Está acirrada a disputa pela candidatura petista à Prefeitura de Santo André. A vice-prefeita Ivete Garcia e o eputado estadual Vanderlei Siraque não arredam pé do que chamam de direito de tentar conquistar votação majoritária dos filiados. A recomendação de Brasília em favor de Ivete Garcia, também secretária municipal, foi desafiada por Siraque. A saia-justa é evidente. O Paço Municipal sofre com isso. Até a família de João Avamileno parte e reparte o bolo de apostas. O prefeito prefere lavar as mãos. É possível que Brasília recrudesça.
Se mantido até outubro do ano que vem o ambiente eleitoral que domina Santo André hoje, provavelmente pela quarta vez seguida e quinta na história o Partido dos Trabalhadores ocupará o comando do Município. Três vezes com Celso Daniel e uma com João Avamileno, a reboque de Celso Daniel. Provavelmente o petista vencedor das prévias comemoraria o pentacampeonato.
Por mais que disputa eleitoral municipal tenha grau de descontaminação do quadro federal, no caso específico do PT, exatamente por ser o PT, principalmente por ser o PT, o desempenho do governo Lula da Silva acabará por se espalhar aos mais distintos locais. O Grande ABC, notadamente o Grande ABC, não seria diferente. Aliás, seria diferente sim: aqui o PT é mais PT que na maioria das localidades do País.
Se nas disputas municipais de 2004, com o PT local metralhado na calada da noite e em plena luz do sol pela oposição propagadora de supostas irregularidades na administração municipal, manipulando-se como se manipulou a causa da morte de Celso Daniel, se naquele ano, repito, o candidato João Avamileno conseguiu chegar na frente, o que esperar no ano que vem?
Com a economia nacional distante da velocidade de trem-bala mas também longe da vagarosidade de cágado, tudo indica que o PT regional vai viver quadro alvissareiro em relação às eleições de 2004.
Por isso, aumenta a percepção petista de que quem alcançar a titularidade da candidatura nas prévias do partido já se consideraria prefeito ou prefeita de Santo André, tantas são as nuances que elevam Lula da Silva à canonização eleitoral, com efeitos evidentes sobre quem o rodeia. Por isso as escaramuças nas preliminares petistas elevam o tom, esgarçam a paciência, surrupiam a ética, dão uma rasteira no companheirismo. Há uma espécie de licença para tropeçar, entre os petistas, porque haveria tempo para correções de rota.
Resta saber até que ponto as guerrilhas não prejudicarão o Município como um todo.
Entre outros sortilégios do PT em Santo André está a completa desarrumação da casa oposicionista. O candidato aparentemente mais viável para ameaçar o PT chama-se Raimundo Salles, contra o qual, vejam só, pesam o favoritismo petista como, também, o oposicionismo de outros candidatos igualmente ou mais conservadores.
Trocando em miúdos: enquanto a centro-direita de Santo André é um saco de gatos canibalizador, a centro-esquerda dá-se ao luxo de patrocinar embates que podem até virar aquecimento prévio para acertar a engrenagem de votos. O quadro macroeconômico e macropolítico permite inclusive certo grau de dissensão. A oposição local está esfacelada entre outros motivos porque simplesmente não tem plano de governo que, convenhamos, é subproduto de entendimento político.