Costumo resumir especulações sobre tendências eleitorais a percentuais. É uma forma de transmitir aos interlocutores avaliação apenas aparentemente peremptória. Para me proteger das travessuras do futuro, sempre alerto que os índices são do momento, sujeitos a solavancos até que as urnas eletrônicas sejam de fato disponibilizadas aos eleitores.
Afirmo também que o resultado preliminar se trata de combinação de relativo conhecimento do mercado de votos e crédito à intuição. Nenhum grau de intuição resiste ao desconhecimento. Intuição sem conhecimento é chutometria.
Pois bem: faltando mais de um ano para as eleições municipais, a confirmadíssima dupla formada por Maurício Soares e Orlando Morando está na frente de Luiz Marinho e Frank Aguiar com pelo menos 20 pontos de vantagem. Ou seja: 60% a 40%.
Diria também que a distância que separa situacionisas e oposicionistas em São Bernardo dificilmente se alargará. A possibilidade de estreitamento gradual e persistente deverá prevalecer por conta do aparato que o governo federal colocará em campo, inclusive com o Bolsa Família revigorado.
O que decidirá as eleições é a velocidade das ondas evolucionistas e contracionistas de intenção de voto. Hoje não apostaria em reviravolta, mas, como se sabe, eleição e futebol têm certa dosagem de imponderável que não convém desdenhar.
O staff de Luiz Marinho, homem escalado por Lula da Silva para reconquistar a cidadela de São Bernardo, berço petista, deve estar com os cabelos em pé. Não era exatamente essa dupla o adversário que o PT pretendia enfrentar em São Bernardo. A mensagem de renovação e inquietação com a saúde de Maurício Soares, renunciante no passado por conta de debilidade física, será praticamente neutralizada pela juventude de Orlando Morando, eventual substituto.
O lançamento oficial da dupla Maurício-Morando, antecipada aqui na semana passada, é um golpe de mestre do grupo que comanda a Prefeitura de São Bernardo há 10 anos. O prefeito William Dib é um dos mais cirúrgicos estrategistas políticos da região. Ele consegue separar fatos de intrigas com leitura sempre acurada. Há muito apostava na experiência de Maurício Soares combinada com a impetuosidade de Orlando Morando. Sabia das dificuldades de aproximação de gerações tão distintas e complexas. Deve estar radiante porque convenceu tanto o triprefeito quanto o deputado estadual que é melhor dividir doce do que individualizar fel.
Além disso, William Dib pavimenta eventual retorno ao Paço Municipal, porque sempre haverá em relação à manutenção das relações do grupo governista e aos sonhos de Morando virar prefeito a ponderação de que o deputado estadual tem muito tempo útil pela frente para esperar sua vez, já que mal passou dos 30.
A reação petista de desdenhar a fórmula encontrada pelo Paço Municipal, conforme consta do Diário do Grande ABC de hoje, faz parte do jogo de subjetividades da política. Seria espantoso se lideranças petistas avalizassem a dobradinha do Paço. Provavelmente os governistas farão publicamente pilhérias da dupla Marinho-Frank Aguiar, que se desenha para o enfrentamento de outubro do ano que vem. Dirão que lugar de cantor é no palco, mas no fundo, no fundo, sabem que há expressivas porções de votos que se derretem nos acordes do forrozeiro. Por outro lado, eventuais ataques ao sindicalista hoje ministro deverão perder força, porque Maurício Soares surgiu na mesma incubadora de democratização nem sempre pacífica de relações trabalhistas.
Luiz Marinho precisará reduzir a cada mês, a partir de agora, quase dois pontos percentuais da diferença que o separa de Maurício-Morando. Não é pouca coisa, mas também não é impossível. O jogo está jogado.
Quem está despreocupadíssimo com as próximas eleições é José Auricchio Júnior, prefeito de São Caetano. Ele tem mais de 80% dos votos válidos entre outros motivos porque a oposição morreu com Luiz Tortorello e a mala de Hamilton Lacerda.