O advogado Raimundo Salles (DEM) é o maior adversário do PT, qualquer que seja o PT no ano que vem à Prefeitura de Santo André.
Qualquer que seja o PT significa Ivete Garcia ou Vanderlei Siraque, que disputam as prévias mais concorridas dos últimos tempos. Desde a desastrosa vitória de José Cicotte diante de Antonio Carlos Granado, em 1992, o PT não se via em disputa interna tão acirrada.
Quem sai ganhando com isso, ou seja, com as idiossincrasias petistas, são os adversários. Como cada vez mais os adversários ganham a forma e o conteúdo de Raimundo Salles, parece mais que evidente que as águas vão rolar em proporções diferentes mas nem por isso cômodas para a bifurcação de votos petista e antipetista em 2008.
Salles é o favorito entre os opositores do Partido dos Trabalhadores porque tem vocação política. Falem o que quiserem, que ele eventualmente se excede numa ou noutra ação, mas nem assim conseguirão desligar a tomada do choque que já provocou nos governistas. Raimundo Salles gasta sola de sapato como Celso Daniel para vasculhar os pontos mais recônditos de Santo André. É um devorador de ruas, de avenidas, de bairros de classe média, de classe baixa, de favelas. De bares, de restaurantes, de salões de festas, de salões de cabeleireiros, de encontros de bacanas e de deserdados, quando não desdentados.
O PT, que até há algum tempo olhava para Salles com desdém, já está começando a ficar preocupado. A eleição do ano que vem não é a barbada que petistas imaginavam até outro dia, por conta principalmente dos efeitos da canonização do presidente Lula da Silva.
Tirem o cavalo da chuva porque o corte entre incluídos e excluídos não se dissipará nas próximas eleições. Esse fenômeno socioeconômico-eleitoral não se limita ao Brasil das regiões Sul e Sudeste em contraponto ao Norte/Nordeste como muitos imaginam, mas entre classe média e pobres de qualquer Município do País. Já se registrou com toda a magnitude muito antes das eleições presidenciais do ano passado. Basta conferir o mapa eleitoral de 2004 dos municípios locais e de tantos outros pontos do País. João Avamileno ganhou por escassa margem de votos de Brandão-Duílio por conta da maior quantidade de votos dos pobres. William Dib é um caso à parte. Ele deu de lavada no PT de Vicentinho Paulo da Silva em todos os quadrantes de São Bernardo.
Raimundo Salles incomoda tanto o PT que bastou ainda outro dia afirmar com tom pensadamente moralista que desativaria a zona de prostituição da região do Bairro Campestre, chaga que faz parte da natureza econômica de Santo André, para a Prefeitura reagir e anunciar, pouco tempo depois, profilática medida para a instalação de câmeras de vídeo.
Bem monitorado por pesquisas, com uma intuição política muito acima da média, determinadíssimo, frequentador das altas rodas das maiores autoridades de centro e centro-direita da política nacional, Raimundo Salles é o nome do jogo de oposição em Santo André. Vejo nessa questão algo positivo, porque a democracia é o melhor dos remédios contra a letargia.
O governo João Avamileno surpreendeu muita gente que, diante da morte do titular Celso Daniel, imaginava um Paço Municipal em chamas. João Avamileno foi suficientemente maduro para impedir guinadas ao sabor de um narcisismo que seria fatal. Mesmo assim, há de se reconhecer que existe espaço sim para o contraditório, para o contrapeso, para tudo que possa contribuir à melhoria da qualidade de vida neste que já foi o principal Município da região e que ao longo de três décadas sofreu os mais duros reveses econômicos, desabando no ranking paulista e nacional do PIB (Produto Interno Bruto). Pecaram principalmente os administradores públicos do passado farto de recursos financeiros. Eles não olharam para o futuro mais distante. Escrevo sobre isso na Reportagem de Capa de LivreMercado deste setembro.
Raimundo Salles pode até não ocupar o Paço Municipal de Santo André em janeiro de 2009, mas que botou fogo na disputa, não tenho dúvida.