A demissão do secretário de Governo de Santo André anunciada segunda-feira pelo prefeito João Avamileno não se esgota nos rabos de arraia e nas rasteiras verbais dos dias subsequentes. Muita água está rolando sob a ponte do surpreendente ato político do até então conciliador e cordato sucessor de Celso Daniel.
O calendário pré-eleitoral que definirá a candidatura do PT ao Paço Municipal no ano que vem e que prevê disputa interna em 11 de novembro será assediado permanentemente nos bastidores e, também, publicamente.
O jogo está encardido. Terá mais emoções que a tentativa do Corinthians de fugir do rebaixamento. Pelo menos para os petistas de carteirinha que aporão votos naquele pleito preliminar.
Concorde-se ou não com a constatação, o fato é que João Avamileno deixou de lado as vestes da discrição administrativa e tornou a demissão de Mário Maurici um ato político, de demonstração de força, levado que foi de roldão pela propagação de intrigas quanto às supostas limitações de poderes que teriam sido usurpados pelo então secretário de Governo.
Como se sabe, Maurici é marido de Ivete Garcia, secretária municipal e candidata à vaga petista às eleições municipais. Como se sabe também, João Avamileno anunciou apoio ao deputado estadual Vanderlei Siraque, que, não por coincidência, tem o suporte de assessoria política de Fabrício Avamileno, filho do prefeito.
É absolutamente verdadeira a versão de que Mário Maurici ofereceu a João Avamileno a contrapartida de desaceleração do estresse inescapável da demissão que lhe foi comunicada. Sugeriu Maurici a troca da demissão por 30 dias de férias que, coincidentemente, abrangeriam com sobras o período das prévias petistas.
Maurici se afastaria, esperaria de camarote o desfecho das preliminares petistas e, em seguida, resultado consumado, provavelmente seria mantido no cargo se Ivete Garcia vencesse ou seria afastado de vez em caso de vitória de Siraque.
João Avamileno respondeu não à proposta. Contrariando o histórico de líder metalúrgico e de relações políticas, João Avamileno descartou a negociação.
Há mobilizações de correligionários e adversários petistas de João Avamileno por conta dos desdobramentos da crise. O ambiente eleitoral envolve o Paço Municipal. O secretariado todo favorável a Ivete Garcia, uma das marcas do tecnicismo gerencial legado por Celso Daniel, procura se ajeitar na saia justa do mal-estar respirado com dificuldades em cada corredor, em cada gabinete. O Paço Municipal está em transe. Depois do fogaréu provocado pela radicalidade de João Avamileno, os rescaldos são incômodos.
Dentro e fora do Paço Municipal há mobilizações discretas e nem tanto para definir os rumos que determinarão o que prevalecerá no futuro próximo: a correção decisória de João Avamileno, supostamente subjugado pela máquina deixada por Celso Daniel, ou a incapacidade gerencial de João Avamileno, supostamente doutrinado por familiares e pelo deputado Vanderlei Siraque.
Que imagem, afinal, vai sobrepor-se às demais? O que mais interessa aos combatentes num primeiro instante é conquistar mentes e corações dos militantes com direito a voto em 11 de novembro. Depois se discutiria até que ponto os escombros petistas seriam metabolizados para a massa da população de Santo André.