Pelo andar da carruagem macroeconômica, quando deixar a presidência da República em 2010 Lula da Silva estará próximo da canonização eleitoral.
Ao contrário das últimas eleições, quando os pobres lhe deram vitória que a maioria da mídia e da classe média procurou inviabilizar, desta feita Lula da Silva sairá sob ovação também de estratos de bolsos razoavelmente recheados da população.
Não entram nesse universo socioeconômico, evidentemente, nem aristocracias decadentes e muito menos oligarquias supostamente ilustres. Essas turmas são enraizada e ostensivamente oposicionistas ao operário que abusou do direito de mobilidade social num País apenas aparentemente generoso com classes mais populares.
Tão provável quanto a canonização de Lula da Silva, depois de superar série de calvários, entre os quais os escândalos que abateram auxiliares próximos e distantes, é a quase certeza de que os oito anos de governo serão muito menos profícuos do que deveriam. Sim, Lula da Silva deixará a presidência da República longe de dar concretude a medidas que, como metalúrgico, cansou de cobrar. Já percebeu que na prática governamental a teoria sindical é outra.
Tão provável quanto a canonização de Lula da Silva e tão certa quanto a dificuldade que ele seguirá enfrentando para mudar o Brasil na amplitude que tanto sonhou é a garantia já consumada de que, mais e mais, seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso, de péssima memória para quem mora no Grande ABC, será ainda mais soterrado nas pesquisas, embora, estranhamente, parte da mídia, sempre a mesma parte da mídia, lhe confira importância que o passado condena. Neste País onde o verniz cultural ganha a forma de estelionato social, compreende-se por que Fernando Henrique Cardoso goza de tanta paparicagem.
Afinal, por que então Lula será canonizado tanto pelo povo como pela classe média-baixa ao final do segundo mandato, nessa projeção que muitos hão de julgar estranha, quando não afoita?
Simplesmente porque ele ganhou as eleições passadas com o Bolsa Família, do qual não arreda pé, e terminará o mandato sob a bênção de uma classe de assalariados-consumidores que, distantes dos nichos mais protegidos pelo mercado financeiro, onde 20 mil famílias brasileiras giram a poupança, travestiram-se de compradores de veículos, de residências e de outras delícias de produtos financiados a perder de vista.
Esses consumidores não arriscariam o pescoço numa sucessão eleitoral a ponto de colocar em perigo o legado de Lula da Silva, no qual se associam juros em queda, moeda valorizada, mercado de trabalho em alta e inflação contida.
Ficará para o próximo governo federal o provável preço de mudanças de rota nas expectativas de eleitores/consumidores populares que alcançaram antigos sonhos de refeições diárias e de eleitores/consumidores de classe média que amealham riquezas materiais. Provavelmente essa mudança de comportamento se dará com novos patamares de exigências que tornariam o Bolsa Família e a estabilidade macroeconômica pouco diante de novas demandas, típicas de ambições humanas.