Política

Passado e presente

DANIEL LIMA - 08/08/2007

É admirável a persistência com que o triprefeito Newton Brandão fala em voltar à cena, de olho que está no Paço Municipal de Santo André. Tão admirável quanto onírica, porque o eleitorado de Brandão envelheceu tanto quanto ele, quando não já engrossou a lista de obituários.


Os mais jovens nem sequer o conhecem, embora não faltem obras principalmente físicas, ou sobretudo físicas, que, obrigatoriamente, quem tiver senso de justiça não poderá deixar de lhe conferir autoria.


Tenho pelo triprefeito Brandão carinho típico dos mais jovens em relação a ele. Vejo-o como um bravo, um exemplo de que o passado e o presente podem ser conciliados com entusiasmo e mobilizar a própria essência da vida. Talvez Brandão não se tenha dado conta — e no fundo, no fundo, isso é ótimo sob o ponto de energia metafísica humana — de que seu tempo, pelo menos o tempo de administrador público, já passou. Talvez ele sonhe de fato em voltar ao Paço Municipal, talvez essa perspectiva embale a própria vida que desfila, sempre faceira. Ótimo que seja assim, porque não é para qualquer um chegar aos 80 anos com tamanha vitalidade.


Juro que fiquei preocupado nas últimas eleições em Santo André, em 2004, quando, candidato maior da oposição, Brandão foi literalmente sequestrado por um conjunto de partidos e por ávidos aliados de ocasião que pretendiam torná-lo mais que o vencedor viável de uma disputa com um PT então enfraquecido por série de denúncias. O que queriam de um Brandão já sem a agilidade mental e disposição física dos bons tempos era tão evidente quanto preocupante: que ele fosse espécie de El Cid, alguém sempre pronto para uma nova batalha, não interessa se estivesse vivo ou morto, porque, depois do combate vencido, todos dividiriam o butim diante de uma liderança já visivelmente cansada.


Escrevo a propósito de Newton Brandão levado pela entrevista ao Diário do Grande ABC, quando, nada surpreendente, se disse disposto a concorrer mais uma vez à Prefeitura. Brandão desfila com orgulho série de obras dos tempos em que dirigir Santo André que transbordava industrialização era doce dilema de investir até 48% do orçamento em obras ou jogar o dinheiro pela janela para mostrar à população que as burras estavam cheias.


É claro que Brandão preferiu sempre a primeira opção, porque parcimonioso sempre foi.


Disse Brandão na entrevista ao Diário que agora a Prefeitura de Santo André só aplica 2% do orçamento em obras. Na ânsia de puxar para a própria sardinha administrativa a brasa de investimentos, Brandão desnuda o quadro destes tempos em que o Estado, em todas as esferas executivas, legislativas e mesmo judiciárias, vive encalacramento paradoxal de carga tributária exorbitante e recursos financeiros escassos.


Diferentemente de outros tempos de dinheiro fácil, Santo André é o Município paulista que mais riqueza perdeu ao longo de 30 anos, conforme estou cansado de expor com dados estatísticos mais que confiáveis. Por isso ou principalmente por isso tornou-se desafio de gestão que vai além do próprio território, como os demais municípios locais menos atingidos pela evasão industrial, mas igualmente soterrados de problemas sociais de uma região cujo PIB cai permanentemente (como mostro na Reportagem de Capa deste agosto da revista LivreMercado) e de um País que não avança o suficiente.


Por essas e outras jamais terá havido por estas plagas alguém que se compare a Celso Daniel — mesmo com muito menos obras físicas. Celso Daniel descobriu o que parecia óbvio: Santo André e o Grande ABC precisam ser geridos sob a ótica integracionista com olhos e mentes no futuro, porque o passado de saudosismo e o presente de complicações exige talento estratégico.


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