Política

Irmãos siameses

DANIEL LIMA - 23/01/2005

Derrotados pelo PT em Santo André, num dos resultados mais extravagantes da temporada passada, o ex-triprefeito Newton Brandão e o ex-deputado Duílio Pisaneschi provavelmente não reencontrarão oportunidade e circunstâncias tão favoráveis para ocupar o Paço Municipal. Entretanto, e essa ponderação é importante, os resultados eleitorais em Santo André os colocaram muito próximos de eventual sucesso na disputa pelos legislativos estadual e federal.


Não existe incoerência alguma entre o enunciado ao pleito majoritário à Prefeitura de Santo André dentro de quatro anos, que os coloca preliminarmente fora de maiores probabilidades de sucesso, e o que se antevê eleitoralmente para o ano que vem.


A explicação é tão simples como saber quem é a grande atração da temporada do futebol brasileiro, depois dos quase US$ 22 milhões entregues ao Boca Juniors da Argentina: tanto Brandão quanto Duílio obtiveram visibilidade e carga de votos oposicionista que somente uma disputa a cargo majoritário é capaz de proporcionar e, mais que isso, parametrizar eleições futuras.


Com isso, goste-se ou não do jeito de fazerem política partidária, concorde-se ou não com o terrorismo metodológico de caladas da noite, aprove-se ou não a truculência de recorrerem à Justiça Eleitoral para obstar a Lei de Imprensa, abomine-se ou não a fanfarronice de retirarem pesquisas eleitorais das páginas de jornais, tanto Brandão quanto Duílio saem na frente entre os chamados candidatos de espectro conservador.


Daí, entretanto, a darem como favas contadas eventual vitória aos parlamentos vai grande diferença. O remelexo de composições partidárias que definirá os concorrentes de diferentes agremiações é equação complexa que, na medida em que se movimenta uma peça, complica ou inviabiliza o avanço de outra.


Um exemplo: os votos que o então vereador Fernando Gomes obteve na disputa a deputado federal em 2002 em Santo André, concorrendo na mesma faixa socioeconômica de Duílio Pisaneschi, foram suficientes para que Santo André perdesse um representante de centro-direita na Câmara Federal. Com os votos de Fernando Gomes, Duílio não teria ficado na suplência que parece definitiva.


Quando se transporta para o cenário de 2006 o lançamento de variadas candidaturas que emergiram ao longo dos últimos anos, nota-se que tanto Brandão quanto Pisaneschi precisarão de atenção redobrada porque podem ter bases eleitorais dilapidadas na medida em que adversários da mesma corrente ideológica se apresentarem como opções.


Um exemplo prático: o advogado Raimundo Salles é candidatíssimo a deputado federal no ano que vem e não há como diferenciar a raia pela qual trafegará da raia que é preferencialmente de Duílio Pisaneschi em Santo André há pelo menos três legislaturas.
Não existe dúvida que o caroço do angu de Duílio Pisaneschi em Santo André, e nos demais municípios da região onde tem penetração popular, tem nome, sobrenome e garra descomunal: Raimundo Salles, é lógico.


Que Newton Brandão não se sinta imune à concorrência porque também são muitos os competidores que enxergam o mundo com olhos semelhantes aos seus. É verdade que nenhum deles em Santo André ao menos se aproximou da massificação de votos alcançada pelo ex-triprefeito em outubro. E muito menos que eventualmente despertem no eleitorado o que se tem tornado roteiro de renascimento, sentimento de solidariedade e de resgate depois de um fracasso.


José Serra ganhou de Marta Suplicy em São Paulo entre outras razões porque alcançou notoriedade na disputa de dois anos antes em que foi derrotado por Lula da Silva. Conduzi-lo à recuperação foi, entre tantos motivos, gesto de reconsideração de parte dos eleitores que optaram pelo candidato do PT à disputa presidencial e a confirmação de confiança entre os que o escolheram inutilmente em 2000.


Está certo que Duílio Pisaneschi pega carona nesse potencial de desagravo eleitoral. Como se sabe, poucas vezes na história de disputas majoritárias se viu um marketing de acasalamento de imagem tão pronunciado como o dos dois candidatos da Frente Andreense. Os materiais de campanha alçaram a dupla à provável administração conjunta de Santo André. Brandão e Duílio foram espécies de irmãos siameses da Frente Andreense. Diferentemente, portanto, dos demais candidatos às prefeituras da região, cujos companheiros de chapa simplesmente sumiram aos olhares mais atentos.


Brandão-Duílio foi uma das poucas estratégias eleitorais da Frente Andreense que pode ser avaliada como acertada, já que, como se sabe, a dupla acabou soterrada por descuidos, excessos, conflitos, empáfia e tudo o mais que justificam e explicam o fato de terem perdido o Paço Municipal mais suscetível à conquista da oposição, após dois anos de bombardeio incessante e escabroso por causa da morte de Celso Daniel.


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