos da institucionalidade ferida pela enfermidade daquele que o embalou rumo à vitória.


A operação que culminou com a popularização local e regional de William Dib revelou que o prefeito de São Bernardo é resultado não só das virtudes pessoais e administrativas como também de amplo concerto revolucionário de fazer política na região. Ou não é verdade que até o surgimento de William Dib com fortíssimo esquema de ocupação de rede estadual de televisão, os políticos do Grande ABC simplesmente se mantinham fora do alcance do radar de extroversão midiática?


Nem Celso Daniel do alto do brilhantismo intelectual obteve a visibilidade de William Dib. Exceto, evidentemente, ao ser colhido pelo destino naquela noite de sexta-feira. Em mais de uma década de liderança brilhante em questões regionais, no que foi pouquíssimo acompanhado por prefeitos contemporâneos, Celso Daniel conseguiu a fórceps algum destaque extraterritório do Grande ABC. O partido jamais lhe deu a visibilidade que merecia.
William Dib contou com assessoria de marketing que fez florescer além-região um homem público até então discretamente escondido como secretário municipal em mandatos sucessivos e entrecortados.


Agora, surge a possibilidade de alcançar o status de sucessor de Celso Daniel como representante mais expressivo da política regional. É verdade que se trata de viés diferente, mais político do que administrativo quando comparado a Celso Daniel. Mas nem assim se pode amenizar suas competências no campo gerencial, em confronto com o ex-prefeito de Santo André. Trata-se de individualidades opostas na embalagem e mesmo em determinados quesitos de conteúdo intelectual e aplicativo. O que eventualmente pode parecer menos importante se torna mais expressivo. Depende, acreditem, das finalidades a que se propõem as comparações.


Assim como Lula da Silva soube escolher Celso Daniel pelo brilhantismo para coordenar o programa de governo na campanha que o transformou em presidente da República, o governador Geraldo Alckmin provavelmente não desperdiçará a oportunidade de chamar para mais próximo de si o talento político de William Dib. Primeiro, como liderança no Grande ABC. Depois, quem sabe, para vôos extraterritório.


Leia mais matérias desta seção: Política

Total de 863 matérias | Página 1

17/09/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (9)
16/09/2024 Três versões de um debate esclarecedor
14/09/2024 GILVAN SOFRE COM DUREZA DO DEBATE
13/09/2024 Voto Vulnerável é maior risco de Gilvan Júnior
12/09/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (8)
10/09/2024 Gênios da Lamparina querem subprefeituras
10/09/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (7)
06/09/2024 Largada eleitoral para valer vai começar agora
06/09/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (6)
04/09/2024 É a Economia, Marcelo, Luiz Fernando e Alex!
04/09/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (5)
02/09/2024 QUAL É O PREÇO DE FORA BOLSONARO?
02/09/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (4)
30/08/2024 Marcelo Lima responde ao UOL como prefeito
30/08/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (3)
28/08/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (2)
27/08/2024 Luiz preocupado com Luiz indicado por Luiz
26/08/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (1)
20/08/2024 Seis armas de Zacarias que tiram sono do Paço