Ao colocar à analise e à decisão de cada um dos conselheiros editoriais a sorte de uma reportagem-denúncia de assédio sexual que envolve um candidato a prefeito de um dos municípios do Grande ABC, a revista LivreMercado chega ao que chamaria de extremo da democratização da informação.
Ou alguém tem dúvidas sobre os interesses que movem a melhor publicação regional do País ao colocar o destino da matéria nas mãos de quase duas centenas e meia de gente qualificadíssima que ocupa os mais diferentes postos corporativos governamentais, não-governamentais, empresariais e sociais?
Certamente não faltará na praça quem abomine esse tipo de iniciativa, porque reza a maledicência especializada que determinadas informações valem muito mais quando não divulgadas.
Provavelmente, provavelmente, esteja este jornalista estragando a festa de atravessadores que se lambuzam com malandragens por conta de fundilhos imundos de protagonistas do jogo político.
É possível que não faltarão tentativas de bastidores visando desqualificar a reportagem-denúncia proposta à avaliação dos conselheiros.
Entretanto, como ninguém assumiria publicamente a burrice de vestir a carapuça, a ação terá de ser discreta, inteligente ao extremo para enganar o distinto público. E, possivelmente, não passará de idiotice juramentada. Há certas situações que não têm conserto, porque avariadas estão.
O Conselho Editorial de LivreMercado é instância suprema nessa questão. O que for decidido, estará decidido.
Não assumiria isoladamente a responsabilidade da publicação ou do engavetamento da reportagem. Cheguei a pensar diferentemente na medida em que se aproximava o prazo de fechamento editorial da edição que já está sendo distribuída.
Me consumi na dúvida de publicar ou não publicar. Não tenho por que esconder essa indecisão aos leitores.
O assunto é candente, diz respeito à governabilidade de um dos municípios da região já que o candidato ou pré-candidato em questão pode sim tornar-se prefeito, porque não há concorrente descartável numa disputa, por mais que as pesquisas teimem em apontar este ou aquele como favorito.
O descartado de hoje é o titular de uma Prefeitura amanhã. Não faltam histórias na política nacional de concorrentes que não passavam de traço nas primeiras pesquisas e depois deram sprint surpreendente e arrebataram o troféu de eleitos.
Fernando Collor de Mello, protegidíssimo pelos jornalões e pela Globo, é um exemplo clássico.
Não quero com isso comparar um caso e outro, mas é impossível não alinhá-los pelo menos para estabelecer linha de raciocínio que permita entendimento mais pragmático com os leitores.
Aliás, o protagonista do caso de assédio sexual afirma textualmente no watergate regional que a saia justa o envolve apenas porque é político. Ingenuamente ou não ele não entende as regras do jogo do mundo dos votos e do poder. Muito menos das relações sociais. O que pode passar em brancas nuvens para os comuns dos mortais, torna-se nitroglicerina pura quando o protagonista carrega indumentárias partidárias.
A repercussão da proposta de LivreMercado junto ao Conselho Editorial é mais que comprobatória do nível de comprometimento com os destinos da região.
O número de respostas está aceleradamente em evolução.
Acredito que quando se chegar ao dia 18, último prazo para manifestação, pelo menos 90% dos conselheiros terão decidido a questão.
E isso é ótimo porque, em síntese, teremos uma definição irretocável para algo que pesou sobremodo na decisão deste jornalista em adiar a matéria: o público e o privado são corpos distintos quando se trata de um agente público ou devem ser considerados irrefreavelmente complementares?
Sim, porque essa é a única dúvida com relação ao caso, já que disponho de apetrechos materiais e testemunhais que derrubam qualquer tentativa de desclassificação da denúncia, como alguns tentaram nas últimas horas.
Caso, por exemplo, de uma conselheira de LivreMercado que, inadvertidamente, quebrou o código de confidencialidade e transmitiu para o amigo Leo Júnior, comandante do site CliqueABC, cópia do e-mail encaminhado à direção da revista, posicionando-se publicamente sobre o assunto. Trata-se de escorregão do qual tratarei na próxima semana. A argumentação da conselheira em questão não está colocada à apreciação deste jornalista, porque a opinião é livre. Por mais que eventualmente seja desprovida de substância e recheadíssima de incorreções, porque confunde este jornalista com abutres que só agem por conveniência própria ou corporativa.