Leio no CliqueABC, portal do amigo jornalista Léo Júnior, a reação do ex-prefeito de São Bernardo, Tito Costa, à análise que fiz em 2 de agosto (leia Memória Eleitoral) sobre as possibilidades de candidatura do antigo peemedebista nas eleições do ano que vem.
Jurista conceituadíssimo, Tito Costa reagiu com intolerância desaconselhável tanto nos tribunais quanto no ambiente político. Eis o que disse, conforme consta do texto de Léo Júnior:
“Acho que foi uma agressão gratuita, mas a opinião dele não me interessa” — afirmou, referindo-se ao artigo deste jornalista.
É uma pena que Tito Costa tenha interpretado como agressão gratuita o que não ultrapassa o terreno limpo, sereno, apartidário e descontaminado de qualquer substância que supere os limites da cidadania informativa.
Embora entenda que juridicamente qualquer um, absolutamente qualquer um, no gozo legítimo dos direitos constitucionais, tenha liberdade de candidatar-se a qualquer posto público, submetendo-se ao sufrágio popular, a anunciada candidatura de Tito Costa — repito o que afirmei naquele artigo — não passa de cortina de fumaça.
Também, é bom que se diga, que é um direito do ex-prefeito utilizar-se desse expediente para valorizar o passe político-partidário. Da mesma forma que, como jornalista, tenho a função de contextualizar informações que eventualmente a mídia repassa sem valor agregado.
Ou o leitor mais esclarecido e questionador não gostaria de saber, afinal, o que pretende um ex-prefeito ao lançar-se publicamente a um cargo que ocupou há mais de duas décadas e, em seguida, simplesmente submergiu ao ostracismo de uma carreira precariamente embalada, como se sabe, pelo ventre do bipartidarismo de então, quando, também como se sabe, notadamente naquela eleição que o tornou prefeito, não faltaram trocadilhos maliciosos sobre a vantagem monumental de ser oposição numa disputa plebiscitária?
É claro que não vou reproduzir o bordão entoado de forma jocosa até hoje entre os mais antigos militantes da política de São Bernardo quando se referem àquela disputa. A rima é de mau gosto e, mais que isso, desrespeitosa. Mais ainda: não faz jus ao conteúdo intelectual de Tito Costa, por mais que, como gerenciador público, tenha sido mais que discreto num período em que o dinheiro saltava pelas janelas do Paço Municipal.
Só lamento que Tito Costa tenha atribuído a este jornalista agressividade que, de fato, não há naquela nota. Imagine então se participasse da política nacional e fosse avaliado por alguns colunistas ideologicamente engajados.
Por mais qualificado que seja como articulador jurídico, com amplo domínio sobre a legislação eleitoral, Tito Costa provavelmente encontra dificuldades para compreender a legitimidade de um jornalismo que definitivamente não distribui lantejoulas de ocasião nem se presta a preparar degolas pelo simples prazer de produzir vilões.
A suposta candidatura de Tito Costa à Prefeitura de São Bernardo é um direito legítimo do proponente, mesmo se outros objetivos estiverem subjacentes na empreitada, mas convenhamos: o que fez nos últimos 20 anos o brilhante advogado para alardear interesse por um Município brutalmente violentado por políticas públicas federais e estaduais?
Que o senhor Tito Costa se apresente com apetrechos materiais que dêem sustentação à legitimidade da candidatura, condição ética que sobrepõe-se largamente à legalidade constitucional.
Lamento que ele não tenha entendido a diferença entre jurista e político. Recorreria a seus préstimos se candidato fosse a qualquer cargo e me visse necessitado de seus conhecimentos. Só não posso dizer o mesmo para o candidato que diz ser à Prefeitura de São Bernardo respaldado por resíduos de memória eleitoral que, como bolha de sabão, se desfaz diante do movimento dos ares de competição dos concorrentes de verdade.